terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Azeite!


Na sequência do evento que durante o fim de semana passado decorreu em Aldeia Viçosa - a maior lagarada do mundo (quiçá mesmo de Portugal, diria eu...) - ouvi hoje o Presidente da Câmara nos microfones da Rádio Altitude dizer que lhe parece uma boa ideia promover um produto de qualidade - o azeite do vale do Mondego - e que faria todo o sentido pensar-se num "Centro de Interpretação do Azeite", para ajudar na tal promoção.

Depois de ouvir as palavras do Autarca, de as digerir, e de tentar perceber o seu alcance, pensei: um dos dois tem demasiado "azeite"!
Existe algum produto que possa ser denominado "Azeite do Vale do Mondego"? Existe algum produtor ou engarrafador com quantidades suficientes para fazer uma abordagem séria ao mercado na promoção desse produto? Tanto quanto sei, ambas as perguntas têm resposta negativa.
Portanto, a não ser para gastar mais em "betão", não estou a ver para que servirá o tal Centro de Interpretação, ou a subjacente estratégia de promoção do produto.
O azeite do vale do Mondego é efetivamente um produto de qualidade, que todos os Guardenses conhecem e valorizam convenientemente. Devemos adoptá-lo nos nossos padrões de consumo, por diversos motivos: é um produto de boa qualidade, da nossa região, com benefícios para a saúde. A Câmara pode perfeitamente fazer o mesmo nas suas Cantinas: privilegiar os produtos regionais nas suas aquisições e nas ementas disponibilizadas.
Quanto ao betão, Sr. Presidente, veja onde ele nos levou...

sábado, 28 de janeiro de 2012

Crónica Diária - Rádio Altitude

Continuando a reposição: crónica de 28 de Dezembro de 2011:

"Enquanto esperamos que as brasas do Madeiro de Natal arrefeçam, aproveitamos os últimos dias de 2011 para passar em revista o que de mais relevante aconteceu ao longo do ano, numa espécie de Balanço de Fim de Ciclo que arrume no sótão o que ao ano velho diz respeito e nos liberte para iniciarmos o novo ano com a esperança de que seja melhor que o anterior. Este foi ano que se iniciou com más notícias; a que se seguiram outras piores; depois, mais do mesmo para terminar com as péssimas. Ou seja um ano para esquecer, mas que poucos jamais esquecerão. Durante o primeiro trimestre, a dúvida sobre se iríamos ou não ter de recorrer à ajuda externa; no segundo trimestre, que Governo escolher para a República; no terceiro, o que passaria a ser diferente com o Governo escolhido; e no quarto, quão mau seria o ano de 2012. Chegados agora ao fim do ano, conhecendo as respostas a todas estas dúvidas, confesso que o desânimo é grande! Tivemos de nos sujeitar a pedir ajuda internacional, sujeitar-nos a eleições quando tínhamos um Governo com menos de um ano em funções, o novo Governo não mostrou qualquer rasgo de pensamento estratégico coerente que nos leve a acreditar que as coisas serão radicalmente diferentes daqui para a frente e, por último, percebemos todos que, com o Orçamento de Estado para 2012, o próximo será um ano cheio de dificuldades, muito mais do que as do ano que agora termina. Haveria forma de contornar as dificuldades sem austeridade? Não creio! Mas o sentimento que fica é que as dificuldades são distribuídas de forma desigual por todos os portugueses e que vão ficar de fora do grupo dos sacrificados as vacas sagradas do regime, ou seja, aqueles que dispõem de meios financeiros avultados, ainda que não realizem qualquer investimento, limitando-se ao jogo especulativo que foi uma das origens da crise financeira que atravessamos. Na Guarda, o ano foi também globalmente mau. É certo que, no meio das dificuldades, foi havendo uma ou outra boa notícia. Não podemos deixar de destacar a abertura de mais um centro escolar no início do ano lectivo, a juntar aos já existentes, bem como uma escola secundária requalificada, e que faz da Guarda uma cidade onde o parque escolar tem qualidade e responde, globalmente, às necessidades da população. Das escolas que conheço, todas estão bem apetrechadas e oferecem aos alunos boas condições, do ponto de vista dos equipamentos, para a aprendizagem. Também a construção do novo edifício do Hospital decorreu a bom ritmo durante praticamente todo o ano, embora não tenha sido concluído na data inicialmente prevista. Sabe-se que existem dificuldades de tesouraria para a sua conclusão, mas quero acreditar que brevemente a obra será concluída, e que o Hospital não passará também para o lado das más notícias. Onde já temos as dificuldades de tesouraria da Câmara, que as contagiou a algumas Juntas de Freguesia que vivem atualmente graves carências, a recente introdução de portagens nas A23 e A25 ou mesmo as notícias que fomos conhecendo sobre o fecho de várias empresas. Não posso deixar de destacar um tema a que recorrentemente venho aludindo: mais um ano termina, sem que o Parque Industrial tenha sofrido qualquer vestígio de manutenção: pavimento, passeios, sinalização, regulamento de uso dos espaços públicos, tudo continua na mesma. Mesmo intervenções com custo marginal, a Câmara optou por não as realizar. Não por estratégia, mas por falta dela, pelo menos na minha opinião. Contribuindo para uma degradação da imagem da cidade, cuja marca é precisamente a ausência de qualquer ideia sobre que imagem dar de nós. E tratando como um bando de maus munícipes aqueles que questionam, se importam e têm espírito crítico, ao invés de comerem e calarem. Ainda assim, está nas mãos de todos fazer com que os maus tempos que se avizinhem venham a valer a pena, a médio prazo. É com esta esperança que me despeço deste ano, e dos ouvintes do Altitude, desejando a todos um ano novo com Paz, esperança e amizade – valores que por enquanto ainda estão ao nosso alcance."

