domingo, 31 de janeiro de 2010

GuardaLink


A primeira vez que ouvi falar do projecto - há uns 2 ou 3 anos, na altura ainda sem nome - fiquei muito, mas muito reticente. Primeiro porque achava, e continuo a achar, que o transporte rodoviário de mercadorias tal como hoje o conhecemos é insustentável: exerce uma grande pressão sobre o tráfego rodoviário, é ineficiente do ponto de vista dos recursos consumidos e, mais importante, só é possível num contexto de combustíveis baratos como o que (ainda) vivemos actualmente mas que começa já a dar alguns sinais de poder vir a alterar-se a médio prazo. E em segundo porque o projecto aparecia como fruto de uma estratégia de pull (com o Nerga a procurar trazer empresas para o projecto), quando a experiência me diz que raramente este tipo de projectos conhece grande sucesso, ao invés de estratégias de push, em que são as empresas a detectar a oportunidade no mercado e a conjugar esforços para a capitalizar a seu favor.
Entretanto, o projecto foi sendo desenvolvido e esta semana, através do jornal O Interior, fiquei a saber mais alguns pormenores sobre ele.
E o que li contrariou a minha opinião inicial, deixando-me até optimista em relação a ele! Afinal, o projecto conseguiu ganhar dimensão para se tornar um player com peso no mercado, ao reunir 25 empresas do sector, 18 das quais da Guarda, com um volume de negócios estimado no primeiro ano de 60 milhões de Euros. Pese embora estejamos a falar de um sector com um Valor Acrescentado Bruto relativamente reduzido, ainda assim o impacto de um projecto destes ao nível do da criação de valor e emprego é evidentemente importante para a região; além do que, uma empresa desta dimensão terá uma visão privilegiada da envolvente e estará mais preparada para evoluir o seu modelo de negócio, tendo em atenção as Ameaças que indiquei no início, do que a generalidade das pequenas transportadoras. E esta questão leva-me a comentar o outro grande mérito conseguido para o projecto: a sua gestão. Pondo de parte a lógica que costuma prevalecer em projectos baseados em estratégias de pull, de tentativa de controlo e manutanção do poder por parte dos líderes do projecto, no GuardaLink a gestão vai ser independente dos accionistas, com um Conselho de Administração verdadeiramente profissional, que naturalmente executará a estratégia dos accionistas e que a estes terá de prestar contas! Este foi o caminho que sempre defendi para a PLIE. E considero que esta só não tem hoje mais investidores por causa do modelo de gestão que foi seguido.
Assim, parece-me que o GuardaLink tem boas condições para ser um projecto de sucesso - e sabemos que, mais do que nunca, a Guarda precisa de bons projectos empresariais como de pão para a boca - estando pois de parabéns o NERGA pela forma como conduziu o projecto, discretamente mas, ao que tudo indica, de forma eficaz.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

É Carnaval...


Pela minha parte, começo a levar um bocado a mal...

A Câmara vai organizar novamente, no Carnaval, um desfile com os Jardins de Infância e escolas da cidade... na rua. Parece que não bastou no ano passado terem tido que adiar o desfile previsto quase até à Pascoa para perceber que não é lá grande ideia organizar desfiles de rua em Fevereiro na Guarda. Que levassem as crianças para o Rio de Janeiro, ainda vá lá....

Todos sabemos que o Inverno na Guarda é rigoroso, com muito frio, nevoeiro, chuva e neve. E nestas condições, francamente, não acho muito sensato planear desfiles pelas ruas da cidade de crianças entre os 3 e os 10 anos. Eu até sou dos que acho que as crianças devem habituar-se a andar na rua, gosto que os meus filhos brinquem na neve e quantas vezes os não obrigo a largar o quentinho e a televisão para sairem um pouco, nem que seja meia-hora e caminhar na rua. O que é muito diferente de passarem uma tarde inteira de Fevereiro a andar pelas ruas da cidade em marcha-lenta...

Penso que têm de se encontrar novas formas de celebrar o Carnaval na Guarda; acho muitíssimo bem que a Câmara promova esta celebração e um desfile onde se juntem as crianças da nossa cidade, mas das duas uma: ou escolhe outra altura (mais Primaveril) e com outro pretexto, ou outro "figurino" para a celebração (num sítio coberto).

