quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Petição pelo Noeme

É público e notório o atentado ambiental que é a situação actual do rio Noeme. A situação já foi referenciada em jornais, televisões, e é do conhecimento de todas as autoridades com uma palavra a dizer sobre o assunto. Destas, até hoje, não conheço uma palavra, uma acção. Tão lestas a aplicar coimas a cidadãos comuns e tão indiferentes (para usar um termo suave) quando os poderes em jogo são outros.
Mas há gente que se preocupa - e muito - com o assunto. Um deles é Márcio Fonseca, autor do Blog "Crónicas do Noéme", onde tem denunciado a situação que aquele curso de água vive, a tem documentado e dado a conhecer a todos quantos visitam o blog. E agora lançou mais uma acção: uma Petição Pública.
Porque acho que o assunto é importante, eu já assinei. Se quiser também fazê-lo, está disponível aqui.

Crónica Diária - Rádio Altitude

Hoje, 22 de Dezembro, a minha última crónica do ano no Altitude foi assim:


"O Inverno que ontem se iniciou, este ano, vem mais agreste. E com a promessa de ser mais longo. Não por razões meteorológicas, mas por razões sociais. Porque o Inverno é a estação em que tudo escasseia.
Neste fim de ano, tudo parece feito para nos deprimir. A tradicional quadra natalícia, com ruas iluminadas e música no ar, ficou por concretizar. Na nossa praça velha, chegou a estar um arremedo de árvore de Natal que, de tão raquítica, só servia para agravar a nossa depressão! E logo na praça velha, a sala de visitas da cidade, onde ainda há bem pouco tempo houve condições para receber não 1, mas 2 carreiras. Isso é que eram bons tempos. Em 2 ou 3 meses tudo mudou! Ou pelo menos, assim nos querem fazer crer.
Mas é em condições difíceis que se vê o valor dos homens. E por isso, neste Natal, o nosso pensamento deve ir para além do consumismo que quase domina em exclusivo esta quadra. Devemos ter presentes as dificuldades que vivem tantas famílias e sermos especialmente solidários. No fundo, pouparmos um pouco com quem não precisa e darmos um pouco mais a quem realmente necessita da nossa ajuda. Porque é certamente possível poupar nalgumas inutilidades que o afã de dar nos faz comprar. E essa poupança pode fazer a diferença para alguém.
Também de quem nos governa, é legítimo esperarmos a presença de espírito e discernimento que nos momentos de aflição fazem a diferença entre assumir dificuldades e gerar pânico. Entre gerir em momentos de crise e o desnorte que vemos em algumas economias que ainda há bem pouco tempo eram faróis de boa governação. Sabemos agora que, afinal, eram gigantes com pés de barro. E os nossos, precisamo-los fortes e bem assentes na terra.
No caso específico da Guarda, há muito trabalho pela frente. Trabalho que se exige que seja realizado por forma a podermos continuar a aspirar a sermos uma cidade que dá aos seus cidadãos qualidade de vida. É necessário que o combate político se faça no respeito por princípios de igualdade social e solidariedade, e não a coberto de interesses privados, muitas vezes com olhos postos em lucro fácil, pelo menos na aparência. Quando nos dizem que a cidade tem vários serviços a dar prejuízo, é preciso perceber que é prejuízo financeiro; mas que há lucros sociais, culturais e de bem-estar dos cidadãos que, embora difíceis de quantificar, se traduzem em aspectos positivos para a nossa vivência na cidade. Porque no dia em que só podermos ter os serviços que dão lucro, esse será o dia em que a Guarda e outras cidades pequenas do interior morrerão. Não perceber isto é ter uma espada permanentemente sobre as nossas cabeças. Da mesma forma que é necessário que os actores políticos se preocupem em dar sinais à sociedade que restableçam alguma confiança nas instituições. De outra forma, a crescente descrença das pessoas minará a autoridade e utilidade dessas instituições. E esse será outro dos caminhos para o fim.
Nesta que é a minha última crónica do ano, não poderia deixar de desejar a todos os ouvintes e à equipa da Rádio Altitude uma Boas Festas. Que no meio de tanto pessimismo, se dê o valor devido à família, aos amigos, e aos bons momentos que passamos com eles, tudo coisas que por estes dias andam desvalorizadas no meio de tanta preocupação com assuntos que, vimos depois a perceber, têm bem menos importância que a que em determinados momentos lhe damos.
Desejo que o novo ano que brevemente se iniciará seja o início de um novo ciclo em que as nossas prioridades passem, sem abdicar do bem-estar pessoal, de aspectos materiais para outros mais intangíveis, porém mais gratificantes.
Bom Natal a todos, e até para o Ano se Deus quiser.
"

domingo, 19 de dezembro de 2010

Repúdio

E eis que de repente me surgiu uma dúvida: na improvável e absurda hipótese de uma Assembleia Municipal repudiar um cidadão, este terá de sair do respectivo Concelho?