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Rui Costa


Apesar de ter sido amplamente noticiada, nos meios de comunicação nacional e regional, a distinção do cientista Rui Costa, natural da Guarda, com o prémio Howard Hughes (nos Estados Unidos), não podia deixar passar o fato sem o mencionar aqui no blogue.

Parabéns aos premiados - eles representam a excelência nos seus campos de especialização - mas muito particularmente ao Rui Costa, nosso conterrâneo e meu amigo. Continuem a fazer avançar o conhecimento!

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Feriados

Ouvi hoje nos noticiários o Álvaro comunicar ao País que o Governo decidiu acabar com 2 feriados civis: o de dia 5 de Outubro - implantação da República - e o de 1 de Dezembro - restauração da independência. 
Ouvi depois as opiniões de vários comentadores da praça, mas há uma que gostaria de destacar por coincidir com  a minha: a de Irene Pimentel (historiadora, professora e autora). Diz ela que não se compreende que se acabe com 2 feriados que celebram fatos fundadores da identidade do país, que definem quem somos, para manter alguns feriados religiosos, num país cujo Estado se define como laico.
De facto, muitos dos feriados religiosos não têm hoje, para a maior parte das pessoas, qualquer significado para além do facto de ser um dia passado sem trabalhar. Existem obviamente alguns que ainda representam importantes festas de família, como o Natal ou a Páscoa; mas os restantes...
Por isso esta "partilha" de feriados acordada com a Igreja tem pouca razão de ser e prejudicará a nossa memória coletiva. Se era realmente necessário abolir alguns feriados, mal andou o Governo com a solução que encontrou!

