sábado, 14 de julho de 2012

Crónica Diária - Rádio Altitude

Em 16 de Maio:


Vou ouvindo, aqui e ali, avisos de quem diz que sabe. 
Que a situação pode explodir a qualquer momento. Que isto está como uma panela de pressão, que de um momento para o outro, se não libertar algum vapor, acabará por explodir. Que o povo começa a dar sinais de não aguentar muito mais. 
Mas não é isso que vejo. Vejo as pessoas com quem falo resignadas, encolhendo os ombros às injustiças de que se dizem vítimas. Olhando para o lado quando do que se fala é das injustiças de que outros são vítimas, tentando passar incólume. Vejo medo na forma de encarar as agressões sucessivas a que todos nos vemos sujeitos: carga fiscal elevada, discricionariedade das finanças na tributação, sem qualquer respeito pelos direitos do cidadãos, justiça incapaz de proteger aqueles que mais precisam. Um Estado que é hoje um pesadelo e das malhas do qual tentamos escapar antes que nos sufoque. 
Os últimos dias têm-nos mostrado que as pessoas querem realmente uma mudança, sem saberem muito bem que mudança é essa. As eleições na Grécia e na França, salvas as devidas proporções, são exemplo disso mesmo. Vê-se nos resultados que as pessoas querem uma mudança. Não só dos atores, mas das escolhas políticas. E vemos que os próprios partidos começam a revelar-se incapazes de dar às pessoas aquilo que elas procuram, aquilo que anseiam. A crise económica estará a conduzir-nos a uma crise democrática? Talvez. Está pelo menos a levar muita gente a interrogar-se se a Democracia, tal como a conhecemos, tal como evoluiu, será capaz de aguentar muitos mais anos… 
 Como forma de Governação, é sem dúvida o melhor sistema que conheço. A representatividade das pessoas, um homem um voto, é ainda aquela que oferece maiores garantias de defesa aos mais fracos. Mas as organizações que estão na base da Democracia – os Partidos – têm sido geridos quase como domínios feudais. Temos assistido incrédulos às mais inacreditáveis manobras para assaltos ao poder dentro dessas organizações. 
E quando os Partidos saem desacreditados, essa imagem transmite-se a todos os que dão a cara por ele, estejam ou não no “mesmo saco”, se me permitem a expressão. Compreensivelmente, existe hoje um conjunto de pessoas cujos valores começam a ser incompatíveis com a imagem que os Partidos dão de si, o que leva ao seu afastamento. Perdendo-se assim pessoas que, pela sua forma de estar, muito podem contribuir para a vida pública, para a renovação dos partidos e para uma mudança decisiva na imagem que os cidadão têm deles. 
Este fenómeno cria um ciclo vicioso que perturba o normal funcionamento da democracia. Enfraquecendo-a.  
O meu desejo, nestes tempos de dificuldades, é que aquilo que aflige as pessoas não lhes tolde a visão e as afaste daquilo que é verdadeiramente importante defender: a dignidade da pessoa humana, acima de todos os interesses. Qualquer que seja a pessoa. 
A história ensina-nos que em épocas difíceis, de cisões sociais, grandes grupos foram capazes de defender o indefensável, de praticar o impensável. 
Tenho a esperança que todos consigamos reunir a coragem – física, mas essencialmente intelectual – para resistir aos apelos mais fáceis e populistas e o discernimento de exigir que sejam preservados os valores sobre os quais se funda a nossa sociedade: o respeito pela pessoa, a solidariedade e o contributo de todos para o bem estar geral. 
 A resposta a estas exigências só pode ser um fortalecimento da Democracia!

terça-feira, 26 de junho de 2012

Notas

A tourada lá acabou por se realizar, apesar dos protestos.
No sábado, junto à hora do almoço, ouvi num noticiário da Rádio Altitude uma peça sobre o assunto.
A jornalista falou do evento, mencionou os protestos de associações de defesa dos animais - referindo serem essencialmente nas redes sociais, o que não é inteiramente verdade uma vez que houve outras iniciativas - ouviu o diretor da Agência de Promoção da Guarda e até um historiador local, acerca da existência nos anos 20 do século passado de uma praça de touros na Guarda, para justificar aquilo que alguns chamam tradição. Da parte das tais associações de defesa dos animais, não ouvi uma palavra.
Relativamente àquilo que disse o responsável pela Agência de Promoção da Guarda, apenas algumas notas, para encerrar este (triste) assunto:
1. tentar meter no mesmo saco uma tourada, um evento automóvel ou um evento desportivo é absolutamente desprovido de qualquer sentido; há quem não goste? Admito que sim; mas quantos protestos recebeu quando organizou o evento automóvel? E o jogo de futebol? E a tourada? Decerto este será um bom indicador da diferença colossal que separa este último dos 2 primeiros. Porque mesmo que não goste de futebol - e não gosto - sei que, para além de haver muita gente a gostar, não me compadeço da bola e dos chutos que ela leva; nem das extremas solicitações mecânicas a que é sujeito um carro de rallie; já de um animal acossado, sem hipótese de fuga e que definitivamente não quer estar ali...
2. não lhe compete decidir quem pode ou não protestar; quem protesta está no seu direito, independentemente da ligeireza com que o Sr. António Saraiva avalia a sua capacidade; conheço gente que tem cães em apartamentos que todos os dias, religiosamente, quer neve quer faça sol, leva os cães à rua mais que uma vez para o necessário exercício; como conheço gente que mora em espaçosas vivendas com bons jardins que tem o cão preso pelo pescoço o dia inteiro; portanto o tamanho da casa do autor de um protesto não é, por si só, um bom indicador da qualidade de vida do(s) animal(ais) que escolheu;
3. Dizer que se não fossem as touradas as raças de touros bravos já se teriam extinto é, para além de cópia da cartilha dos lobbies pró-taurinos, um rude golpe naquilo que a comunidade de biólogos dá por adquirido;  Darwin - que por acaso é o nome do cão da minha família - abriria a boca de espanto ao ouvi-lo...

Crónica Diária - Rádio Altitude

A crónica de 2 de Maio:


"Celebrou-se ontem mais um dia do trabalhador. A acreditar nos inquéritos das estações de televisão – que de inquérito, na verdadeira aceção do termo pouco têm – este é um feriado que cada vez tem menos significado para os portugueses. A minha geração, que atualmente representa uma parte muito significativa da força de trabalho disponível no país, entrou no mercado de trabalho quando praticamente tudo estava feito. O descanso semanal, 22 ou mais dias de férias pagas, feriados, pagamentos por horas extraordinárias, horários de trabalho legalmente limitados ou subsídios de férias e de natal são exemplos de benefícios que encontrámos e que julgámos estarem sempre assegurados. Apesar de já não sermos da geração que encarava o emprego como algo definitivo, “para a vida”, como se dizia há muitos anos atrás, achávamos que essa incerteza podia ser contornada, uma vez que vivemos um longo período de crescimento económico e em que havia trabalho para quase todos. Mas um dia percebemos que as coisas não são exatamente assim. E que os benefícios, que alguns conquistaram com longas lutas, manifestações, greves e muita diplomacia afinal poderão não estar assegurados no futuro. Das teorias clássicas da economia, capital e trabalho eram os 2 fatores de produção indispensáveis à produção de riqueza e os motores das lutas de classes que se travaram desde sempre. O Capital – fosse ele a terra, matérias primas ou, mais recentemente, o dinheiro – teve sempre a primazia sobre o trabalho porque estava concentrado nas mão de muito poucos; o trabalho, por outro lado, estava muito disperso, assim dispersando o poder que dele poderia advir. E esse poder só foi concentrado por forma a poder tratar de igual para igual o poder que advinha da posse do capital por ação de gente que lutou para mobilizar os trabalhadores; de gente que se dedicou ao sindicalismo, abdicando muitas vezes do conforto da indiferença e da sua própria segurança pessoal para lutar por uma causa de muitos. Assim foram feitas as grandes conquistas em matéria de proteção dos trabalhadores. Basta recordarmos que há pouco mais de 50 anos férias, descanso no fim de semana ou horários de trabalho eram conceitos ignorados pela maior parte dos trabalhadores. Depois de um período em que todos gozámos os frutos dessas conquistas, vem outro em que tudo é posto em causa. E os sinais que vamos recebendo são preocupantes: o fator trabalho tem sido – pelo menos no nosso país- fortemente desvalorizado, em detrimento do fator capital. E isto ocorre numa época em que todos estamos adormecidos pelo doce perfume dos privilégios que sempre conhecemos. Veja, a título de exemplo, que o Estado cortou os pagamentos pelo trabalho aos seus trabalhadores, mas não cortou os pagamentos por capital aos seus financiadores. Ou seja, mais uma vez a história repete-se: o capital encontra-se concentrado nas mãos de poucos e tem o rosto mais oculto do que nunca, com os grandes fundos globais de investimento a serem o rosto invisível de um poder que tudo pretende submeter à lógica da rentabilidade. E o trabalho está de novo disperso, porque as pessoas afastaram-se das organizações que tradicionalmente os representavam nesta luta – os sindicatos, com grande culpa destes, que não tiveram a capacidade de se adaptar às novas realidades dos tempos que vivemos. Porque o facto de a história se repetir não quer dizer que tal ocorra em contextos exatamente iguais, e os sindicatos não tiveram a lucidez de perceber as diferenças e de se recolocarem no tabuleiro de jogo por forma a tirar partido das novas condições. Exemplos disso mesmo foram as comemorações promovidas para este dia: fórmulas repetidas anos a fio, com a previsibilidade e a rotina a liquidar à partida qualquer hipótese de fazer chegar aos destinatários uma mensagem mobilizadora. Espero que o dia que ontem se celebrou possa ter feito alguns refletir sobre o caminho que as coisas estão a levar. Alguns que possam servir de inspiração para mobilizar aqueles a quem a revolta começa a incomodar seriamente para uma tomada de posição clara face à situação que se vive. Para, quem sabe, novas formas de encarar a defesa do trabalho face às agressões do capital…"

terça-feira, 12 de junho de 2012

Workshop “Vamos falar de sexualidade”

A Associação de Pais do Agrupamento de Escolas da Área Urbana da Guarda organiza na próxima quarta feira um workshop sobre o tema “Vamos falar de sexualidade”, em colaboração com a Escola Superior de Saúde do Instituto Politécnico da Guarda. Trata-se de um workshop destinado aos pais dos alunos do agrupamento para debater temáticas ligadas à sexualidade juvenil. A inscrição pode ser feita por neste email. Mais informações aquiSerá às 18.00H do dia 13 de Junho na Biblioteca da Escola de Santa Clara.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Concorrência

1. Em 2 praças da Guarda estão instalados ecrâs gigantes de video para as pessoas assistirem aos jogos do Europeu de Futebol; em ambos há esplanadas de bares; num caso foi um bar que pagou a instalação; no outro, foi a autarquia; acham que ambos concorrem em idênticas condições?

