terça-feira, 22 de setembro de 2009

Onde pára o Canil...?


As coisas têm andado relativamente sossegadas por cá; deve ser de estarmos na fase final da campanha eleitoral para as legislativas: diz respeito a toda a gente, o País atravessa um momento delicado, e o Governo que sair das eleições do próximo Domingo terá uma tarefa complicada, quer para fazer Portugal sair definitivamente da crise, quer para continuar as reformas necessárias para que o estado seja mais eficiente - e o País mais competitivo.

Mas nas últimas semanas tem vindo a público um caso com contornos curiosos: a reestruturação do Canil Municipal.

Desde há cerca de 3 anos (mais ou menos), o Canil conheceu uma dinâmica muito interessante: de mero serviço municipal que se limita a cumprir "os mínimos", ou seja, a sua missão de recolha de animais abandonados ou doentes, na maior parte das vezes para serem abatidos (a palavra geralmente usada é occisão), passou a ser um serviço com uma componente educativa, ambiental e de respeito pela vida animal exemplar. Foi criada uma página numa rede social onde disponibilizadava muita informação sobre o canil (regras, localização, etc.), mas também apelos, com fotos, de animais que ao invés de ser abatidos poderiam muito bem ser adoptados.

Pelo que sei, enquanto tal página esteve online, foram muitos os casos de sucesso.

Retirando alguns casos de comentários desadequados (nalguns casos a raiar o mal-educados), aquela página representava um óptimo trabalho em prol dos animais e no fomento de uma cultura ambientalmente responsável. Só que, como muitas vezes nestas coisas, tudo isto era fruto de um enorme voluntarismo - neste caso, de uma única pessoa. Falei com essa pessoa 2 ou 3 vezes e, francamente, não fiquei com qualquer simpatia por ela. O que não me impede de reconhecer o bom trabalho que vinha desenvolvendo. Embora a necessitar de alguma "netiquette", o princípio era bom.

Só que, há algumas semanas, algo deve ter ocorrido: a Câmara decidiu fazer com que a referida página deixasse de ser representativa do Canil, passando a ter uma página própria, num processo a que chamou de reestruturação.

Entretanto, essa página já viu a luz do dia. E só apetece perguntar como Ricardo Araújo Pereira e Manuela Ferreira Leite: "Mas que brincadeira vem a ser esta?".

O responsável pela mudança, certamente, nada entende de comunicação sobre canais web! Arrisco mesmo dizer que nunca viu a anterior página nem a dinâmica que ela tinha! E que isto só pode ser para desviar atenções no momento particular que vivemos... Trata-se de uma página estática, com 4 fotos (pequenas), sem qualquer informação complementar sobre os animais. Quase anedótico, não fora o facto de estas manobras terem repercussões ... na suas vidas. Circulam alguns emails sobre este assunto, o Sr. Presidente da Câmara já fez algumas declarações aos jornalistas, mas de concreto, apenas vejo que se deitou por terra um bom trabalho, sem qualquer intenção de o manter, quanto mais de o melhorar! Triste, muito triste.
Já se sabe que é sempre mais fácil destruir que construir; mas que há nesta história muita incompetência, mesquinhez e interesses pouco claros, disso não tenho dúvida.

Deixo o desafio: se descobrirem a página do Canil Municipal, digam o que vos parece.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

QREN - Mitos e Factos


Esta tem a sido a campanha eleitoral das PME. Não há candidato, apoiante ou simples militante que não tenha uma proposta, que não queira saber, que não critique, a política de apoio às PME. Parece que os nossos políticos se lembraram agora que mais de 90% das empresas em Portugal são PME e que, destas, uma grande maioria são micro-empresas, ou seja, votos!

À boleia das PME, também muito se tem falado do QREN, das suas verbas, do seu nível de execução, etc.

Como é uma área que conheço relativamente bem - trabalho com ela diariamente - resolvi desfazer alguns mitos sobre o assunto.

Assim, começo por dizer que em matéria de apoio público ás PME, existem enormes restrições comunitárias: Direcção-Geral da Concorrência e Direcção-Geral da Empresa, entre outras instância, produzem imensos regulamentos, normas, etc. que, para salvaguardar condições de concorrência e tratamento igual no espaço comum na União Europeia, limitam a intervenção dos diferentes estados-membro no que toca a políticas públicas de apoio às PME.