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

0%


O Sr. Ministro das Finanças comunicou ontem ao País que é sua intenção congelar os aumentos dos funcionários públicos este ano e que isso mesmo vai propôr aos parceiros sociais.

Para não variar, logo o coro de protestos do costume se fez ouvir: que é inadmissível, que os funcionários públicos não são os culpados da crise e das dificuldades orçamentais actuais, etc.

Mas vamos ser sérios: só quem tenha andado muito distraído nos últimos tempos se pode admirar perante uma proposta destas. Depois de sabermos que o défice das contas públicas voltou a subir acima dos 9% - ou seja, o Estado gastou mais do que recebeu - e que a nossa dívida externa ultrapassa já 100% do PIB - ou seja, se durante um ano todos trabalhássemos exclusivamente para poder pagar essa dívida, ainda assim não o conseguiríamos fazer - não pode ser surpresa a medida agora tomada. Que além disso nem sequer é grande novidade, uma vez que vários economistas já tinham defendido publicamente esta medida como forma de re-equilibrar as contas públicas.

Por outro lado, com os valores de aumentos que se verificaram nos salários do ano passado (para quem não se lembra: ano de eleições) e os valores de inflação verificados no mesmo período (os mais baixos desde sempre), outra coisa não seria de esperar.

Só me admiro com uma coisa: aqueles que vêm defender grandes greves e manifestações contra este estado de coisas propõem o quê em alternativa? É que eu não vejo nenhuma... e sou daqueles que, não sendo funcionário público, não vai ver aumento nenhum este ano!

Todos sabemos que este tipo de reacção tem mais a ver com a manutenção do status quo dos sindicatos do que com os reais interesses do País - e portanto dos seus funcionários.

Mas não sejamos inocentes: preparemo-nos para o sacrifício, mas sejamos também exigentes na hora de exigir os resultados dos nossos sacrifícios; sejamos exigentes connosco, mas sejamo-lo também com aqueles que agora nos pedem "sangue suor e lágrimas" e façamo-los responder pelos resultados dos sacrifícios que agora nos pedem!
Actualização: alertado por um leitor atento, reparei que o post inicial continha uma imprecisão, que naturalmente corrigi. A ele, os meus agradecimentos.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Por que gosto do "Top Gear"


Desde pequeno que gosto de carros. Gosto da sensação de ter uma máquina que responde aos meus comandos e obviamente da sensação de poder controlar uma massa que pode ir de uma a mais de duas toneladas e meia. A observação dos fenómenos da física a enquanto se conduz é, para mim, uma sensação revigorante: gosto de sentir a transferência de massas durante uma travagem, as diferença que podemos experimentar em abordagens diferentes a uma mesma curva, etc. Para além disto, existem os aspectos estéticos e a paixão. Esta será porventura a mais difícil de explicar; por que se gosta de um carro e não se gosta tanto de outro. São, está claro, aspectos que variam de pessoa para pessoa, mas são eventualmente os que fazem a diferença na hora da compra.

Habituei-me a ver alguns programas ou magazines de carros que foram passando pelas nossas televisões; ou a ler algumas revistas que se dedicam ao assunto. Mas rapidamente perdia o interesse: na maior parte dos casos, não são mais do que um desfilar de números de potência, cilindrada, volume de carga ou do porta-luvas, gadgets curiosos, etc. E para mim, nada disto é decisivo na hora de escolher.

Por isso há uns anos apaixonei-me por uma revista sobre automóveis que para mim continua a ser a melhor na sua área: a Evo. Aqui, além de poder ler os ensaios ao que melhor se faz na indústria automóvel, a linguagem transmite na perfeição a paixão de quem faz o trabalho. As sensações que transmite na condução, os aspectos estéticos ou pura e simplesmente a adrenalina que um carro nos pode fazer libertar, tudo lá está. Para mim, ísto é o que verdadeiramente distingue o jornalista especializado em automóveis e o que se limita a descrever e discorrer sobre um conjunto de números, fornecidos pelos fabricantes.