2. em 2 ginásios da Guarda o nº de clientes tem baixado devido à subida do IVA e ao agravamento das condições de vida que todos experimentamos; num deles, os gerentes têm de manter os pagamentos a fornecedores, fazer promoções e mesmo baixar o preço das mensalidades para poder subsistir; noutro, o preço consegue ser mais baixo que no primeiro, mas é explorado pela autarquia; acham que ambos concorrem em idênticas condições?

Se há áreas em que o investimento público é fundamental para assegurar o acesso a determinados serviços que não são financeiramente sustentáveis - o TMG é disso um claro exemplo e uma aposta da Câmara à qual reconheço um enorme mérito; outro será o complexo de Piscinas Municipais - outras há em que o investimento público desvirtua o mercado e faz concorrência desleal aos operadores privados. 
Por isso, é importante que se revejam os critérios exploração de atividades económicas por parte da Câmara.

domingo, 10 de junho de 2012

Crónica Diária - Rádio Altitude

Crónica de 18 de Abril:


"Na semana passada, a Câmara da Guarda resolveu reunir o Conselho Municipal de Educação. Trata-se de um órgão relativamente desconhecido, que ninguém parece saber quando foi reunido a última vez, variando as opiniões entre 2005 e 2006 – isto num órgão cujo regimento em vigor determina que reúna ordinariamente no início e fim do ano escolar! É órgão presidido pela Câmara da Guarda na figura do seu presidente, tratando-se de um órgão consultivo da Câmara em matéria de educação, cujas resoluções não são vinculativas e onde estão representados os diversos tipos de instituições envolvidos em matérias de educação – desde professores a assistentes operacionais, IPSSs, forças de segurança, Pais, etc. 
Os motivos principais da reunião foram 2: o encerramento de mais escolas do 1º ciclo na Concelho e a reorganização dos agrupamentos de escolas do Concelho. No que toca às escolas do 1º ciclo, de novo nos surgem algumas cujo nº de alunos é inferior a 22 (para a soma dos 4 anos), razão de se equacionar o seu encerramento. Embora ele vá, nalguns casos, sendo adiado, é muitas vezes quase inevitável. É difícil defender-se uma escola na plena aceção da palavra com um nº de alunos tão baixo; e com tendência a baixar ainda mais. E se é difícil de explicar por aqui, mais difícil ainda é perceber esta realidade num gabinete em Lisboa, rodeado de milhões de pessoas num raio de 10 ou 15 km. Ouvi há tempos, da boca de um Presidente de Junta do Concelho da Guarda, algo que define plenamente a tragédia que assola as nossas aldeias: dizia este Presidente de Junta que ele e outros colegas se defrontam com o encerramento das escolas das suas aldeias, ao mesmo tempo que com a necessidade de alargar os cemitérios. Dando uma imagem perfeita de para onde caminha o interior. Primeiro as localidades mais pequenas, a que se irão seguindo outras um pouco maior, até restar apenas um aglomerado macrocéfalo que poderá um dia ser a capital de um país completamente deserto, que a sua força centrífuga criou, de tanto puxar as energias – e os cidadãos – para o seu centro. Felizmente vão, aqui e ali, surgindo alguns movimentos que contrariam esta tendência predadora relativamente ao interior. 
O segundo assunto tratou da intenção do Governo de agrupar ou reagrupar escolas, criando escolas maiores. Para dar um exemplo, na Guarda poderão agrupar-se escolas de cerca de 1400 e 800 alunos, ficando no seu lugar uma nova escola com 2200 alunos. Pessoalmente, tenho as maiores reticências face a estes agrupamentos. Percebo bem a necessidade de mais eficiência na gestão de recursos e na logística, da existência de uma plataforma partilhada de equipamentos e procedimentos; mas parece-me que faria sentido equacionar soluções de unificação de back-office das escolas em detrimento da mera fusão de escolas. 
Um dos motivos pelos quais pretendo continuar a viver por cá é a educação e formação dos meus filhos. E nesta, um dos aspetos que tenho valorizado é o facto de conhecer as pessoas que os apoiam nas escolas, professores e pessoal auxiliar; de saber os seus nomes. E de me sentir reconhecido por eles. E este é um aspecto que vejo seriamente ameaçado com os agrupamentos que agora se anunciam. 
Na minha opinião, ambas as questões enfermam da visão de um conjunto de pessoas que não conhece outra realidade que não seja a das grandes estruturas: grandes escolas, em grandes aglomerados de população, com grande nº de recursos envolvidos. Porém, completamente descaracterizados, despersonalizados. E esquecendo que não é essa a nossa vivência, a das gentes das regiões mais afastadas das grandes cidades. 
Na Guarda, os ritmos são diferentes. Porque não moramos todos num bairro – apesar de cabermos num bairro de Lisboa, e precisamos de espaço e tempo para vivermos. Mas essa parece ser uma lógica que escapa a quem decide nestas matérias, admito que por ignorância, que terá como efeito que, mais dia menos dia, tenhamos mais alguns dos inconvenientes das cidades de maior dimensão, sem as respetivas vantagens. E na hora de equacionarmos se vale a pena cá continuar a viver, a nossa decisão poderá levar ao fecho de mais escolas, e ao alargamento dos cemitérios…"

sexta-feira, 1 de junho de 2012

MORTE

De novo a morte vai ser espetáculo na Guarda.
Quando nos mais diversos sítios do globo temos notícia de serem dados passos para o fim do espetáculo repugnante e lamentável que são as touradas, na Guarda parece que cada vez se investe mais nelas!
E de novo aí está mais um destes tristes eventos: a Câmara, através da Agência de Promoção da Guarda, vai organizar uma tourada no âmbito da Feira de São João.
No que a mim diz respeito, será um dia negro para a nossa cidade. Um dia em que se vai celebrar a morte de animais, montando à sua volta um espetáculo que considero repugnante e incompatível com valores do nosso tempo.
Costumo divulgar os eventos que por cá se vão realizando - no entrudo, no feriado municipal - e tenho convidado familiares e amigos para visitarem a Guarda nessas ocasiões. Fá-lo-ia também a propósito da Feira de São João - uma iniciativa que tem sido um bom exemplo de atração turística nos últimos anos - não fora esta desgraçada ideia de agora lhe pespegar uma tourada. 
No que se refere aos patrocinadores, não irei comprar um alfinete que seja a qualquer um deles durante este ano! Será a minha forma de protesto. Espero que outros se juntem a mim.
Uma última nota para dizer que espero das associações de defesa dos animais da nossa cidade uma posição clara sobre a realização deste evento.

Atualização em 10-6-20112: para além de patrocinadores, o cartaz do evento anuncia também um conjunto de media partners, entre eles a Rádio Altitude, com quem mantenho uma colaboração quinzenal. Informei já o diretor da Altitude que, a título de protesto, não gravarei a minha próxima crónica, que deveria ir para o ar em 13-06-2012.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Crónica Diária - Rádio Altitude

Crónica em 4 de Abril:

"Em Portugal vivem-se dias de angústias e incertezas. Incertezas quanto ao futuro do emprego, do “wellfair state” que era um dos desígnios do 25 de Abril que dentro de 3 semanas comemoraremos, quanto àquilo que os próximos tempos nos trarão. Já poucos arriscam prever como será a nossa vida daqui a 2 ou 3 anos, quanto mais daqui a 10… Mas a agenda mediática de alguns grupos de pressão consegue tirar desta incerteza proveitos que, mesmo para os mais liberais, são no mínimo indecorosos. Dou como exemplo as declarações de ontem do Presidente da CIP – Confederação Empresarial de Portugal. Como alguns terão ouvido, foi sugerido durante a apresentação do relatório da 3ª revisão do Programa de Assistência Financeira a Portugal que os cortes nos 13º e 14º meses a funcionários do Estado e pensionistas poderão passar a ter de ser permanentes. No mesmo dia, esse responsável da CIP admitiu à imprensa que esses cortes podem ter de se estender aos privados, cito “em função de uma correta política salarial assente na produtividade” (fim de citação). A tese do senhor assenta na ideia de que os salários devem refletir os desajustamentos existentes – ou sejam, devem ser desvalorizados em função da produtividade das empresas – e os aumentos devem ser feitos em função não de índices de inflação, mas de ganhos de produtividade. Num primeiro momento, indignei-me seriamente. Sou trabalhador por conta de outrem e, na minha organização, a maior ou menor produtividade decorre de quem tem competências para definir os processos de produção, não de quem os executa. Ou seja, poderia no limite verificar-se que estaria nas mãos – ou, se quisermos ser mais exatos, na competência – de 5 ou 6 pessoas o facto de 300 serem ou não mais produtivas, independentemente dos seus esforços individuais. Cabe aqui lembrar que diversas multinacionais que atuam em Portugal pagam salários bem acima da média e, que se saiba, não se queixam de falta de produtividade; queixam-se bem mais da dificuldade de relacionamento com as instituições do Estado – a burocracia – com especial destaque para a justiça. Mas alterações neste pilar fundamental da Democracia, não conhecemos nenhuma… Um exemplo disto que falo é a Autoeuropa, que todos conhecem, cuja fábrica é uma das mais produtivas do Grupo VW. Mas depois de refletir algum tempo, confesso que me precipitei. E que até concordo com o senhor. Se pensarmos que mais de 90% das empresas em Portugal são Pequenas Empresas, a maior parte destas com menos de 9 trabalhadores, podemos perceber que será fácil aos empresários aumentar a produtividade das suas empresas. Perguntar-me-ão: mas como? Considerando a produtividade, em termos simplistas, como aquilo que se produz (trabalho) em função dos recursos empregues (salários pagos), temos pelo menos 2 caminhos possíveis: aumentar a produção pagando o mesmo, ou manter a produção pagando menos. E é aqui que reside a facilidade da coisa: quantas empresas conhecem em que o administrador ganha 3, 4 ou 5 vezes mais que os trabalhadores produtivos? Dir-me-ão que é ele que corre os riscos inerentes ao facto de ser empresário. Mas isso deve ser compensado em remunerações do capital, não em remunerações do trabalho como sucede entre nós. Quantas empresas conhecem que têm nos seus quadros de pessoal a mulher ou filhos do empresário, sem nunca ninguém os ter visto passar uma hora na empresa? Basta cortar nestas “gorduras”, como agora se chama ao desperdício, para aumentar, nalguns casos significativamente, a produtividade de muitas empresas. E assim pode ser feito o caminho para todos poderem ganhar significativamente melhor! É verdade que não percebo muito bem como se propõe a CIP convencer os empresários de que este é o caminho a seguir, mas eu acredito que pode ser por aí… Ou então estou apenas a armar-me em cínico, porque sei muito bem que o que o senhor da CIP queria era uma coisa completamente diferente…"

sábado, 26 de maio de 2012

Centro Tecnológico

O meu post anterior refere-se a uma crónica que passou na Rádio Altitude em 21 de Março.
Passadas cerca de 2 semanas, em 6 de Maio, ouvimos o deputado Basílio Horta referir em intervenção pública na Guarda, o excelente parque tecnológico que cá temos. Obviamente ficámos todos - ou pelo menos uma grande parte de nós - sem saber a que se referia o deputado Horta. Foi então explicado pela Câmara da Guarda que o deputado se tinha referido não a um equipamento existente, mas um equipamento que iremos ter. Um centro tecnológico que faz parte da PLIE e que servirá de apoio à Incubadora de Empresas.
Obviamente, isto é uma boa notícia. Se alguém que é deputado, foi durante alguns anos presidente da AICEP e até já foi candidato a presidente da República refere publicamente o "excelente parque tecnológico" mesmo antes dele existir, imaginem só os encómios que não lhe fará depois de estar em funcionamento!!!
Eu por mim, só gostava de saber:
1. o que é um centro tecnológico;
2. quando vai estar concluído e posto a funcionar;
3. a que incubadora de empresas dará apoio.