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Crónica Diária - Rádio Altitude

Continuando a reposição, a crónica em 14 de Dezembro foi: 

"Temos vivido, ao longo deste ano, a ouvir falar de uma crise mais grave que as outras que temos vivido. Uma crise que começou nos países periféricos, passou a afectar toda a Europa e ameaça actualmente quase todo o mundo; não só o mundo ocidental, democrático e capitalista, mas também aqueles países que, apesar de ideologicamente marginais, acabaram por de alguma forma ter de se adaptar à pulsão capitalista que hoje é omnipresente. Uma crise quase bíblica, porque para além das suas proporções globais, nos vem castigar pelos nossos pecados de consumidores descontrolados. E uma crise bíblica que, sendo um castigo que merecemos, é a desculpa perfeita para os cortes de direitos e aumentos de impostos a que temos assistido. E que nos têm sido impostos como as únicas soluções possíveis no momento para sairmos da crise. Só que, olhando para o que se passa um pouco por todo o mundo, não podemos deixar de estranhar que países com hábitos e sistemas tão diferentes como Portugal, Irlanda, Argentina ou Paquistão estejam hoje entre os que têm maior risco de incumprimento internacional Creio, portanto, que os cortes salariais e de direitos, bem como os sucessivos aumentos de impostos – a tal solução única – resultam apenas de falta de capacidade para encontrar as soluções realmente estruturais para as nossas fragilidades enquanto economia aberta. Uma falta de capacidade que não é exclusiva deste Governo, obviamente, mas que nele tem continuação. E que assenta em 3 grandes mitos, que se vão repetindo de boca em boca, como aquelas mentiras que tanto serem repetidas acabam por se tornar verdades… O 1º mito é o de que vivemos acima das nossas possibilidades; e é falso, na medida em que é o Estado, principalmente pela via do desperdício, quem mais destrói valor no nosso país, em negócios ruinosos como os estádios do Euro ou as SCUT; não discuto obviamente a utilidade dos equipamentos, mas antes a forma de financiamento encontrada, que deixa o Estado à mercê de uma série de predadores que à boca grande enaltecem as virtudes do sector privado e à boca pequena vivem pendurados em negócios com o Estado. Com a carga de impostos que os portugueses já pagavam antes dos recentes agravamentos dever-se-ia ter gasto mais criteriosamente e, agora que chegou a factura, são os do costume que vão ter de a pagar… O 2º mito é o da falta de produtividade dos trabalhadores; outra incoerência, na medida em que sabemos que a diáspora portuguesa é reconhecida pela sua capacidade de trabalho nas comunidades onde está inserida; e que as multinacionais que se instalam em Portugal não reconhecem qualquer fraqueza à nossa mão-de-obra, quando comparada com a de países economicamente mais fortes que nós, nomeadamente Alemanha e França. Por quê? Por que o que trazem para Portugal são métodos de planeamento e execução de tarefas que os trabalhadores aplicam com o mesmo empenho e profissionalismo que os seus congéneres dos países que citei. O que falha é pois a cultura empresarial, que se permite o esbanjamento de recursos com base nos baixos salários praticados em Portugal; e tem falhado também o estímulo a maior eficiência nas organizações. Assistimos por outro lado a enormes fossos na retribuição de patrões e empregados, não se separando rendimentos do trabalho de rendimentos de capital, misturando-os muitas vezes como se a caixa da empresa fosse a carteira do empresário… Por fim, o mito de que os funcionários públicos vivem rodeados de privilégios. E aqui, metem-se no mesmo saco todos aqueles que, directa ou indirectamente trabalham para o Estado. Que, sendo muitos, têm situações muito distintas… Algumas que deviam até envergonhar quer governantes quer as chefias que delas se servem para manter o seu poderzinho. É certo que o estado já foi um empregador aliciante. Hoje, só o será em alguns – poucos – sectores ou regiões do país, como é o caso da Guarda, onde o aparelho produtivo é ainda escasso. Mas desenganem-se aqueles que pensam que hoje um emprego no sector público é garantidamente bom. Além de desmotivante por estar sempre na linha da frente dos cortes de direitos, começa a carregar um anátema que desmobiliza os melhores e mais empenhados. E um Estado sem trabalhadores de qualidade é um Estado que cada vez gastará mais para produzir menos, num ciclo a que é difícil escapar… E que redundará em novas crises no futuro."

