sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Abono de Família


Ficámos por estes dias a saber que brevemente, para poder beneficiar do Abono de Família, o pretenso beneficiário terá de permitir à Segurança Social que esta cruze os seus dados - que já não são tão poucos como isso - com os das Finanças e que lhe aceda às contas bancárias.

Tudo por causa do limite de pouco mais de 100.000 Euros de património mobiliário que é imposto pelas regras de atribuição do Abono de Família aos respectivos beneficiários.

Pela minha parte, esta foi (mais) uma desagradável surpresa de um Governo que tem dito que é necessário estimular a poupança dos portugueses; e que tem dado bastas provas de não respeitar a intimidade dos seus cidadãos.

Por um lado, o limite é absurdo nos dias de hoje, senão vejamos: se eu por exemplo receber uma herança de 150.000 Euros, pegar no dinheiro e comprar um carro de 70.000 Euros e guardar o resto, tenho direito ao abono de família; se puser o dinheiro numa conta de poupança para garantir aos meus filhos que, independentemente do que me possa acontecer, terão meios para prosseguir (enquanto quiserem) os seus estudos, já não tenho direito ao abono de família. Isto tudo independentemente dos meus restantes rendimentos. Nem todos concordarão comigo, mas eu acho mal. Acho que ninguém é rico com 100.000 Euros; e o que vai invariavelmente suceder é que, das poucas pessoas que têm património mobiliário superior a 100.000 Euros, só uma minoria vai ser ser afectada pela medida; porque quem tem dinheiro a sério, como todos sabemos, facilmente escapa a este controlo. São aliás os próprios bancos especializados na gestão de fortunas que propõem aos seus clientes os instrumentos necessários...

Por outro lado, repugna-me sempre a devassa da vida provada das pessoas. Porque sei que não há qualquer controlo sobre o que se vasculha na vida de quem.

Sei que se houver fundadas suspeitas sobre o meu património, pode ser pedido a um juiz que decrete o levantamento do sigilo bancário das minhas contas; mas aí há uma entidade fiscalizadora e foi avaliada a pertinência do acesso aos meus dados pessoais.

No caso vertente, a Segurança Social - e em nome dela milhares de funcionários - fica autorizada a aceder aos meus dados bancários.

E se já no passado tomei conhecimento que uma funcionária pouco escrupulosa "vasculhou" alguns dos meus dados que a Segurança Social deveria preservar e os divulgou a terceiros, não posso senão ficar preocupado com as possibilidades que agora se abrem...

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Filmes

Li recentemente que os 2 filmes portugueses deste ano com mais público foram "Um Funeral à Chuva" e "A Bela e o Papparazo". Com o segundo a ter aproximadamente 10 vezes mais espectadores que o primeiro.
Do primeiro, assisti à estreia no cinema, no início de Junho se a memória não me falha. Apesar das limitações de um filme feito sem qualquer apoio público, que se reflectem essencialmente na pós-produção, gostei do argumento. A ideia de um reencontro de colegas de Universidade, 10 anos depois de terem terminado os cursos, para o funeral de um deles, apesar de já vista noutros filmes bem conhecidos, foi aqui "refrescada" com as idiosincrasias do nosso Portugal. E, confesso, apesar de se tratar de um funeral, o filme arrancou-me umas valentes gargalhadas. Em suma, gostei imenso e vou rever em DVD quando tiver oportunidade.
Ontem tive finalmente a oportunidade de ver "A Bela e o Papparazo"; apesar dos actores de nomeada (Soraia Chaves, Virgílio Castelo, Ivo Canelas, Nuno Markl), de um produtor conhecido e de um subsídio público de 700,000 Euros, o filme foi uma completa desilusão! Diálogos sem graça, uma história feita de lugares-comuns, sem qualquer ponta de surpresa ou empolgamento. A única surpresa foi o habitual non-sense de Nuno Markl, igual a si próprio, mas que tanto poderia ter sido metido neste filme como noutro qualquer, já que a sua personagem é perfeitamente desligada do enredo. Tratando-se de António-Pedro Vasconcelos, esperava mais...
Na presença de um filme de um filme que me surpreendeu pela positiva e outro pela negativa, constato ainda que o primeiro foi realizado recorrendo exclusivamente a meios próprios, ao passo que o segundo teve apoios públicos; e que ao primeiro, apesar de não ter tido nenhum apoio, foi descontado do valor das receitas da bilheteira - que serviria para cobrir os custos que a empresa realizadora teve com a produção - uma contribuição para o ICA, de que beneficiou o segundo...
Serei o único a achar isto injusto? A ter pena que "Um Funeral à Chuva" não tenha podido investir mais na promoção?
Se puderem ver "Um funeral à chuva" aproveitem...

De regresso... tudo (quase) na mesma!

Depois de ter gozado umas breves férias, onde aproveitei para uma desintoxicação de todo o tipo de notícias, eis-me regressado.
Após ter passado os olhos pelo jornais - regionais e nacionais, constato que quase tudo está na mesma. Também, em tão pouco tempo, outra coisa não seria de esperar. Provando-se que 1 semanita não é nada... porque nada acontece numa semana.
Do que li, todavia, 3 assuntos merecem algumas breves palavras:
1) a nossa Câmara passou de promotora a meio de difusão; de facto, deixou de fazer para anunciar o que os outros fazem; eu sei que a situação financeira não permite fazer o que todos gostavam, mas atirar-nos um cartaz extensíssimo, de difícil leitura, cheio de eventos promovidos por outros para mostrar serviço é uma tentativa (fraquinha...) de atirar areia para os olhos dos munícipes; era bem escusado!
2) o Sr. Hernani Lopes, que gosta sempre de dar umas receitas musculadas para resolver os problemas da Nação, entrevistado por um jornal nacional, apresentou mais uma das suas receitas milagrosas: reduzir os salários dos funcionários públicos em 10, 15, 20 ou mesmo 30%; talvez, 15%, mas melhor seria 20%; assim, com este rigor todo! Mais: sem negociação, sem explicar nada a ninguém. A falta de vergonha já chegou a este ponto. Mas eu, como não quero ficar atrás do Sr. Lopes, tenho também uma receita: mudar, sem aviso e sem qualquer negociação ou explicação, as regras das pensões de reforma, passando a ser tido em conta em todos os casos, passados e futuros, apenas a carreira contributiva de cada cidadão. Uma medida justa, dirão alguns que, como eu, será por estas regras que terão (???) calculada a sua pensão de reforma. Mas sempre gostava de ver a cara do Sr. Lopes, reformado aos 47 anos, quando recebesse o primeiro cheque com a sua reforma calculada pelas novas regras...
3) por último, uma notícia que me encheu de satisfação: Rui Costa, natural da Guarda, viu publicado na "Nature" um trabalho em que participou na qualidade de investigador. Para quem não sabe, publicar na "Nature" está para as as ciências como ser contratado pelo Real Madrid está para o futebol: é o mais alto a que se pode aspirar. E o Rui conseguiu-o. Alguns dirão, como já ouvi, que devia ser homenageado pela cidade que o viu nascer. Aqui discordo. A grande distinção que poderia ter, já a teve, por parte dos seus pares. Essa é a maior distinção a que um cientista sério aspira e eu, conhecendo o Rui, tenho a certeza que essa é a que realmente lhe importa. Mais do que ter o seu nome numa sala de assembleia! Embora, na minha opinião, o mereça mais do que outros que nunca por cá vi a jantar, a tomar café, a visitar a família, como tenho visto o Rui. E que quando vêm, seja em trabalho ou para ser homenageado, vêm com a viagem paga por todos nós! Nem essa despesa cá fazem...