Crónica Diária - Rádio Altitude

Crónica de 21 de Março:


"Na onde de austeridade que percorre o país, há claramente um elo mais fraco: as regiões do interior. Como sabemos, são regiões em muitos casos demograficamente deprimidas, onde o aparelho empresarial é escasso, o que as lança numa espiral de atraso relativamente às regiões do Litoral que todos temos tentado combater mas cuja receita passa mais por tentativa e erro do que por metodologias testadas e comprovadas. No caso da Guarda – aqui visto como Concelho – os fatos são conhecidos: o último Censos indica-nos um decréscimo de população (se fosse hoje, tenho para mim que o retrato seria bastante pior), uma estrutura etária com prevalência de grupos mais velhos e qualificações abaixo da média. Apesar de nos últimos anos se ter tentado reverter esta tendência com recurso nomeadamente ao investimento público, a verdade é que essa opção tarda em dar frutos. Se a Guarda é hoje um Concelho bem equipado – é atravessado por 2 autoestradas, tem um parque escolar com boas condições, um novo Hospital que esperamos possa brevemente entrar em funcionamento, uma sala de espetáculos moderna e funcional, infraestruturas desportivas razoáveis, quer em número quer em qualidade, Tribunais com boas condições, para citar os mais óbvios – é cada vez maior a dificuldade em fixar cá novas famílias, em fixar cá jovens qualificados. As ofertas de emprego são muito escassas e as oportunidades de negócio para os mais empreendedores esbarram muitas vezes num ambiente hostil ao estabelecimento de novas empresas. A verdade é que olhando objetivamente, a Guarda pode dar todas as condições aos jovens para se cá fixarem: oferece boas condições de vida para jovens casais criarem os seus filhos, existe boa mobilidade, está a 3 horas de qualquer uma das capitais ibéricas – ou seja, no centro de um mercado com 50 milhões de habitantes – e aparentemente tem espaço para crescer. E digo aparentemente porque, nalguns casos, chegam-nos queixas de empresários que sentem enormes dificuldades em fazer cá crescer as suas empresas, nuns casos, ou simplesmente iniciar a sua atividade, noutros. É certo que existe um Parque Industrial, mas não existe um Parque de Negócios para empresas mais pequenas, do comércio ou dos Serviços. De resto, se calhar só eu acho que seria necessário implementar uma solução destas, já que nunca ouvi nada sobre o assunto à Associação Comercial ou ao Núcleo de Empresários, sempre mais preocupados em apresentar uma agenda própria do que em envolver-se em projetos comuns, a julgar pelo que temos visto nos últimos anos… Há espaços onde pode ser feito; há Instituições, como o Politécnico e as escolas secundárias e profissionais que têm todo o interesse em se envolver num projeto destes. Mas não vejo qualquer vontade de desenvolver um projeto destes. Da incubadora de empresas ouço falar há anos, sem que até hoje alguém tenha conseguido levar esse projeto a bom porto. E no entanto, são estruturas que por exemplo nos países do norte da europa existem há dezenas de anos e sobre os quais ainda hoje se tentam novas abordagens e formas de atuação, não ficando a olhar para os sucessos passados para justificar a sua existência. Volto assim a um tema que periodicamente aqui trago: a falta de estratégia. É necessário defini-la para o Concelho. Faz-nos falta, na hora de distribuir os poucos recursos que ainda vamos tendo. Faz falta ao poder, para poder fazer as escolhas acertadas e faz falta aos cidadãos para avaliarem o poder e lhe reconhecerem obra. Só poderá não fazer falta aqueles para quem a falta de memória dos eleitores é o maior ativo na hora de serem avaliados…"

quarta-feira, 23 de maio de 2012

No próximo sábado, no TMG...

É o último espetáculo inserido no VII Festival de Música da Beira Interior, de que já falei neste post.
Desta vez, atuarão a Escola Superior de Artes Aplicadas (do Instituto Politécnico de Castelo Branco) e o Conservatório da Covilhã.
A mim, parece-me um bom programa para uma noite de fim de semana. Ide se puderdes!

terça-feira, 22 de maio de 2012

Crónica Diária - Rádio Altitude

Em 7 de Março, a crónica foi:

"As recentes obras de requalificação de algumas das ruas do centro da nossa cidade têm aspetos que devem, em minha opinião, ser revistos ou melhorados, sob pena de virem a causar prejuízos pessoais que implicariam responsabilidades para a Autarquia. 
Esta intervenção tem vários aspetos muito positivos para a mobilidade e a preservação estética da zona mais antiga da cidade. O fato de se estarem a suprimir os degraus nos extremos das passagens de peões – aquilo que geralmente designamos por passadeiras – para permitir mais facilmente o atravessamento das vias por quem empurre um carrinho de bebé ou mesmo quem se desloque em cadeira de rodas é um claro exemplo daquilo que as cidades podem e devem fazer para permitir aos seus cidadãos usufruir dos espaços a pé, ao invés de quase os obrigar a andar de carro no centro da cidade. 
Também o alargamento dos passeios, como o que se verificou por exemplo à porta da Igreja da Misericórdia vai nesse sentido e é sem qualquer duvida uma mudança muito positiva. 
Por outro lado, o uso do granito como material de eleição dá uma imagem coerente à intervenção e reforça a nossa identidade de cidade de montanha, de região onde o granito domina, a par com a floresta – ou pelo menos com o que dela resta – a paisagem. 
Até aqui, tudo aspetos positivos, mudanças que contribuem para uma melhor imagem da cidade. 
Já no que toca à supressão de passeios – como a que ocorreu por exemplo na rua dr. Lopo de Carvalho – esta levanta-me algumas dúvidas. Não sendo à partida contra a supressão, parece-me que ela deveria ocorrer num contexto de forte condicionamento do tráfego automóvel, o que não acontece na rua que citei a título de exemplo. Trata-se de uma rua com 2 sentidos de trânsito, que é para além disso quase o único acesso ao lado ocidental da cidade, o que faz com que tenha bastante trânsito, pelo menos durante o dia. E o que verifico nas minhas passagens diárias por aquela rua – a pé – é que o fato de não estar claramente delimitada a via de circulação automóvel e a via reservada aos peões, é causa de muita insegurança. Porque a rua é relativamente estreita e os automobilistas tendem a encostar-se mais às casas, deixando ainda menos espaço para os peões que aquele que os exíguos passeios suprimidos reservavam. Para não falar dos menos escrupulosos em estacionar bem encostados ás paredes das casas da rua, obrigando os peões a passar quase pelo meio da estrada. De resto, no limite pode mesmo aplicar-se a disposição do código da estrada que obriga os condutores a manter-se o mais à direita possível da via de circulação, inviabilizando a utilização da rua pelos peões – algo que me parece completamente contrário à – pelo menos aparente – filosofia da intervenção! 
O fato de não haver uma separação física entre a via de circulação automóvel e a via de circulação dos peões propicia uma utilização da via por parte dos automóveis – neste caso o elemento mais forte – que pode vir a ser causa de alguns acidentes. E portanto, mesmo não havendo uma separação tão marcada como a que é feita com um passeio elevado em relação à via, penso que deve ser estudada uma forma de delimitar fisicamente área reservada aos peões. 
Outra das questões que deve ser revista é a forma como estão a ser assinaladas as passagens de peões. As anteriores eram constituídas por paralelepípedos cinzentos e brancos – cores contrastantes que permitiam ao condutor uma identificação imediata do ponto de travessia. Ainda recorrendo-me da mesma rua como exemplo, as passadeiras que lá foram construídas são integralmente cinzentas, em tons ligeiramente diferentes, mas cujo contraste não permite uma identificação imediata de uma travessia para peões. Duas delas têm pelo meio caixas de acesso às redes técnicas subterrâneas, pelo que dificilmente alguém que não conheça a cidade interpretará aquelas áreas como zonas de atravessamento de peões. Obviamente deverá ainda ser colocada sinalização vertical; mas eram muito mais visíveis as “passadeiras” anteriores do que as novas que foram instaladas. E sabendo-se que quantos mais elementos de prevenção do erro tivermos mais seguro se torna o espaço, penso que com as atuais passadeiras se desperdiçam recursos, pois a sua forma de construção não permite identificar imediatamente a sua função. 
Deixo pois aqui, aos microfones da rádio, um apelo à autarquia para que reveja estes aspetos e procure uma solução que sirva os objetivos de melhorar a mobilidade no centro da cidade sem fazer qualquer cedência à preservação da integridade física dos peões."