No que toca ao QREN, a principal crítica que tem sido feita diz respeito ao baixo nível de execução; todavia, convém não perder de vista que mais de 80% das verbas do QREN estão destinadas à modernização administrativa, e à construção de infra-estruturas. Destas últimas, existem 2, que também têm sido muito comentadas, que absorvem a fatia principal: Rede Ferroviária de Alta Velocidade (que tem sido chamada de TGV) e o Novo Aeroporto de Lisboa.

Daqui resulta que, se as obras forem realmente suspensas, o nível de execução final do QREN será baixíssimo; se, por outro lado, estas verbas e respectivos prazos para aplicação forem renegociadas, as coisas podem melhorar substancialmente. Mas o facto é que qualquer delas ainda não passou da fase de estudos, pelo que nesta altura o nível de execução do QREN não poderia ser senão muito baixo!

No que à parte do QREN que é injectada nas PME, sob a forma de sistemas de incentivos a investimentos produtivos, em factores de competitividade ou à Investigação e Desenvolvimento, bem como na criação de ambientes mais favoráveis para os negócios, a aplicação das verbas tem estado a ser feita de acordo com o previsto. E o nível de execução está dentro daquilo que estava programado. De resto, já na segunda metade do anterior Quadro Comunitário de Apoio (QCA III, o equivalente ao QREN que vigorou ente 2000 e 2007) foi esta boa programação e aplicação de verbas que permitiu que Portugal visse reforçadas as suas verbas através daquilo que outros Estados-Membros não conseguiram aplicar, a chamada regra N+2.

Mas para as empresas, não interessam níveis de execução nem a programação das verbas: interessa-lhes contar com os apoios e que estes cheguem em tempo útil. E neste campo, quem está nas empresas, percebe que as coisas evoluiram imenso: se durante o período de vigência do QCA III (2000-2007) foram apresentados menos de 20.000 projectos de investimento, nos 2 anos de vigência do QREN são já mais de 8.000 os projectos apresentados, isto apesar de os critérios de selecção serem exigentes e as tipologias de investimento apoiadas se centrarem mais em factores dinâmicos de competitividade do que em investimentos produtivos. Isto revela o enorme progresso que ocorreu no tecido empresarial. Mas há mais: se no anterior Quadro Comunitário, a aprovação de uma candidatura demorava mais de 6 meses, no actual não chega a 3; nunca, como hoje, foi possível um empresário apresentar um pedido de pagamento e passadas 2 semanas ter o dinheiro na sua conta; nunca, como hoje, teve tantas facilidades no relacionamento com a Administração Pública, nomeadamente recorrendo aos Portais Web.

As coisas podiam ser melhores? Claro que sim. Há sempre margem para fazer melhor, para ser mais eficiente. Mas eu, que trabalho há mais de 10 anos no apoio a empresas, tenho de reconhecer que têm sido feitos enomes progressos, reconhecidos de resto ao nível das instâncias comunitárias e das consultoras internacionais. Há talvez uma área que tenha ainda de evoluir substancialmente, com impacto relevante no ambiente para os negócios: o licenciamento. Aqui, Câmaras, Ministério da Economia e demais entidades intervenientes devem fazer um esforço no sentido de aligeirar procedimentos e definir claramente procedimentos e requisitos para o licenciamento das unidades de produção, para que ele não seja quase um jogo da "cabra-cega"...

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Greve... já!