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Ainda a maternidade

Apesar de ainda há poucos dias ter escrito sobre o tema, e de entretanto não ter mudado de opinião, resolvi hoje voltar a ele.
De acordo com a imprensa local, a Administração da ULS iniciou na semana passada uma campanha pela manutenção da maternidade na Guarda. São boas notícias, porque para mim reconhecer que existe um problema é meio caminho feito para o poder resolver.
Mas como não há bela sem senão, quem haviam de convidar para a iniciativa? O Bispo da Diocese da Guarda, pois então! Quem melhor para ajuizar sobre a maternidade? E que melhor do que debitar meia dúzia de lugares-comuns, tipo "a qualidade dos serviços" para de uma penada descredibilizar a sua participação na campanha? 
Volto a insistir naquilo que disse o meu post anterior: falem com as mulheres; com as que cá tiveram os seus filhos e com aquelas que optaram por não os cá ter. Elas melhor do que ninguém sabem o que é bom e o que é mau na maternidade. 
A este propósito, na próxima terça-feira, dia 24 de Janeiro pelas 21.30, a Rádio Altitude dinamizará um debate, no café concerto do TMG, sobre a Maternidade da Guarda. Apesar de já ter um compromisso para essa noite, vou fazer os possíveis para por lá passar.
Penso que a Maternidade da Guarda só tem um caminho: a diferenciação. Tem de fazer diferente. Tem de fazer melhor. Por ela própria, pelos seus profissionais, e por todos nós, habitantes da Guarda.


PS: referi-me acima às mulheres que cá tiveram os seus filhos e às que optaram por os cá não ter; há ainda uma 3ª categoria: aquelas que, não tendo cá tido os seus filhos, o fizeram porque foram encaminhadas para outros Hospitais pelo Hospital da Guarda. Francamente, ainda gostava de saber quantas foram nos últimos anos, porque dessas não tenho ouvido falar...

Foto retirada do site do Jornal O Interior (www.ointerior.pt)

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Bando de Portugal

De acordo com as últimas notícias que ouvi, a administração do Banco de Portugal decidiu pagar - e pagou - o subsídio de férias, seguindo a prática do setor bancário de o pagar junto com o vencimento de Janeiro.
Não é uma decisão que me surpreenda. Devo até dizer que, se tivesse voto na matéria, teria tomado exatamente a mesma decisão.
Porque uma coisa é todos descontarem; foi o que aconteceu com os Subsídios de Natal de 2011, em que não houve grandes hipóteses de contornar a obrigação.
Outra, completamente distinta, é fazer descontar só alguns; obviamente, nesta situação, todos querem estar do lado dos que não descontam. E obviamente só o fará quem não tiver mesmo outra hipótese. Se os trabalhadores de empresas privadas não têm qualquer desconto; se até os administradores de empresas públicas (como por exemplo a Caixa Geral de Depósitos) têm um regime especial que lhes permite não ter qualquer desconto; por que carga de água alguém não há-de também querer pôr-se de fora...?
Diz a sabedoria popular que "quando todos pagam, nada é caro..."; e o problema é que atualmente, são apenas alguns a pagar...

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Crónica Diária - Rádio Altitude

Continuando as reposições, dia 30 de Novembro foi assim:

"Nos próximos dias, muitos de nós realizarão uma fantasia: viajar no tempo! Com a introdução de portagens nas auto-estradas A23 e A25 e com a redução do rendimento disponível das famílias que tem marcado a actuação do actual Governo, pela via da nacionalização de uma parte crescente dos rendimentos do trabalho, muitos de nós passaremos a deslocar-nos de forma idêntica àquela em que o fazíamos há cerca de 30 anos: por estradas nacionais, passando pelo centro de todas as pequenas localidades e a velocidades médias incompatíveis com as necessidades actuais. Tudo isto contribuirá, na minha opinião, para o afastamento do interior das regiões mais desenvolvidas, quer em termos de condições de vida, quer de ambiente propício para negócios, quer mesmo no sentido físico do termo. Por isso, fiquei um pouco perdido ao ter tomado conhecimento do apelo do Sr. Presidente da República para a criação de incentivos à fixação de populações nas zonas rurais, no mesmo dia em que promulgou o Decreto-Lei que determina a introdução de portagens nas auto-estradas do interior. Mesmo estando já habituados a estes anacronismos de Cavaco Silva, fico sem perceber se são acidentais ou propositados. Apesar de o Presidente da República dispor dos meios para ter uma palavra a dizer em questões como esta – nomeadamente o veto político – optou por não o usar neste caso concreto. De resto, numa atitude mais do que previsível, como as restantes que têm marcado o seu mandato. E mostrando que, com Cavaco Silva, a Presidência da República se fica por um verbo de encher, com um actor que fala, fala, mas ninguém o vê a fazer nada! Esta medida em particular será o maior e mais irresponsável ataque do poder central ao interior menos desenvolvido de um Portugal que será cada vez mais assimétrico, perante o olhar complacente mesmo daqueles que elegemos para representar os nossos interesses. A austeridade será pois, de igual forma, assimétrica, por atingir cegamente regiões com índices de poder de compra muito distintos. E esta cegueira conduzirá, em minha opinião, a uma situação pior que a que vivemos hoje, porque não serão feitas algumas correcções que se impõem. Isso mesmo avisou Joseph Stiglitz na semana passada ao povo espanhol, numa conferência em La Coruña. O nobel e ex administrador do Banco Mundial, referindo-se às políticas de austeridade que instituições internacionais como a União Europeia e o FMI têm imposto àqueles a quem prestam auxílio, disse claramente que a austeridade é a receita para o suicídio. Que sem estímulos ao investimento e à criação de emprego, pela via da fiscalidade, e ajustamentos à despesa, as recessões demorarão muitos anos a ser ultrapassadas, massacrando os povos a ela sujeitos. Sabendo que em qualquer situação, os estímulos ao investimento e à criação de emprego têm conduzido a situaçoes favoráveis do ponto de vista do dinamismo das economias – veja-se o exemplo das economias dos países do Norte da Europa, que o souberam fazer melhor do que ninguém pela flexibilidade que a sua escala lhes permite – essa deveria também ser uma receita aplicada entre nós. Alguns membros do Governo têm ainda um capital de credibilidade bastante elevado, entre os quais o Ministro das Finanças. Por isso, tenho alguma esperança que este possa vir a ser um caminho que iniciemos, apesar de os sinais de que dispomos até agora nos indicarem o contrário De qualquer das formas, alguns de nós continuarão teimosamente a viver no interior, a tentar pelos meios ao seu alcance que as desigualdades se atenuem. Uns porque gostam da sua terra, outros porque gostam da vida que lhes é proporcionada. Por tudo isto, nós que vivemos no interior, esperávamos mais dos nossos políticos; que pelo menos percebessem que um interior mais competitivo contribuirá para um país mais forte economicamente. E que um interior por eles afastado, afastar-se-á também na direcção oposta, tal como já fez anteriormente em contextos de grande dificuldade. Lembram-se dos contrabandistas…?"