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Crónica Diária - Rádio Altitude

A crónica de 22 de Fevereiro:

"A Merkozylândia – outrora conhecida como Europa – vive dias conturbados. Os ténues laços de solidariedade entre os Estados têm sido esticados até ao seu limite físico e ameaçam quebrar a qualquer momento. Se é nos momentos difíceis que vemos quem são os nossos amigos, temos agora uma boa oportunidade de os identificar. Se conseguirmos encontrar algum…

A Europa foi uma das mais extraordinárias construções do sec. XX, tendo trazido paz e prosperidade a uma região do globo que ao longo dos últimos séculos tinha sido palco constante de guerras e todo o tipo de manobras hegemónicas. A evolução do seu conceito representou passos de gigante na forma como encaramos a geopolítica nos últimos 20 anos do sec. XX, mas eis-nos agora chegados a um novo desafio: saber até que ponto estamos dispostos a integrar essa construção política. 
Considero indispensável que, a muito curto prazo, logo que passe a borrasca da crise financeira que a Europa atravessa, os governos dos países da UE discutam interna e externamente até onde estão dispostos a ir neste projeto. Porque se há coisa que percebemos nos tempos recentes, é que estamos numa situação que nos tem deixado vulneráveis face à força que os “mercados” – algo que apesar de difícil de perceber e identificar, está hoje omnipresente na forma como se faz geopolítica – têm vindo a ganhar num mundo orientado para o consumo como forma de realização de objetivos coletivos e individuais. 
Já todos percebemos que não podemos estar dentro quando tudo corre bem e pormo-nos de fora quando as coisas correm mal; e que não podemos um dia querer manter intacta a nossa soberania e no dia seguinte querer interferir na soberania do país ao lado. Se o caminho passa por uma federação de Estados ou por qualquer outra forma de Governo, francamente não estou certo. Mas sei que como estamos não resistiremos muito tempo. 
Se por um lado, o nosso futuro passa inequivocamente pelas nossas relações com os demais países europeus, tal não significa que tenhamos forçosamente de pertencer à União Europeia: temos exemplos de outros pequenos Estados europeus que, mesmo fora da EU souberam conquistar um lugar de relevo no panorama internacional e asseguram aos seus povos padrões de vida e civilização de referência. 
A nossa saída da EU exigiria um amplo consenso nacional e coragem por parte das lideranças políticas – 2 desideratos que atualmente vejo muito difíceis de alcançar. Mas quando se discute um tema desta natureza e com a importância que este tem, todas as hipóteses devem ser colocadas sobre a mesa e debatidas sem qualquer tipo de preconceito. 
A participação dos cidadãos é fundamental e se for por um objetivo que as mobilize, elas responderão certamente. Veja-se o que tem acontecido desde Novembro com os debates promovidos pela Rádio Altitude e o TMG: tratando-se de temas que preocupam os cidadãos e que eles identificam como importantes para as suas vidas, têm respondido aos apelos à participação. Quem tem assistido aos debates sabe bem do que falo: gente interessada e interessante, com coisas importantes para dizer, que quer participar ativamente na construção da sociedade onde vive e que não se limita a ficar a ver os outros fazer ou decidir sobre assuntos que são de todos. 
E mesmo quem ocupa lugares de relevo na política regional – ou pelo menos aqueles que se interessam pelo que pensam os munícipes – reconhece a importância e vitalidade destes encontros. Os outros, terão na colheita os frutos do que semearam. Pelo menos, assim espero… "

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Análises

Ontem, na Guarda, realizou-se uma manifestação dos trabalhadores dos laboratórios de análises clínicas privados contra a decisão da ULS da Guarda de centralizar no seu laboratório as análises prescritas aos doentes que lá são atendidos.
Sucede que a administração da ULS decidiu, ainda no ano passado, que passaria a centralizar o mais possível as análises nos seus laboratórios (Guarda e Seia) e a recorrer o menos possível ao pagamento desses serviços prestados por entidades externas convencionadas no âmbito do Sistema Nacional de Saúde (SNS). Passando inclusive as requisições a serem feitas com recurso aos sistemas informáticos que ligam as unidades de prestação de cuidados de saúde.
Por princípio, logo na altura que a medida foi anunciada, a decisão pareceu-me correta. Não faz sentido pagar a alguém de fora a realização de um trabalho que tenho capacidade para realizar dentro de casa. Ainda mais numa época de austeridade como a que atravessamos. Porém, também me pareceu que a medida foi demasiado "repentina": se aqueles privados asseguraram durante tantos anos a realização dos exames necessários aos diagnósticos e tratamentos de doentes, não acho moralmente correto prescindir dos seus serviços de um momento para o outro; podia, achava eu, procurar-se uma solução mais equilibrada que salvaguardasse o mais possível ambas as partes, sem perder de vista a necessária contenção de custos. Mas por outro lado, este é ainda um setor com muita proteção: os tais laboratórios convencionados - aqueles que podem prestar o serviço ao SNS - não são muitos, além de que há alguns anos que não são feitas novas convenções com privados, o que faz com que aqueles que existem sejam transacionados a preços altamente especulativos, distorcendo um mercado que está longe de funcionar de acordo com as regras da concorrência perfeita.
Certo é que a medida avançou, mesmo apesar de medidas cautelares pedidas junto das instituições da justiça.
Mas ontem, na manifestação, ouvi algo que me deixou perplexo: dizia o representante dos trabalhadores que estavam em causa a sobrevivência de cerca de 10 empresas e os empregos de cerca de 100 pessoas!
A ULS nunca divulgou quanto pouparia (ou poupa, uma vez que a medida está em vigor há alguns meses) com esta nova forma de atuação. Mas sei que no Laboratório da ULS trabalham menos de 40 pessoas, e que estas asseguram o funcionamento do serviços 24 horas por dias 365 dias por ano. E que o acréscimo de trabalho que as novas regras representaram não é expressivo ao ponto de terem de ter contratado mais pessoas, alargado instalações, ou obrigasse a qualquer reorganização radical dos serviços.
Tendo em vista que o Hospital não pode prescindir, sob qualquer forma, do seu laboratório, sou levado a crer que efetivamente os pagamentos que o Estado, por via da ULS fazia aos privados deviam ser avultados, para permitir a manutenção de estruturas tão grandes! E perante isto, pergunto-me se noutros setores em que há prestação de serviços aos Hospitais por entidades privadas (p.ex. na imagiologia) não se passará o mesmo...
Se assim fôr, espero que haja igual coragem em cortar com práticas do passado, de criar "mercados protegidos" à sombra dos quais vivem empresas que vão sugando os poucos recursos de que o SNS ainda dispõe.
É matéria em que é difícil avançar, tal a teia de cumplicidades que existe entre trabalhadores dos setores público e privado; mas é sem dúvida um caminho que, mais cedo ou mais tarde, terá de ser trilhado.

Crónica Diária - Rádio Altitude

A crónica em 7 de Fevereiro na Altitude:


"Austeridade! Palavra que recentemente passámos a usar como desculpa para aquilo que há 3 ou 4 anos seria absolutamente impensável. Tem origem no latim austeritāte e significa “seriedade”; em Economia, define-se como uma política governamental que procura reduzir a despesa pública. 
Todavia, os manuais de Economia também nos dizem que medidas de austeridade devem ser acompanhadas de outras que estimulem o crescimento económico, sob pena de se cair ou, como no caso português se prolongar, o período recessivo. E se o Governo foi lesto a tomar medidas de austeridade, tem sido bem mais brando a estimular a economia… 
O Sr. Primeiro-Ministro recordou-nos o caricato que foi, no ano passado, termos os membros da troika a trabalhar enquanto os portugueses tiveram a tal tolerância, classificando a situação com o termo “comportamentos preguiçosos”; ora, em primeiro lugar, mesmo no ano passado houve muitos portugueses a trabalhar no dia de Carnaval, pelo que o cumprimento das suas obrigações de trabalho não foi um exclusivo dessa equipa; além de que, aposto, poucos ou nenhum terão ganho nesse dia qualquer coisa parecida com o que ganharam os rapazes da troika que, coitados, tiveram de prescindir do Carnaval. Depois, provavelmente não faz parte das tradições dos países do norte da Europa – de onde são originários os técnicos que vieram a Portugal nessa altura – a comemoração do Carnaval, razão pela qual eles não o celebrariam de qualquer das formas; da mesma maneira que, de resto, nós não celebramos o solstício de Verão, que é feriado nacional por exemplo na Suécia. E por fim, diria que caricato é apresentar como salvadora a ideia peregrina de vender pastéis de Nata no mercado externo – algo que se faz há dezenas de anos – e não cumprir algumas tradições que, como o Primeiro-Ministro insiste em não perceber, são parte da identidade de um Povo. 
De resto, o estímulo à Economia tem-se feito essencialmente com este tipo de medidas pífias, como a dos pastéis de nata, os cortes dos períodos de descanso do trabalho ou chamando “piegas” aos portugueses que se queixam das dificuldades dos dias que vivemos. Sendo certo que a austeridade tem sido implementada em clima de relativa paz social, diria que neste particular o primeiro-ministro tem estado, dia após dia, a esticar a corda. E, pelo que já se percebeu, irá tão longe quanto todos o deixarmos ir… 
Se há alguns anos atrás, o nosso ideal eram os países nórdicos, com uma população qualificada, empresas criadoras de valor e condições de vida oferecidas às populações, hoje o nosso ideal parece aproximar-se cada vez mais aos países orientais, onde trabalhar cada vez mais por menos retribuição é a forma de manter a população ocupada, dependente das elites e rendida pela necessidade de assegurar o sustento da família. 
A austeridade está assim a esmagar a capacidade de os portugueses se indignarem; mas este movimento pode funcionar como uma mola, que vai comprimindo mas que a partir de determinado ponto terá de libertar toda a tensão acumulada, num movimento de imprevisíveis consequências. 
Assim, se nos próximos 2 ou 3 meses não forem apresentadas medidas concretas de apoio ao crescimento económico, seremos levados a concluir que temos um Governo ao serviço dos grandes grupos de pressão, que se aproveitam do Estado para realizar negócios em condições leoninas, que todos suportamos, sem que os sacrifícios que os portugueses estão a fazer venham a ter resultados a prazo. 
Já aqui disse que sou da opinião que devemos fazer todos os possíveis por honrar os nossos compromissos com as Entidades que prestaram o auxílio financeiro. Mas isso não pode servir de desculpa para manter o status quo de um restrito grupo de privilegiados, ao passo que o grosso da população vê as suas condições de vida agravarem-se de dia para dia. O aumento de 450% nos incumprimentos de crédito à habitação durante o ano passado são um exemplo desse agravamento e um sinal preocupante. 
Espero pois, que a pressão sobre a mola abrande…"

terça-feira, 24 de abril de 2012

Festival de Música da Beira Interior

A Scutvias e as Câmaras de Abrantes, Castelo Branco e Guarda organizaram este ano a VII edição do Festival de Música da Beira Interior. Trata-se de um festival que proporciona a todos os que quiserem assistir alguns momentos musicais da responsabilidade de escolas de música das regiões envolvidas. No caso da Guarda, é o Conservatório que faz as despesas da programação.
O festival teve início no dia 24 de Março, com atuações em Abrantes. A seguinte é já no próximo sábado, dia 28 de Abril, em Castelo Branco, onde haverá atuações a cargo do Conservatório da Guarda e da Academia de Música e Dança do Fundão, às 21.30 no Cineteatro Avenida.
As entradas são livres, mas suponho que sujeitas a reserva prévia.
Fica a sugestão para um final de sábado com música e dança, por um preço simpático.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Crónica Diária - Rádio Alttude

Crónica de 24 de Janeiro:

"Os constrangimentos a que as medidas de austeridade em curso no nosso país nos obrigam podem e devem servir para aprendermos a viver de forma diferente, alterando alguns hábitos por forma a gastarmos mais criteriosamente os recursos de que – ainda – dispomos.
Um dos hábitos a que me refiro é o de passarmos a preocupar-nos mais com a origem dos bens que consumimos. E a privilegiar nas nossas compras tudo o que seja local.
Estamos obviamente limitados a grupos de produtos muito restritos, mas ainda assim penso francamente que este princípio aplicado por grande número de consumidores pode fazer alguma diferença. Nos restantes produtos, cuja origem tem de ser forçosamente exterior à nossa região, também devemos privilegiar a compra local, ou seja, adquiri-los a comerciantes da nossa região. Numa altura de recessão como a que atravessamos, atitudes como estas podem fazer a diferença num mercado de reduzida dimensão e cujas fragilidades são bem conhecidas de todos.
Sabendo que previsivelmente em 2013 a Balança Comercial portuguesa será, pela primeira vez em muitos anos, favorável a Portugal, é hora de nos preocuparmos com a nossa região e pensarmos nela, em termos de mercado, da mesma forma que temos pensado em Portugal. Existem por cá bastantes produtos com potencial de mercado; alguns serviços transacionáveis que poderemos aproveitar e que, no conjunto, podem contribuir fortemente para a consolidação do nosso mercado regional.
Bem sei que uma campanha como esta deveria ser feita, em primeiro lugar, pelos empresários ou, pelo menos, pelas estruturas que os representam. Mas essas, aparentemente, estão mais preocupadas em gerir as suas atividades subsidiadas pelo Estado; ou então, acham mesmo que este não é um tema que mereça grande atenção, ao contrário de mim, obviamente.
Uma segunda nota para comentar a mais recente boutade de Cavaco Silva, quando se lamentou quanto aos seus rendimentos não serem suficientes para as despesas que tem. É certo que veio já esclarecer que não queria com as suas palavras pôr-se de fora daqueles que terão de fazer sacrifícios. E com este esclarecimento, demonstrou claramente uma de duas coisas: ou não percebeu que o que indignou as pessoas foi alguém que recebe mais do que a larga maioria dos portugueses vir a público queixar-se dos seus rendimentos; ou percebeu isso claramente mas resolveu ignorar o coro de protestos que se tem feito ouvir na imprensa e nas redes sociais, porque a sua pretensa superioridade moral deve ser ser, no seu entendimento, suficiente para afastar qualquer pessoa que ouse criticá-lo.
O que é triste é que Portugal tem um Presidente da República tão cheio de si que, numa altura difícil, se acha um exemplo para os seus concidadãos. Logo ele, que toda a vida foi funcionário do Estado, por via direta ou indireta. E que, independentemente dos seus méritos, viveu nos últimos 20 anos rodeados de privilégios a que poucos podem ter acesso! Não perceber isto, é não perceber o país em que vive: um país em que o salário mínimo não chega a 500 Euros e em que mais do que um em cada dez trabalhadores não encontra emprego!
Voltando ao início da minha crónica, deixo aqui um apelo aos ouvintes: comprem local. Vamos tornar a nossa economia mais resistente às dificuldades; e para este desígnio, todos não seremos muitos. E devemos perceber que não podemos contar com os de fora para nos desenvolvermos; temos de ser nós a valer-nos uns aos outros, estimulando o sentido de comunidade e mostrando que se cá continuamos, não é por mera teimosia. É porque acreditamos em nós!"

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Água vai...

Logo pela manhã, ouvi nas rádios a notícia que deu conta de uma grande quantidade de peixes mortos na albufeira da Barragem do Caldeirão, mesmo aqui às portas da cidade. Ouvi no carro, muito de passagem, mas a ideia com que fiquei foi de que o assunto estava a preocupar as autoridades.
Foi só no final da tarde que pude voltar a ouvir falar do tema. E o que ouvi deixou-me deveras preocupado.
Os jornalistas informaram que efetivamente os bombeiros, proteção civil e uma equipa do SEPNA (Serviço de Proteção da Natureza e Ambiente da Guarda Nacional Republicana) estiveram no local a recolher amostras, que estão em análise.
Tratando-se do local onde é feita a captação de água que é, depois de tratada, distribuída na rede pública da Guarda, é uma notícia preocupante. Sou aquariófilo há anos suficientes para perceber que algo de muito errado se passa num biótopo onde, de um momento para o outro, acontece um fenómeno como o descrito.
Mas o que ouvi a seguir deixou-me perplexo, para não dizer mais.
Comecei por ouvir o Delegado de Saúde dizer que não havia motivo de preocupação, que a água tem aspeto límpido e portanto pode ser consumida sem receios. Isto, vindo de qualquer profissional de saúde, é grave - até de um auxiliar hospitalar, que tem a obrigação de perceber a alarvidade que isto representa; dito por um médico, é ainda mais preocupante; mas dito pelo Delegado de Saúde é um escândalo. Sem fazer a mínima ideia do que aconteceu naquelas águas - pois tanto quanto consegui apurar não há ainda disponíveis resultados de análises conclusivos - transmitiu à população a ideia de que é seguro o consumo da água. E pergunto eu: e se afinal não fôr? E se adoecerem pessoas e as Urgências entupirem? É que das duas uma: ou realmente aquilo que o Delegado de Saúde fez é de uma negligência atroz, ou as análises cujos resultados se aguardam não servem para nada e só se fazem por... digamos... fazer?
A seguir foi a vez de um representante da Câmara Municipal declarar que alarme social nunca foi forma de resolver problemas e que as análises de que dispunha têm resultados negativos. Embora estejamos habituados aos lapsos de comunicação do executivo, constatamos que mais uma vez não deixaram os seus créditos por mãos alheias. Não me parece que o caso seja para menos do que recomendar às pessoas contenção no consumo da água até se ter a certeza do que ali sucedeu. O alarme social não resolve os problemas nem visa resolvê-los; visa, isso sim, evitar mais problemas em cima dos que já existem. Sobre as análises a que o Sr. se refere, trata-se de parâmetros básicos, cujos resultados negativos nada garantem sobre a qualidade da água.
Espero que as pessoas aproveitem a noite para refletir nas suas opções e o dia lhes traga uma clarificação daquilo que devem preservar acima de tudo - a saúde pública. E já agora que lhes traga também melhor humor...

Regresso

As últimas semanas têm sido de atividade mais intensa que o normal.
A ponto de praticamente ter abandonado o blog e os que o lêm (alguém?), e até ter estado menos disponível para a família.
Espero um regresso a níveis de atividade mais compatíveis com as minhas atividades lúdicas - entre elas escrever aqui.
A emissão segue, pois, dentro de momentos...

quinta-feira, 1 de março de 2012

Bacalhau

Por estes dias, a atualidade política tem sido alimentada pelo caso do Bacalhau. Refiro-me obviamente à intenção de compra, por parte da Câmara Municipal do edifício conhecido como "Bacalhau" na rua comandante Salvador do Nascimento.
Que o negócio tem contornos que politicamente me levantam interrogações, tem! Nomeadamente como é que uma  autarquia em situação financeira difícil, com muitas dificuldades em cumprir os compromissos assumidos, assume mais este, num contexto de crise nacional. Num momento em que tantos fazem esforços por encontrar soluções criativas que lhe permitam ultrapassar as suas necessidades momentâneas, a Câmara opta pela mais fácil: adquirir património, onerando ainda mais o futuro da edilidade.
Mas o que me deixou verdadeiramente perplexo foi a explicação do sr. presidente sobre como vai ser financiada a aquisição: respondendo a uma pergunta de um jornalista de uma rádio local, lá foi explicando, candidamente, que os pagamentos vão ser feitos à medida das possibilidades da autarquia!!!
E eu pergunto: mas alguém acredita nisto? Alguém vende o que quer que seja nestas condições, sem saber quando vai receber?
Quando alguém vende um imóvel, quer, no mínimo, saber exatamente quando vai receber a quantia devida; será que neste caso, o vendedor aceitou que uma Câmara que tem muitos meses de renda em atraso, pelo arrendamento do mesmo edifício, lho compre e lho vá pagando à medida das suas possibilidades?
Sendo o vendedor quem é - empresário conhecido na nossa praça - eu não acredito. 
Alguém acreditará?

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Crónica Diária - Rádio Altitude

A crónica de 11 de Janeiro, a primeira de 2012 foi:


"Quando iniciamos um novo ano, fazemo-lo sempre com a esperança que seja melhor que o anterior. Pela parte que me toca, este ano não é assim. Encaro com preocupação o que aí vem. E como adivinho um ano difícil, decidi desde já que tudo vou fazer para que valha a pena. Para que, no fim do ano, possa olhar para trás e perceber a realização de algo importante, que um ano é muito tempo para se desperdiçar! Quando os recursos são escassos – ou pelo menos, mais escassos do que o habitual – é importante planear para os aproveitar o melhor possível, para não perdermos de vista os nossos objectivos e não nos dispersarmos com entusiasmos momentâneos. É isto que fazem as grandes organizações para responder aos momentos difíceis que têm de atravessar; e é isto que a Guarda tem de fazer: concentrar esforços, energia e recursos em objectivos verdadeiramente estratégicos. Quando falo da Guarda, falo obviamente de todos nós, que cá moramos e cá trabalhamos; que nos esforçamos todos os dias por construir uma cidade melhor. Mas obviamente cabe às instituições que gerem a cidade criar o consenso necessário para que todos possam dar o seu contributo. Na minha opinião, existem 3 vectores fundamentais de atuação para que a Guarda possa nos próximos anos desenvolver-se por forma a criar condições quer para os que cá vivem e fazem negócios, quer para aqueles que necessariamente terá de cativar a virem para cá. O primeiro é a imagem. É necessária uma política de imagem sobre a qual assente toda a comunicação. Quer passe pela neve, pelo frio, pela montanha, pelo arroz doce ou por qualquer outro atributo, é urgente uma definição e passar a trabalhar em cima dela. A comunicação de eventos que atingiram já alguma projeção nacional – o julgamento do galo, nos eventos de rua, a programação do TMG na área cultural ou a Invernal de BTT no Desporto são alguns exemplos de atrações que só terão a beneficiar de um denominador comum em termos de imagem! O segundo vetor é o ambiente para os negócios. Há falta de iniciativa privada na Guarda. O que abre as portas aos tentáculos do poder político, que a tudo chega. É necessário inverter esta lógica e a melhor forma é permitir aos empresários que façam aquilo que sabem fazer – negócios – num ambiente de transparência. Regras claras, bem definidas e prazos razoáveis para a apreciação de pedidos é tudo quanto é preciso. Não se podem esperar meses por uma licença para realizar obras; nem semanas para pedidos que são renovados anos e anos a fio. Criem-se as regras, divulguem-se e façam-se aplicar em prazos curtos e que sejam sempre, mas sempre cumpridos. Dêem-se sinais claros de que na Guarda, o cidadão ou o empresário que cá queira investir, sabe exatamente com o que conta. Porque hoje não é assim e a falta de estabilidade, a incerteza, é algo que afasta quem quer investir. Havendo investimento haverá a criação de postos de trabalho e de riqueza, que é do que todos precisamos para uma cidade melhor. O terceiro vetor é iberização da cidade; embora este possa em muito cruzar-se com o primeiro que enunciei, pela sua importância estratégica merece o devido relevo. Neste ponto devo dizer que, para fazer justiça, têm sido dados passos importantes na afirmação da Guarda como Hub ibérico ao nível económico, mas também ao nível cultural. É necessário que esse trabalho seja mais bem divulgado e explicado aos cidadãos e que se continue a apostar nele como forma de afirmação da região numa realidade cada vez mais aberta a novos conceitos territoriais. Se somos a cidade portuguesa mais central da península, é importante capitalizar esse activo. E isso faz-se transformando esse atributo em oportunidades de negócios e em ações que melhorem as condições de vida da sua população. A aposta deve pois ser em projetos com impacto nestes 3 vectores. Tudo o resto, ainda que sejam oportunidades, apenas servirá para desviar recursos daquilo que, no futuro, poderá diferenciar a Guarda das outras cidades do País. Está pois na hora de dizer, como no jogo: Cavalheiros, façam as vossas apostas!"