O direito à Greve é uma forma de os trabalhadores mostrarem aos seus empregadores que algo está muito mal. Pessoalmente, como alguém que vive do seu trabalho e que por isso tem por ele um enorme respeito, sinto-me confortável por existir este recurso, que no entanto só usaria em casos realmente importantes, justificadamente graves.
Por isso me custa a compreender uma notícia que hoje ouvi de manhã: até às eleições legislativas estão, para já, marcadas 8 Greves. O que esperam estes profissionais obter de um Governo que estará em funções mais 3 ou 4 semanas? Que tome agora as decisões que em 4 anos não tomou? Ou que mude agora de opinião sobre determinada reinvindicação, quando nos 4 anos anteriores não teve essa sensibilidade?
Não julgando os méritos ou deméritos dos objectivos establecidos para estas Greves, parece-me francamente que se trata mais de um caso de interferência eleitoral - ou motivos eleitoralistas - do que propriamente de manifestar desagrado, saindo à rua. Tanto mais que os sindicatos em Portugal continuam, na minha opinião, demasiado politizados.
Estamos na fase final de um ciclo, com outro a iniciar-se muito brevemente; faça-se dos 4 anos de Governo o Balanço que há a fazer, que será diferente para cada um de nós, e vote-se de acordo quer com esse balanço quer com as propostas que nos são feitas pelos candidatos. Agora greves, nesta altura, parecem-me uma falta de respeito pelas regras democráticas e uma falta de respeito quer pelos anseios - legítimos ou não - dos profissionais, quer pelo direito à greve em si mesmo.

domingo, 13 de setembro de 2009

Livros - "O rastro do jaguar"


Da autoria de Murilo Carvalho, jornalista brasileiro, é uma estória feita de estórias belíssimas.
Apesar de a beleza por vezes emergir do horror que sempre existe em cenários de guerra. Ainda assim, ancorado na busca da identidade de um Homem que sabe que é mais do que aquilo que conhece de si, é uma narrativa que prende desde o primeiro capítulo. A escrita, embora por vezes algo densa, beneficia imenso do "calor" transmitido pelo autor.
O livro encerra ainda uma perspectiva histórica importante - as guerras pela independência na América do Sul em finais do séc. XIX - que para mim era praticamente desconhecida, apesar de nalguns pontos de cruzar com a nossa própria história.
Para temperar todos estes ingredientes, a mística associada aos povos nativos que foram dizimados por sucessivas ondas de ocupação dos seus territórios.
Apesar de exigir algum tempo para a sua leitura (são quase 600 páginas), que ainda por cima não pode (ou pelo menos não deve) ser apressada, vale bem a pena o tempo dispendido ou, se quisermos, o tempo que passaremos na sua companhia.

Foi ao lado...


Judite de Sousa, em entrevista ao Expresso, diz que acha que Sócrates "emprenha pelos ouvidos", recorrendo a uma expressão popular para caracterizar aqueles que acreditam em tudo o que lhes dizem, sem procurar validar essa informação.
Só que, apesar da boa intenção, a senhora errou o tiro: a expressão é "emprenha pelas orelhas". E nestas coisas do emprenhar, a precisão faz toda a diferença...

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Ciência e Auto-Estima


Iniciou-se hoje o "4th Asian Congress on Autoimmunity" em Singapura, um dos maiores eventos mundiais da especialidade.

Enquanto passava os olhos pelo Programa Científico, resolvi fazer uma busca para saber quantos dos trabalhos a apresentar iriam de Portugal. Descobri que são 6, todos da autoria da mesma equipa e serão apresentados amanhã. Apesar de não estar mencionado no programa, trata-se de uma equipa formada por investigadores da ULS da Guarda, a propósito da qual já aqui tinha deixado um Post.

Tudo isto para dizer que amanhã, durante as apresentações, a Guarda será a face visível de Portugal para muitos especialistas em Imunologia, nomeadamente orientais. E que em momentos como este a nossa auto-estima se eleva e sentimos que a nossa cidade tem um imenso potencial que por vezes não é valorizado, que são aqueles que cá vivem e que diariamente dão o seu melhor ao trabalho que desenvolvem.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Livros - "A Ninfa Inconstante"


Um livrinho pequeno, quase "de bolso", que resolvi ler durante as férias passadas. Escrito por um Cubano - Guillermo Cabrera Infante - conta-nos uma história de amor (ou será de paixão?), na calma que geralmente antecede as tempestades violentas, neste caso a revolução.

É uma história feita de muitas histórias, apesar da sua simplicidade.

Claro que uma história de amor latina, num país com a riqueza cultural que tem Cuba, tem todos os ingredientes para ser bela.