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Alamedas

A mais recente inovação na requalificação das artérias do centro da cidade é torná-las em algo que chamaria "alamedas com trânsito". Assim numa espécie de ruas largas, que convidem a um passeio ao fim da tarde, mas onde circula trânsito automóvel. Exemplos: a Avenida dos Bombeiros Voluntários Egitanienses e, recentemente, a R. Dr. Lopo de Carvalho.
Percebo que, mais no caso desta última, o acesso por pessoas com mobilidade condicionada ou com um simples carrinho de bebé era complicado na sua anterior configuração. Mas a solução agora posta em prática não é muito melhor. Passo lá diariamente e confesso que sinto muita insegurança por não estar delimitado o espaço que devem ocupar os peões e aquele de que dispõem os carros. E entre estes 2, todos sabemos qual o elo mais fraco. Basta que alguém pare à porta de uma loja, para logo aproveitarem toda a largura da rua, que não tendo qualquer barreira física é aproveitável pelos veículos. E, se é verdade que o civismo manda que haja muita atenção quando se cruzam no mesmo espaço peões e veículos automóveis, se houver um atropelamento naquela artéria não sei como se vai apurar se foi o carro a invadir o espaço dos peões ou o peão a invadir o espaço dos carros. Um atropelamento será sempre um atropelamento, mas existem obviamente diferentes graus de culpa em distintos casos...
Na minha opinião, o ideal seria que aquela rua passasse a ter apenas trânsito num dos sentidos. O que causaria obviamente imensos transtornos para o acesso ao lado da cidade nas zonas da Dorna, R. 31 de Janeiro, etc., que com o fecho do trânsito na Rua do Comércio ficaram assim "separadas" do centro da cidade. Uma solução de sentido único na R. Dr. Lopo de Carvalho só agravaria esses problemas, que já levaram a que, em termos comerciais, tudo quanto existia daquele lado da cidade tenha definhado e alguns mesmo desaparecido.
Talvez esteja na hora de procurar uma solução de acesso àquele lado da cidade; se a autarquia tivesse capacidade financeira, o ideal seria um túnel; mas todos sabemos que não tem, pelo que, nos próximos tempos, essa solução estará fora de questão. Existirão outras...? Eu aposto que sim!

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Regras


Uma das preocupações que tenho na educação dos meus filhos é a de não criar regras a que eu não me sujeite também. Sou da opinião de que é mais fácil criar regras do que segui-las, e por isso cumpri-las legitima o seu estabelecimento.
Acompanhei a odisseia da família deportada pelo Canadá para Portugal por falta de visto de residência naquele País. E percebo o enorme drama que deve ser, na vida de alguém, ter de emigrar para um País que não é o seu, ter de adotar uma língua que não é a sua, observar costumes estranhos, uma vez que seja. Só que aquele nosso compatriota, que já se havia sujeitado a tudo isso uma vez, recomeçando a sua vida na América, viu-se agora forçado de novo a passar por esse sacrifício, juntamente com a sua família. Lamento que a vida traga tantas dificuldades para pessoas que apenas querem seguir em frente.
Mas também é um facto que o Canadá, como nação soberana que é, tem regras, na emigração como noutras questões.
Por isso não compreendo a cobertura que foi dada por alguma comunicação social de crítica à posição do Canadá; e compreendo ainda menos a posição do Governo Português, que pediu "um acto de clemência" para com aquela família.
Se ninguém discute que a regra existe; se ninguém discute que, tecnicamente, a decisão de expulsão do país foi bem tomada, onde é que se pretende chegar? Não perceberão os nossos políticos que é o seu péssimo hábito de tentar furtar-se ao cumprimento das regras que eles próprios criam uma das coisas que mais os descredibiliza?
Em Portugal, para todas as regras, achamos sempre que se "pode dar o jeito", ou seja, contornar as regras. Achamos bem que os outros tenham de as cumprir, mas achamos também que temos um bom motivo para que elas não se nos apliquem. E o Canadá acaba de nos dar um belo exemplo daquilo para que servem as regras: para se cumprirem!

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Quem dá aos pobres...