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Hotel de Turismo


Falei do tema há já algum tempo (aqui).

Embora na altura já tivesse mais ou menos a mesma opinião de hoje sobre este negócio, achei que ainda assim o assunto merecia, da minha parte, o benefício da dúvida.
Mas hoje já nem isso dou: o negócio da venda do Hotel de Turismo da Guarda ao Turismo de Portugal foi um mau negócio para a Câmara, para o Estado e para a Guarda.
Para a Câmara porque não rentabilizou um Património ao nível do seu verdadeiro potencial (à altura da venda; hoje as contas são outras, apesar de terem passado escassos meses...); e porque a falta de transparência no negócio afeta seriamente a sua credibilidade.
Para o Estado, porque assumiu um compromisso e numa altura em que não tem capacidade financeira para investir vê-se na obrigação de cumprir o acordado com a Câmara da Guarda, ficando na posse de um Património em que dificilmente investirá nos próximos tempos - como era sua intenção à altura da aquisição (pelo menos quero acreditar que sim...).
E para a Guarda, por que verá um Património, arquitetónico e afetivo, degradar-se à medida que o tempo passa, numa zona da cidade de grande nobreza dignidade.
Sejamos claros: nos dias de hoje, com a oferta de que a Guarda dispõe a nível hoteleiro, já não fazia qualquer sentido a Câmara da Guarda manter a exploração do Hotel, ainda por cima com prejuízos de exploração crónicos. Da mesma forma que não faz sentido que agora essa exploração passe para o Estado.
Há obviamente a salvaguardar um Património importante da Guarda: o edifício do hotel e aquilo que ele representa em termos de memórias para a cidade. Mas isso poderia ser salvaguardado contratualmente.
O processo de alienação deveria ter passado por um concurso público, com regras claramente definidas, onde qualquer interessado pudesse fazer a sua melhor oferta. 
Era necessária a salvaguarda da traça do edifício? Impusesse-se essa condição! Vejam, a título de exemplo, o magnífico trabalho de recuperação de um edifício histórico convertido em Hotel nos casos do Palácio da Lousã ou, num segmento mais exigente, no Palácio do Freixo!
Era estrategicamente relevante a Escola de Hotelaria? Veja-se como essa valência coexiste com a iniciativa privada neste caso.
Em todo o caso, dever-se-ia ter preferido a iniciativa privada à solução adotada, que não se sabe muito bem no que irá dar... E, ao que se sabe, candidatos até foi havendo: José Luís Almeida, com investimentos na hotelaria bem sucedidos foi o primeiro de que ouvi falar; mas também um grupo de empresários da cidade, entre os quais Pedro Tavares, se mostraram interessados no negócio sem que, ao que dizem, a Câmara tenha valorizado o seu interesse...
Agora, a meio-caminho de passar para as mãos de um proprietário sem capacidade de investimento, sem vocação para esse investimento e que é provavelmente o proprietário que pior trata o seu Património em Portugal, quase que me apetece que se cumpra o pedido de Álvaro Amaro a Pedro Passos Coelho, quando este passou pela Guarda na última campanha eleitoral: que "NÃO PAGUE!!!".
Talvez assim o negócio se desfaça e a Câmara ainda vá a tempo de emendar a mão e fazer o negócio como deve ser: impondo as condições que salvaguardem o interesse da cidade num concurso público onde quem demonstre ter mais e melhor iniciativa possa tomar conta do Hotel e devolver-lhe a dignidade que ele merece!

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Azeite!


Na sequência do evento que durante o fim de semana passado decorreu em Aldeia Viçosa - a maior lagarada do mundo (quiçá mesmo de Portugal, diria eu...) - ouvi hoje o Presidente da Câmara nos microfones da Rádio Altitude dizer que lhe parece uma boa ideia promover um produto de qualidade - o azeite do vale do Mondego - e que faria todo o sentido pensar-se num "Centro de Interpretação do Azeite", para ajudar na tal promoção.

Depois de ouvir as palavras do Autarca, de as digerir, e de tentar perceber o seu alcance, pensei: um dos dois tem demasiado "azeite"!
Existe algum produto que possa ser denominado "Azeite do Vale do Mondego"? Existe algum produtor ou engarrafador com quantidades suficientes para fazer uma abordagem séria ao mercado na promoção desse produto? Tanto quanto sei, ambas as perguntas têm resposta negativa.
Portanto, a não ser para gastar mais em "betão", não estou a ver para que servirá o tal Centro de Interpretação, ou a subjacente estratégia de promoção do produto.
O azeite do vale do Mondego é efetivamente um produto de qualidade, que todos os Guardenses conhecem e valorizam convenientemente. Devemos adoptá-lo nos nossos padrões de consumo, por diversos motivos: é um produto de boa qualidade, da nossa região, com benefícios para a saúde. A Câmara pode perfeitamente fazer o mesmo nas suas Cantinas: privilegiar os produtos regionais nas suas aquisições e nas ementas disponibilizadas.
Quanto ao betão, Sr. Presidente, veja onde ele nos levou...

sábado, 28 de janeiro de 2012

Crónica Diária - Rádio Altitude

Continuando a reposição: crónica de 28 de Dezembro de 2011:

"Enquanto esperamos que as brasas do Madeiro de Natal arrefeçam, aproveitamos os últimos dias de 2011 para passar em revista o que de mais relevante aconteceu ao longo do ano, numa espécie de Balanço de Fim de Ciclo que arrume no sótão o que ao ano velho diz respeito e nos liberte para iniciarmos o novo ano com a esperança de que seja melhor que o anterior. Este foi ano que se iniciou com más notícias; a que se seguiram outras piores; depois, mais do mesmo para terminar com as péssimas. Ou seja um ano para esquecer, mas que poucos jamais esquecerão. Durante o primeiro trimestre, a dúvida sobre se iríamos ou não ter de recorrer à ajuda externa; no segundo trimestre, que Governo escolher para a República; no terceiro, o que passaria a ser diferente com o Governo escolhido; e no quarto, quão mau seria o ano de 2012. Chegados agora ao fim do ano, conhecendo as respostas a todas estas dúvidas, confesso que o desânimo é grande! Tivemos de nos sujeitar a pedir ajuda internacional, sujeitar-nos a eleições quando tínhamos um Governo com menos de um ano em funções, o novo Governo não mostrou qualquer rasgo de pensamento estratégico coerente que nos leve a acreditar que as coisas serão radicalmente diferentes daqui para a frente e, por último, percebemos todos que, com o Orçamento de Estado para 2012, o próximo será um ano cheio de dificuldades, muito mais do que as do ano que agora termina. Haveria forma de contornar as dificuldades sem austeridade? Não creio! Mas o sentimento que fica é que as dificuldades são distribuídas de forma desigual por todos os portugueses e que vão ficar de fora do grupo dos sacrificados as vacas sagradas do regime, ou seja, aqueles que dispõem de meios financeiros avultados, ainda que não realizem qualquer investimento, limitando-se ao jogo especulativo que foi uma das origens da crise financeira que atravessamos. Na Guarda, o ano foi também globalmente mau. É certo que, no meio das dificuldades, foi havendo uma ou outra boa notícia. Não podemos deixar de destacar a abertura de mais um centro escolar no início do ano lectivo, a juntar aos já existentes, bem como uma escola secundária requalificada, e que faz da Guarda uma cidade onde o parque escolar tem qualidade e responde, globalmente, às necessidades da população. Das escolas que conheço, todas estão bem apetrechadas e oferecem aos alunos boas condições, do ponto de vista dos equipamentos, para a aprendizagem. Também a construção do novo edifício do Hospital decorreu a bom ritmo durante praticamente todo o ano, embora não tenha sido concluído na data inicialmente prevista. Sabe-se que existem dificuldades de tesouraria para a sua conclusão, mas quero acreditar que brevemente a obra será concluída, e que o Hospital não passará também para o lado das más notícias. Onde já temos as dificuldades de tesouraria da Câmara, que as contagiou a algumas Juntas de Freguesia que vivem atualmente graves carências, a recente introdução de portagens nas A23 e A25 ou mesmo as notícias que fomos conhecendo sobre o fecho de várias empresas. Não posso deixar de destacar um tema a que recorrentemente venho aludindo: mais um ano termina, sem que o Parque Industrial tenha sofrido qualquer vestígio de manutenção: pavimento, passeios, sinalização, regulamento de uso dos espaços públicos, tudo continua na mesma. Mesmo intervenções com custo marginal, a Câmara optou por não as realizar. Não por estratégia, mas por falta dela, pelo menos na minha opinião. Contribuindo para uma degradação da imagem da cidade, cuja marca é precisamente a ausência de qualquer ideia sobre que imagem dar de nós. E tratando como um bando de maus munícipes aqueles que questionam, se importam e têm espírito crítico, ao invés de comerem e calarem. Ainda assim, está nas mãos de todos fazer com que os maus tempos que se avizinhem venham a valer a pena, a médio prazo. É com esta esperança que me despeço deste ano, e dos ouvintes do Altitude, desejando a todos um ano novo com Paz, esperança e amizade – valores que por enquanto ainda estão ao nosso alcance."

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Rui Costa


Apesar de ter sido amplamente noticiada, nos meios de comunicação nacional e regional, a distinção do cientista Rui Costa, natural da Guarda, com o prémio Howard Hughes (nos Estados Unidos), não podia deixar passar o fato sem o mencionar aqui no blogue.