Sobre a escrita, uma palavra: cativante! Mas fiquei com a nítida sensação que o livro perde (e muito!) com a tradução. Algumas passagens só fazem mesmo sentido se as traduzirmos para Castelhano enquanto lemos; apesar de um trabalho esforçado do tradutor e das notas que junta, ainda assim perde-se informação. Tanto que, logo que possa, vou comprar uma versão original e relê-lo...

O Crime! (ou gente com os nervos em franja)


Parece que a IKEA - gigante multinacional do mobiliário low-cost - mudou o tipo de letra da sua insígnia. Nada de especial, se considerarmos que a empresa tem mais de 60 anos e que é relativamente comum nos dias de hoje as empresas procederem a "refrescamentos" da sua imagem.

Mas eis que, neste caso, alguns clientes da marca deram pela "marosca" e não gostaram! E vai daí, têm protestado pelos meios à sua disposição.

Eu confesso que podia olhar 1000 vezes para a nova insígnia e não daria por nada. Mas pelos vistos há consumidores que levam o lettering das marcas que consomem muito a sério. Talvez até, um nadinha demais...

Podem ficar com uma ideia melhor do sucedido aqui.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Foguetório


Não vai ainda longe o tempo em que a vida cultural de um grande número de aldeias por todo o País consistia em 1 ou 2 festas anuais. Nestas ocasiões, quebrava-se a rotina do resto do ano - que consistia apenas em trabalho, de sol a sol, e um ou outro bailarico na tasca ao sábado à tarde - e toda a gente participava na festa. Durante os dias em que esta(s) durava(m), o povo reunia a família e amigos, cozinhavam-se iguarias, dançava-se, bebia-se. Para depois regressar á rotina.

Mas isto era há anos atrás. E, como referi, principalmente em meios mais pequenos, onde o défice de acctividades culturais dava a estas manifestações uma enorme importância para quem as vivia.

Hoje, apesar de ainda existirem festejos deste tipo um pouco por todo o país, já não têm nem a importância nem a afluência de outros tempos.

Por isso me custa um bocado perceber que se façam festejos com este figurino na Guarda: acontece no Bairro de São Domingos, na Póvoa do Mileu e no Bairro da Senhora dos Remédios (estes pelo menos são os que me lembro). Podem representar muito para quem lá vai, mas francamente acho pobre, nos dias de hoje, numa cidade com a oferta cultural como tem a Guarda, que se faça uma festa que consiste essencialmente em música, carne assada e bebidas em copos de plástico.

Porém, como só lá vai quem quer, até era suposto este ser um Post sobre um assunto que não me diz respeito! Do tipo: "Não gostas, não vais, que também não fazes lá falta nenhuma, seu pés-de-chumbo!!!". Não fora um pequeno - grande!!! - pormenor: o foguetório.

Confesso que sábado deitei-me um bocado tarde. E que gosto de me levantar lá pelas 10 ao Domingo, dormir até um pouco mais tarde. Este é de resto um prazer que invoco quando me convidam para um passeio de BTT, que geralmente são aos Domingos de manhã. E neste Domingo, acordado pelo foguetório, fui privado do meu pequeno prazer, o que me chateou um bocado. Mais ainda quando não encontro qualquer motivo para esse incómodo: era assim tão difícil fazer uma festa sem foguetes? Era assim uma mudança tão grande?

É que se nas festas das aldeias de há uns anos, como disse, eram dias em que toda a gente participava, o mesmo não acontece em nenhuma destas festas que citei: o número de pessoas da Guarda que lá vão é baixíssimo. Por que é que todos temos de levar com o barulho do foguetório logo pela manhã? E não tinha sido proibido, durante a época de fogos florestais, o uso de foguetes?

Francamente, acho muito bem que as pessoas façam as suas festas e que quem quer se vá lá divertir, se isso as satisfaz. Mas gostava que se começasse a abandonar esta coisa dos foguetes, que não tem utilidade nenhuma a não ser fazer barulho, privando alguns do descanso a que têm direito, assustando todo o tipo de animais (domésticos e selvagens) e pondo (desnecessariamente) em perigo a floresta.

Por isso, a lei que obriga a licenciar este tipo de actividade - refiro-me ao lançamento de foguetes - deve ser entendida como uma excepção à regra; e a regra deve ser respeitar as pessoas e o seu direito a usufuir do ambiente.