Coloco sempre reticências quando vejo alguém alardear a caridade que diz fazer. E foi exactamente com essas reticências que encarei a divulgação de mais uma iniciativa da Câmara: a de "distribuir diariamente os excedentes das refeições de três refeitórios municipais por famílias carenciadas do concelho." (Fonte: Expresso Online).
Parece-me uma iniciativa adequada, mas mal comunicada. Porque se refere à doação de "sobras"; porque mistura na mesma frase "excedentes" com "lixo"; e finalmente porque evidencia à saciedade que esta ação não é integrada num plano ou numa estratégia de combate à pobreza, mas antes resulta de uma inspiração do momento; sim, porque não é de agora que existem "sobras", nem "famílias carenciadas", para usar os termos da responsável pela comunicação desta proposta...
Por último, se é certo que "quem dá aos pobres, empresta a Deus", também não é menos certo que a verdadeira generosidade consiste em dividir aquilo que temos, não em dar aquilo que não queremos...

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Crónica Diária - Rádio Altitude

Já devo aqui ao blogue algumas crónicas que li aos microfones da Rádio Altitude, que teve uma vez mais a amabilidade de me renovar o convite para quinzenalmente estar naquele espaço de intervenção cívica.
Aqui fica a primeira da temporada; as outras, seguem dentro de momentos...

"Vivemos dias agitados. O vento forte que se tem feito sentir deixa-nos apreensivos. Coloca-nos questões. Coloca-nos perante os nossos medos.
Não me refiro ao estado do tempo, no sentido meteorológico. Refiro-me ao verdadeiro furacão que têm sido as notícias dos últimos meses.
Aquilo que ainda há um ano nos parecia pessimismo, é hoje a realidade; e o pessimismo de hoje mostra-nos algo com que nem sequer ousámos alguma vez sonhar!
É pois o tempo de tomarmos atitudes colectivas: de percebermos onde o individualismo e a falta de um projecto comum nos vão conduzir: a sermos marionetas nas mãos de um conjunto de agiotas sem rosto que tudo podem e tudo fazem a coberto do livre funcionamento dos mercados.
Começa a ser preocupante assistir, como temos assistido na Grécia e, mais recentemente, em Itália, a nomeações de Governos que não resultam directamente da vontade expressa dos povos. Como se a Democracia também pudesse ser posta em stand-by para “acalmar os mercados” – um expressão que pretende representar um objectivo que tudo justifica.
Mas há algo que essas entidades sabem e que as assusta: a força que representam os cidadãos quando unidos em torno de um objectivo comum. Por isso os diversos agentes políticos tudo têm feito para dividir as pessoas: os professores e os outros; os juízes e os outros; ou os funcionários públicos e os outros. Deixando sempre de fora alguns que ficam assim numa lógica de contrapeso a medidas duras e que, com o seu silêncio legitimam as injustiças que se cometem por incapacidade de tomar as medidas verdadeiramente estratégicas e cujos efeitos a prazo permitiriam corrigir muitos dos desequilíbrios que hoje nos afligem.
Como já havia aqui referido em crónica anterior, como podemos contar com solidariedade europeia se nem à escala do nosso (pequeno) país podemos contar com essa solidariedade? Veja-se o exemplo da Câmara de Barcelos, cujo Presidente anunciou há semanas que era sua intenção proceder ao pagamento de Subsídios de Férias e Natal em 2012 porque a sua Câmara tinha folga orçamental para tal. Sem a noção de que a Câmara de Barcelos não é a sua quinta, onde põe e dispõe; sem a elevação de perceber que essa suposta folga orçamental poderia ajudar no momento difícil que atravessamos. Que país é este onde uns quantos insistem em manter privilégios, mesmo que olhando para o lado se vejam dificuldades aflitivas? Se os mais desfavorecidos não podem contar com o emprenho de Barcelos, deverão confiar no empenho de Bruxelas?
Esta união em torno do objectivo comum de mantermos a nossa autonomia política é exigente em termos de cidadania. Mais do que nunca, é preciso estar atento ao que nos rodeia, reflectir sobre ele e conhecer a história e as lições que ela nos transmite.
Em momentos de aflição, os povos que depositaram a sua confiança em líderes messiânicos, em salvadores omniscientes, acabaram por dar os piores passos, porque confiaram inteiramente neles e deixaram de confiar em si próprios. E por muito iluminadas que sejam algumas consciências, não podem substituir, em nenhum momento, um conjunto alargado de consciências com diversas vivências, tendências e pontos de vista que são afinal aquilo que caracteriza a diversidade da pessoa humana e um dos pilares sobre os quais assenta a Democracia: o de que a minha opinião de Homem simples tem o mesmo valor que a opinião de qualquer Homem que se considere ou mesmo seja por outros considerado um iluminado.
Mantenhamo-nos pois atentos e sem medo de exprimir as nossas opiniões, pois só elas poderão distinguir os fortes dos fracos. E num momento difícil como o que atravessamos, Portugal – que somos nós todos – precisa muito dos fortes para seguir em frente."