Parabéns aos premiados - eles representam a excelência nos seus campos de especialização - mas muito particularmente ao Rui Costa, nosso conterrâneo e meu amigo. Continuem a fazer avançar o conhecimento!

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Feriados

Ouvi hoje nos noticiários o Álvaro comunicar ao País que o Governo decidiu acabar com 2 feriados civis: o de dia 5 de Outubro - implantação da República - e o de 1 de Dezembro - restauração da independência. 
Ouvi depois as opiniões de vários comentadores da praça, mas há uma que gostaria de destacar por coincidir com  a minha: a de Irene Pimentel (historiadora, professora e autora). Diz ela que não se compreende que se acabe com 2 feriados que celebram fatos fundadores da identidade do país, que definem quem somos, para manter alguns feriados religiosos, num país cujo Estado se define como laico.
De facto, muitos dos feriados religiosos não têm hoje, para a maior parte das pessoas, qualquer significado para além do facto de ser um dia passado sem trabalhar. Existem obviamente alguns que ainda representam importantes festas de família, como o Natal ou a Páscoa; mas os restantes...
Por isso esta "partilha" de feriados acordada com a Igreja tem pouca razão de ser e prejudicará a nossa memória coletiva. Se era realmente necessário abolir alguns feriados, mal andou o Governo com a solução que encontrou!

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Crónica Diária - Rádio Altitude

Continuando a reposição, a crónica em 14 de Dezembro foi: 

"Temos vivido, ao longo deste ano, a ouvir falar de uma crise mais grave que as outras que temos vivido. Uma crise que começou nos países periféricos, passou a afectar toda a Europa e ameaça actualmente quase todo o mundo; não só o mundo ocidental, democrático e capitalista, mas também aqueles países que, apesar de ideologicamente marginais, acabaram por de alguma forma ter de se adaptar à pulsão capitalista que hoje é omnipresente. Uma crise quase bíblica, porque para além das suas proporções globais, nos vem castigar pelos nossos pecados de consumidores descontrolados. E uma crise bíblica que, sendo um castigo que merecemos, é a desculpa perfeita para os cortes de direitos e aumentos de impostos a que temos assistido. E que nos têm sido impostos como as únicas soluções possíveis no momento para sairmos da crise. Só que, olhando para o que se passa um pouco por todo o mundo, não podemos deixar de estranhar que países com hábitos e sistemas tão diferentes como Portugal, Irlanda, Argentina ou Paquistão estejam hoje entre os que têm maior risco de incumprimento internacional Creio, portanto, que os cortes salariais e de direitos, bem como os sucessivos aumentos de impostos – a tal solução única – resultam apenas de falta de capacidade para encontrar as soluções realmente estruturais para as nossas fragilidades enquanto economia aberta. Uma falta de capacidade que não é exclusiva deste Governo, obviamente, mas que nele tem continuação. E que assenta em 3 grandes mitos, que se vão repetindo de boca em boca, como aquelas mentiras que tanto serem repetidas acabam por se tornar verdades… O 1º mito é o de que vivemos acima das nossas possibilidades; e é falso, na medida em que é o Estado, principalmente pela via do desperdício, quem mais destrói valor no nosso país, em negócios ruinosos como os estádios do Euro ou as SCUT; não discuto obviamente a utilidade dos equipamentos, mas antes a forma de financiamento encontrada, que deixa o Estado à mercê de uma série de predadores que à boca grande enaltecem as virtudes do sector privado e à boca pequena vivem pendurados em negócios com o Estado. Com a carga de impostos que os portugueses já pagavam antes dos recentes agravamentos dever-se-ia ter gasto mais criteriosamente e, agora que chegou a factura, são os do costume que vão ter de a pagar… O 2º mito é o da falta de produtividade dos trabalhadores; outra incoerência, na medida em que sabemos que a diáspora portuguesa é reconhecida pela sua capacidade de trabalho nas comunidades onde está inserida; e que as multinacionais que se instalam em Portugal não reconhecem qualquer fraqueza à nossa mão-de-obra, quando comparada com a de países economicamente mais fortes que nós, nomeadamente Alemanha e França. Por quê? Por que o que trazem para Portugal são métodos de planeamento e execução de tarefas que os trabalhadores aplicam com o mesmo empenho e profissionalismo que os seus congéneres dos países que citei. O que falha é pois a cultura empresarial, que se permite o esbanjamento de recursos com base nos baixos salários praticados em Portugal; e tem falhado também o estímulo a maior eficiência nas organizações. Assistimos por outro lado a enormes fossos na retribuição de patrões e empregados, não se separando rendimentos do trabalho de rendimentos de capital, misturando-os muitas vezes como se a caixa da empresa fosse a carteira do empresário… Por fim, o mito de que os funcionários públicos vivem rodeados de privilégios. E aqui, metem-se no mesmo saco todos aqueles que, directa ou indirectamente trabalham para o Estado. Que, sendo muitos, têm situações muito distintas… Algumas que deviam até envergonhar quer governantes quer as chefias que delas se servem para manter o seu poderzinho. É certo que o estado já foi um empregador aliciante. Hoje, só o será em alguns – poucos – sectores ou regiões do país, como é o caso da Guarda, onde o aparelho produtivo é ainda escasso. Mas desenganem-se aqueles que pensam que hoje um emprego no sector público é garantidamente bom. Além de desmotivante por estar sempre na linha da frente dos cortes de direitos, começa a carregar um anátema que desmobiliza os melhores e mais empenhados. E um Estado sem trabalhadores de qualidade é um Estado que cada vez gastará mais para produzir menos, num ciclo a que é difícil escapar… E que redundará em novas crises no futuro."

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Ainda a maternidade

Apesar de ainda há poucos dias ter escrito sobre o tema, e de entretanto não ter mudado de opinião, resolvi hoje voltar a ele.
De acordo com a imprensa local, a Administração da ULS iniciou na semana passada uma campanha pela manutenção da maternidade na Guarda. São boas notícias, porque para mim reconhecer que existe um problema é meio caminho feito para o poder resolver.
Mas como não há bela sem senão, quem haviam de convidar para a iniciativa? O Bispo da Diocese da Guarda, pois então! Quem melhor para ajuizar sobre a maternidade? E que melhor do que debitar meia dúzia de lugares-comuns, tipo "a qualidade dos serviços" para de uma penada descredibilizar a sua participação na campanha? 
Volto a insistir naquilo que disse o meu post anterior: falem com as mulheres; com as que cá tiveram os seus filhos e com aquelas que optaram por não os cá ter. Elas melhor do que ninguém sabem o que é bom e o que é mau na maternidade. 
A este propósito, na próxima terça-feira, dia 24 de Janeiro pelas 21.30, a Rádio Altitude dinamizará um debate, no café concerto do TMG, sobre a Maternidade da Guarda. Apesar de já ter um compromisso para essa noite, vou fazer os possíveis para por lá passar.
Penso que a Maternidade da Guarda só tem um caminho: a diferenciação. Tem de fazer diferente. Tem de fazer melhor. Por ela própria, pelos seus profissionais, e por todos nós, habitantes da Guarda.


PS: referi-me acima às mulheres que cá tiveram os seus filhos e às que optaram por os cá não ter; há ainda uma 3ª categoria: aquelas que, não tendo cá tido os seus filhos, o fizeram porque foram encaminhadas para outros Hospitais pelo Hospital da Guarda. Francamente, ainda gostava de saber quantas foram nos últimos anos, porque dessas não tenho ouvido falar...

Foto retirada do site do Jornal O Interior (www.ointerior.pt)

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Bando de Portugal

De acordo com as últimas notícias que ouvi, a administração do Banco de Portugal decidiu pagar - e pagou - o subsídio de férias, seguindo a prática do setor bancário de o pagar junto com o vencimento de Janeiro.
Não é uma decisão que me surpreenda. Devo até dizer que, se tivesse voto na matéria, teria tomado exatamente a mesma decisão.
Porque uma coisa é todos descontarem; foi o que aconteceu com os Subsídios de Natal de 2011, em que não houve grandes hipóteses de contornar a obrigação.
Outra, completamente distinta, é fazer descontar só alguns; obviamente, nesta situação, todos querem estar do lado dos que não descontam. E obviamente só o fará quem não tiver mesmo outra hipótese. Se os trabalhadores de empresas privadas não têm qualquer desconto; se até os administradores de empresas públicas (como por exemplo a Caixa Geral de Depósitos) têm um regime especial que lhes permite não ter qualquer desconto; por que carga de água alguém não há-de também querer pôr-se de fora...?
Diz a sabedoria popular que "quando todos pagam, nada é caro..."; e o problema é que atualmente, são apenas alguns a pagar...

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Crónica Diária - Rádio Altitude

Continuando as reposições, dia 30 de Novembro foi assim:

"Nos próximos dias, muitos de nós realizarão uma fantasia: viajar no tempo! Com a introdução de portagens nas auto-estradas A23 e A25 e com a redução do rendimento disponível das famílias que tem marcado a actuação do actual Governo, pela via da nacionalização de uma parte crescente dos rendimentos do trabalho, muitos de nós passaremos a deslocar-nos de forma idêntica àquela em que o fazíamos há cerca de 30 anos: por estradas nacionais, passando pelo centro de todas as pequenas localidades e a velocidades médias incompatíveis com as necessidades actuais. Tudo isto contribuirá, na minha opinião, para o afastamento do interior das regiões mais desenvolvidas, quer em termos de condições de vida, quer de ambiente propício para negócios, quer mesmo no sentido físico do termo. Por isso, fiquei um pouco perdido ao ter tomado conhecimento do apelo do Sr. Presidente da República para a criação de incentivos à fixação de populações nas zonas rurais, no mesmo dia em que promulgou o Decreto-Lei que determina a introdução de portagens nas auto-estradas do interior. Mesmo estando já habituados a estes anacronismos de Cavaco Silva, fico sem perceber se são acidentais ou propositados. Apesar de o Presidente da República dispor dos meios para ter uma palavra a dizer em questões como esta – nomeadamente o veto político – optou por não o usar neste caso concreto. De resto, numa atitude mais do que previsível, como as restantes que têm marcado o seu mandato. E mostrando que, com Cavaco Silva, a Presidência da República se fica por um verbo de encher, com um actor que fala, fala, mas ninguém o vê a fazer nada! Esta medida em particular será o maior e mais irresponsável ataque do poder central ao interior menos desenvolvido de um Portugal que será cada vez mais assimétrico, perante o olhar complacente mesmo daqueles que elegemos para representar os nossos interesses. A austeridade será pois, de igual forma, assimétrica, por atingir cegamente regiões com índices de poder de compra muito distintos. E esta cegueira conduzirá, em minha opinião, a uma situação pior que a que vivemos hoje, porque não serão feitas algumas correcções que se impõem. Isso mesmo avisou Joseph Stiglitz na semana passada ao povo espanhol, numa conferência em La Coruña. O nobel e ex administrador do Banco Mundial, referindo-se às políticas de austeridade que instituições internacionais como a União Europeia e o FMI têm imposto àqueles a quem prestam auxílio, disse claramente que a austeridade é a receita para o suicídio. Que sem estímulos ao investimento e à criação de emprego, pela via da fiscalidade, e ajustamentos à despesa, as recessões demorarão muitos anos a ser ultrapassadas, massacrando os povos a ela sujeitos. Sabendo que em qualquer situação, os estímulos ao investimento e à criação de emprego têm conduzido a situaçoes favoráveis do ponto de vista do dinamismo das economias – veja-se o exemplo das economias dos países do Norte da Europa, que o souberam fazer melhor do que ninguém pela flexibilidade que a sua escala lhes permite – essa deveria também ser uma receita aplicada entre nós. Alguns membros do Governo têm ainda um capital de credibilidade bastante elevado, entre os quais o Ministro das Finanças. Por isso, tenho alguma esperança que este possa vir a ser um caminho que iniciemos, apesar de os sinais de que dispomos até agora nos indicarem o contrário De qualquer das formas, alguns de nós continuarão teimosamente a viver no interior, a tentar pelos meios ao seu alcance que as desigualdades se atenuem. Uns porque gostam da sua terra, outros porque gostam da vida que lhes é proporcionada. Por tudo isto, nós que vivemos no interior, esperávamos mais dos nossos políticos; que pelo menos percebessem que um interior mais competitivo contribuirá para um país mais forte economicamente. E que um interior por eles afastado, afastar-se-á também na direcção oposta, tal como já fez anteriormente em contextos de grande dificuldade. Lembram-se dos contrabandistas…?"