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Nobel da Paz

Não mencionei aqui o tema apenas por falta de disponibilidade. Mas mesmo com 3 dias de atraso, é demasiado importante para ficar esquecido.
Na sexta-feira passada decorreu em Oslo (Noruega) a cerimónia de entrega dos prémios Nobel. Tratando-se de uma distinção de amplo reconhecimento em todo o mundo, é transmitida pelos canais de televisão com presença global e, salvo raras excepções, contam sempre com a presença dos distinguidos.
Em Outubro passado ficámos a saber que este ano o Prémio Nobel da Paz iria ser entregue a Liu Xiaobo, um cidadão Chinês que tem dedicado uma boa parte da sua vida a reinivndicar, de modo pacífico, a democratização do seu país. E que por isso, a coberto de uma acusação de "subversão ao poder do Estado" está a cumprir uma pena de prisão de 11 anos, não tendo sido autorizada a sua deslocação a Oslo para receber o prémio. Nem a de nenhum dos seus familiares em sua representação.
Na cerimónia tivémos pois uma cadeira vazia - mas cheia de significado.
Segundo tem sido noticiado pelas agências internacionais, também a sua mulher está incontactável, presumivelmente em prisão domiciliária, provavelmente sem culpa formada.
E perante estes factos, o meu pensamento vai para um homem que está preso por um delito de opinião. Num mundo que tantas vezes parece civilizado.
Nestas ocasiões, temos de ver para lá da soleira da nossa porta e lembrar-nos que apesar do conforto com que vivemos, há gente que nada tem - nem o direito a uma opinião, a uma ideia sua. Que apesar de todos os direitos e garantias que conquistámos e de que nos orgulhamos, há homens que nada valem aos olhos de quem os governa. Sim, porque há Governos que prendem os seus cidadãos por professarem pacificamente um ideal.
Mas é também a hora de repensarmos o papel que queremos dar à China. De percebermos que o nosso conforto está cada vez mais a ser assegurado à custa de direitos básicos de cidadãos como os chineses.
Querem um exemplo? Pensem na visibilidade que por estes dias tem sido dada pelos nossos governantes ao facto de a a China se ter comprometido a comprar dívida portuguesa...
Mais sobre este assunto na edição do Público.

Crónica Diária - Rádio Altitude

No dia 8 de Dezembro, a minha crónica no Altitude foi assim:

"Durante toda a semana passada, a Guarda vestiu-se de branco! De segunda a sexta, a semana inteirinha. Apareceu, aos olhos de quem cá vive e de quem a visitou, radiante na sua alvura, transformando os dias sombrios que vínhamos vivendo sob a ameaça da vinda do FMI – que é o lobo-mau dos nossos dias – em dias luminosos, que encantaram todos aqueles que se permitiram olhar a paisagem através de uma janela, aqueles que saíram de casa para comungar com a Natureza que nos presenteou com tanta generosidade. A neve tem o condão de sempre “amaciar” a paisagem agreste desta nossa zona serrana, de arredondar as arestas dos rochedos, de disfarçar o cinzento que no inverno a domina.
Acredito que nem toda a gente a tenha admirado desta forma, mas se há coisa sobre a qual já não tenho ilusões é a capacidade de a nossa sociedade gerar consensos; mais ainda quando se trata de bens públicos.
Que a neve também traz transtornos; atrasos; nervos que vêm da nossa recorrente incapacidade em lidar com um fenómeno ele próprio recorrente na nossa cidade. Mas ainda assim, há quem, como eu, insista em dar ao lado mais belo e positivo do fenómeno a relevância que ele merece e que aqui me permito sublinhar.
Do lado negativo, temos de reflectir sobre ele para podermos mitigar os seus efeitos. Em dias como os da semana passada, tudo o que faz parte da rotina nos falha: os transportes, as escolas dos nossos filhos, a nossa mobilidade dentro da cidade, para citar os mais óbvios. Se do lado das entidades competentes em matéria de protecção civil, todo o esforço físico dispendido por muitos homens e mulheres o é por vezes em vão, essencialmente por falta de um planeamento que permita mais rapidez na detecção e actuação de casos previsíveis, o mesmo se pode dizer de cada um de nós, cidadãos. A maior parte das pessoas que conheço, eu próprio incluído, sente-se por vezes perdido nas decisões que tem de tomar em dias como os que vivemos na semana passada.
Mas da minha experiência, posso assegurar que um mínimo de planeamento faz toda a diferença; se terça-feira o início do dia foi complicado pela falta de planeamento a que me referi, tendo passado os 2 dias seguintes a pensar qual a melhor solução para dar resposta aos cenários que se adivinhavam para quinta e sexta feira, estes correram muito melhor por culpa do planeamento antecipado. Ou seja, como eram previsíveis vários cenários, foi fácil no início de cada dia decidir em função das condições que encontrámos. E assim desapareceu boa parte das dificuldades que costumo ter em dias de nevão e, mais importante, as angústias que com elas vêm! Transformando esses 2 dias em dias quase-normais; permitindo-nos melhor aproveitar a beleza que nos rodeou! E tudo porque em casa eu e a minha mulher dedicámos pouco mais de meia hora a traçar cenários previsíveis e respectivas formas de actuação! Estou pois convencido que este é o caminho para enfrentarmos com crescente normalidade os nevões com que a natureza nos vai presenteando. E, já agora, o caminho para cada vez mais os podermos apreciar na sua beleza e tirarmos deles o máximo partido.
A neve não é uma novidade para a Guarda; há que saber enfrentá-la tranquilamente, naturalmente. Das entidades oficiais, espero uma actuação cada vez mais atempada, profissional e fiável, na medida em que me permita antecipar quais os recursos de que vou dispor em dias de neve. Os transportes públicos são um deles; a interdição da circulação a veículos pesados sem equipamento adequado para circular com neve é outra. Mas neste campo, a fazer fé nas últimas notícias conhecidas, as coisas vão melhorar.
A seguir, é connosco. É a nossa atitude que tem de ser diferente e essa passa por cada um de nós individualmente.
Porque no dia em que, estando sob nevão, a Guarda seja notícia porque as pessoas tiram partido da neve, da sua beleza, com um mínimo de perturbação das suas vidas, passaremos a dispor de um Activo importantíssimo: uma capacidade de atracção cujos frutos a Guarda merece. Um activo que em vez de ser um mero “Cidade Neve” oco e sem qualquer aderência à realidade possa ser um “Cidade com Neve” que projecte a imagem de bela Cidade de Montanha que sempre fomos."