Crónica de 16 de Novembro de 2011

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Maternidade


Hoje, a maternidade da Guarda esteve de novo na ordem do dia. Porque o ambiente é de desconfiança em relação ao seu futuro, que decorrerá da nova carta hospitalar que se espera que brevemente seja apresentada pelo Ministério da Saúde; e porque nesta altura existe sempre alguma curiosidade relativamente ao "bebé do ano" - como convencionou chamar-se ao primeiro bebé nascido na maternidade em cada novo ano.
Ouvi mesmo na rádio a Directora do Serviço de Obstetrícia referir-se à maternidade, às suas instalações, à equipa, ao número de partos, etc. Sobre as instalações, não podia estar mais de acordo com ela: estão longe de ser as ideais, mas como o Hospital vive uma fase de transição para novas instalações - que faço votos que ocorra em breve - esse é um aspecto que deverá ficar resolvido. Quanto à equipa, já não estou tão de acordo com ela...
Tenho da Maternidade do Hospital da Guarda uma ideia diferente da maioria das pessoas. É óbvio que quero que a Guarda tenha uma Maternidade. Que as mulheres da Guarda possam ter filhos na sua terra. Essa é uma questão de saúde, de identidade até! Mas não quero a Maternidade que temos actualmente; quero a Maternidade a que temos direito: com instalações adequadas; com uma equipa profissional; com um serviço que realmente valha aquilo que custa. Porque o meu óbice relativamente à Maternidade da Guarda é este: é demasiado cara para aquilo que oferece. Pelas instalações de que dispõe, desde as enfermarias às casas-de-banho, tudo é desadequado aos objectivos que serve. Mas também a equipa: não basta serem simpáticos; não precisam sequer ser demasiado afetuosos; basta que sejam muito profissionais. E se alguns o são, isso não faz com que a equipa o seja!
Alguém já se preocupou em perceber por que é que há mulheres que vão ter os seus filhos a outro Hospitais, mesmo aqui ao lado? Não me refiro a ter uma vaga ideia do caso A ou B; refiro-me a falar com as pessoas - ou um grupo significativo delas - e realmente estudar o assunto. Desde a última vez em que se falou do fim da Maternidade e a população saiu à rua para exigir - e bem! - a sua manutenção, alguma coisa mudou nas práticas, na dinâmica da equipa, etc.? Daquilo que conheço, não. E é pena...
É certo que a Guarda precisa e quer a sua Maternidade. Mas também os profissionais que lá trabalham têm a responsabilidade de contribuir para a melhoria do serviço e captar assim cada vez mais parturientes - da Guarda, e até das zonas limítrofes. De as envolver e fazê-las participar de um grande momento. Estou convencido que o futuro da Maternidade da Guarda passa por aí. O futuro ou a sua ausência...


domingo, 1 de janeiro de 2012

Bom Ano

Desejo a todos os que continuam a passar por aqui um Bom Ano de 2012. Que pelo menos, quando ele terminar, possamos olhar para trás e perceber que valeram a pena os sacrifícios. Como se diz por cá, "a ver vamos...".
Actualizações seguem dentro de momentos.