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Alamedas

A mais recente inovação na requalificação das artérias do centro da cidade é torná-las em algo que chamaria "alamedas com trânsito". Assim numa espécie de ruas largas, que convidem a um passeio ao fim da tarde, mas onde circula trânsito automóvel. Exemplos: a Avenida dos Bombeiros Voluntários Egitanienses e, recentemente, a R. Dr. Lopo de Carvalho.
Percebo que, mais no caso desta última, o acesso por pessoas com mobilidade condicionada ou com um simples carrinho de bebé era complicado na sua anterior configuração. Mas a solução agora posta em prática não é muito melhor. Passo lá diariamente e confesso que sinto muita insegurança por não estar delimitado o espaço que devem ocupar os peões e aquele de que dispõem os carros. E entre estes 2, todos sabemos qual o elo mais fraco. Basta que alguém pare à porta de uma loja, para logo aproveitarem toda a largura da rua, que não tendo qualquer barreira física é aproveitável pelos veículos. E, se é verdade que o civismo manda que haja muita atenção quando se cruzam no mesmo espaço peões e veículos automóveis, se houver um atropelamento naquela artéria não sei como se vai apurar se foi o carro a invadir o espaço dos peões ou o peão a invadir o espaço dos carros. Um atropelamento será sempre um atropelamento, mas existem obviamente diferentes graus de culpa em distintos casos...
Na minha opinião, o ideal seria que aquela rua passasse a ter apenas trânsito num dos sentidos. O que causaria obviamente imensos transtornos para o acesso ao lado da cidade nas zonas da Dorna, R. 31 de Janeiro, etc., que com o fecho do trânsito na Rua do Comércio ficaram assim "separadas" do centro da cidade. Uma solução de sentido único na R. Dr. Lopo de Carvalho só agravaria esses problemas, que já levaram a que, em termos comerciais, tudo quanto existia daquele lado da cidade tenha definhado e alguns mesmo desaparecido.
Talvez esteja na hora de procurar uma solução de acesso àquele lado da cidade; se a autarquia tivesse capacidade financeira, o ideal seria um túnel; mas todos sabemos que não tem, pelo que, nos próximos tempos, essa solução estará fora de questão. Existirão outras...? Eu aposto que sim!

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Regras


Uma das preocupações que tenho na educação dos meus filhos é a de não criar regras a que eu não me sujeite também. Sou da opinião de que é mais fácil criar regras do que segui-las, e por isso cumpri-las legitima o seu estabelecimento.
Acompanhei a odisseia da família deportada pelo Canadá para Portugal por falta de visto de residência naquele País. E percebo o enorme drama que deve ser, na vida de alguém, ter de emigrar para um País que não é o seu, ter de adotar uma língua que não é a sua, observar costumes estranhos, uma vez que seja. Só que aquele nosso compatriota, que já se havia sujeitado a tudo isso uma vez, recomeçando a sua vida na América, viu-se agora forçado de novo a passar por esse sacrifício, juntamente com a sua família. Lamento que a vida traga tantas dificuldades para pessoas que apenas querem seguir em frente.
Mas também é um facto que o Canadá, como nação soberana que é, tem regras, na emigração como noutras questões.
Por isso não compreendo a cobertura que foi dada por alguma comunicação social de crítica à posição do Canadá; e compreendo ainda menos a posição do Governo Português, que pediu "um acto de clemência" para com aquela família.
Se ninguém discute que a regra existe; se ninguém discute que, tecnicamente, a decisão de expulsão do país foi bem tomada, onde é que se pretende chegar? Não perceberão os nossos políticos que é o seu péssimo hábito de tentar furtar-se ao cumprimento das regras que eles próprios criam uma das coisas que mais os descredibiliza?
Em Portugal, para todas as regras, achamos sempre que se "pode dar o jeito", ou seja, contornar as regras. Achamos bem que os outros tenham de as cumprir, mas achamos também que temos um bom motivo para que elas não se nos apliquem. E o Canadá acaba de nos dar um belo exemplo daquilo para que servem as regras: para se cumprirem!

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Quem dá aos pobres...


Coloco sempre reticências quando vejo alguém alardear a caridade que diz fazer. E foi exactamente com essas reticências que encarei a divulgação de mais uma iniciativa da Câmara: a de "distribuir diariamente os excedentes das refeições de três refeitórios municipais por famílias carenciadas do concelho." (Fonte: Expresso Online).
Parece-me uma iniciativa adequada, mas mal comunicada. Porque se refere à doação de "sobras"; porque mistura na mesma frase "excedentes" com "lixo"; e finalmente porque evidencia à saciedade que esta ação não é integrada num plano ou numa estratégia de combate à pobreza, mas antes resulta de uma inspiração do momento; sim, porque não é de agora que existem "sobras", nem "famílias carenciadas", para usar os termos da responsável pela comunicação desta proposta...
Por último, se é certo que "quem dá aos pobres, empresta a Deus", também não é menos certo que a verdadeira generosidade consiste em dividir aquilo que temos, não em dar aquilo que não queremos...

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Crónica Diária - Rádio Altitude

Já devo aqui ao blogue algumas crónicas que li aos microfones da Rádio Altitude, que teve uma vez mais a amabilidade de me renovar o convite para quinzenalmente estar naquele espaço de intervenção cívica.
Aqui fica a primeira da temporada; as outras, seguem dentro de momentos...

"Vivemos dias agitados. O vento forte que se tem feito sentir deixa-nos apreensivos. Coloca-nos questões. Coloca-nos perante os nossos medos.
Não me refiro ao estado do tempo, no sentido meteorológico. Refiro-me ao verdadeiro furacão que têm sido as notícias dos últimos meses.
Aquilo que ainda há um ano nos parecia pessimismo, é hoje a realidade; e o pessimismo de hoje mostra-nos algo com que nem sequer ousámos alguma vez sonhar!
É pois o tempo de tomarmos atitudes colectivas: de percebermos onde o individualismo e a falta de um projecto comum nos vão conduzir: a sermos marionetas nas mãos de um conjunto de agiotas sem rosto que tudo podem e tudo fazem a coberto do livre funcionamento dos mercados.
Começa a ser preocupante assistir, como temos assistido na Grécia e, mais recentemente, em Itália, a nomeações de Governos que não resultam directamente da vontade expressa dos povos. Como se a Democracia também pudesse ser posta em stand-by para “acalmar os mercados” – um expressão que pretende representar um objectivo que tudo justifica.
Mas há algo que essas entidades sabem e que as assusta: a força que representam os cidadãos quando unidos em torno de um objectivo comum. Por isso os diversos agentes políticos tudo têm feito para dividir as pessoas: os professores e os outros; os juízes e os outros; ou os funcionários públicos e os outros. Deixando sempre de fora alguns que ficam assim numa lógica de contrapeso a medidas duras e que, com o seu silêncio legitimam as injustiças que se cometem por incapacidade de tomar as medidas verdadeiramente estratégicas e cujos efeitos a prazo permitiriam corrigir muitos dos desequilíbrios que hoje nos afligem.
Como já havia aqui referido em crónica anterior, como podemos contar com solidariedade europeia se nem à escala do nosso (pequeno) país podemos contar com essa solidariedade? Veja-se o exemplo da Câmara de Barcelos, cujo Presidente anunciou há semanas que era sua intenção proceder ao pagamento de Subsídios de Férias e Natal em 2012 porque a sua Câmara tinha folga orçamental para tal. Sem a noção de que a Câmara de Barcelos não é a sua quinta, onde põe e dispõe; sem a elevação de perceber que essa suposta folga orçamental poderia ajudar no momento difícil que atravessamos. Que país é este onde uns quantos insistem em manter privilégios, mesmo que olhando para o lado se vejam dificuldades aflitivas? Se os mais desfavorecidos não podem contar com o emprenho de Barcelos, deverão confiar no empenho de Bruxelas?
Esta união em torno do objectivo comum de mantermos a nossa autonomia política é exigente em termos de cidadania. Mais do que nunca, é preciso estar atento ao que nos rodeia, reflectir sobre ele e conhecer a história e as lições que ela nos transmite.
Em momentos de aflição, os povos que depositaram a sua confiança em líderes messiânicos, em salvadores omniscientes, acabaram por dar os piores passos, porque confiaram inteiramente neles e deixaram de confiar em si próprios. E por muito iluminadas que sejam algumas consciências, não podem substituir, em nenhum momento, um conjunto alargado de consciências com diversas vivências, tendências e pontos de vista que são afinal aquilo que caracteriza a diversidade da pessoa humana e um dos pilares sobre os quais assenta a Democracia: o de que a minha opinião de Homem simples tem o mesmo valor que a opinião de qualquer Homem que se considere ou mesmo seja por outros considerado um iluminado.
Mantenhamo-nos pois atentos e sem medo de exprimir as nossas opiniões, pois só elas poderão distinguir os fortes dos fracos. E num momento difícil como o que atravessamos, Portugal – que somos nós todos – precisa muito dos fortes para seguir em frente."


Crónica de 16 de Novembro de 2011