Na televisão (por cabo), pode-se também assistir a um programa muito dentro deste espírito: Top Gear. Produzido pela BBC, passa no Discovery Channel diariamente. Podemos assistir a ensaios de um Bugatti Veyron, e a seguir de um Citroen C1. E em todos, com pontos fortes e fracos, cada qual no seu "campeonato". E a linguagem transmite exatctamente a paixão de quem gosta de automóveis . Que se vê, por exemplo, após um ensaio ao Ferrari 599, quando o apresentador refere que é dos carros mais fantásticos que alguém pode conduzir, mas que nele não produziu o clic que lhe faria comprá-lo, porque não mostrou nem alma, nem coração. E os carros, para quem não se limita a fazer-se transportar por eles, têm muito a ver com isto...

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

O Processo



Vim a saber que José Albano Marques, Presidente da Federação Distrital do PS e deputado da Nação, eleito pelo círculo eleitoral da Guarda processou por difamação Carlos Baía, a propósito de uma crónica deste emitida pela Rádio Altitude. A história está explicada neste post do blog "Café Mondego", pelo que não vale a pena alongar-me aqui mais sobre o assunto.
Todavia, gostaria de manifestar aqui a minha opinião sobre este assunto, já que a Crónica que veio a dar origem a todo este processo me tocou especialmente. Assim, abaixo reproduzo um comentário que deixei ao post que referi acima do blog alimentado por Américo Rodrigues:

"Recordo bem a polémica que deu origem a este caso. E tudo o que Baía referiu na sua crónica - para mim uma das melhores emitidas durante a temporada da RA - foi dito e redito por outros órgãos de comunicação social e até por outros comentadores da praça. Obviamente, não com a acutilância de Baía que, apareentemente, não esteve para pôr paninhos quentes sobre o sucedido e resolveu mostrar a sua indignação. E a indignação não se mostra de outra forma que não seja com firmeza e frontalidade. Foi isto que vi e que me agradou na crónica de Baía. Não a achei especialmente ofensiva nem um ataque pessoal; apenas uma opinião séria e fundamentada sobre um (triste) caso.
Não conheço pessoalmente Baía; mas não posso deixar de manifestar publicamente a minha solidariedade com ele pela sua frontalidade, e repudiar aquilo que considero uma tentativa soez de o calar, de o intimidar. Cidadãos com a dimensão de Carlos Baía fazem-nos demasiada falta para que agora assobiemos para o lado fingindo não perceber o que se está a passar ou que não é nada connosco. "



PS: na foto, uma imagem do filme de Orson Welles "O Processo", uma adaptação da novela homónima de Franz Kafka.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Escape (pouco) Livre


Em reunião de Câmara realizada ainda em 2009, os vereadores eleitos pelo PSD na Câmara da Guarda questionaram a atribuição de subsídios a entidades que alcançaram alguma autonomia financeira (com mérito próprio). A questão foi levantada a propósito da atribuição ao Clube Escape Livre de (mais) um subsídio.

Devo dizer que o princípio me parece justo e, numa lógica de escassez de recursos, ajustado. Devem apoiar-se as colectividades que mostrem ser relevantes para o Concelho (nas várias vertentes possíveis de intervenção na vida pública), nas sua fase mais crítica - a fase de nascimento - e ser progressivamente reduzida a subsidiação logo que tal colectividade alcance o equilíbrio das suas contas. Por princípio, sou absolutamente contra subsídios ad eternum, por não estimularem uma cultura de independência financeira. Como um Pai que ajuda (sustentando) um filho nos primeiros anos de vida, até ao dia em que este se veja capaz de subsistir pelos seus próprios meios. Um clube criado para receber subsídios anos e anos a fio não tem sustentabilidade e, portanto, deve ser revista a sua forma de financiamento, a não ser que apenas preste serviço público, o que não me parece que seja o caso.

Não está aqui em causa o mérito do clube, o contributo que tem dado para a divulgação da região. Esse é inegável e conhecido. Está em causa o princípio que enunciei acima.

Ora, sucede que o Clube Escape Livre, pela voz do seu Presidente da Direcção, manifestou-se muito agastado com as reservas levantadas, tendo chegado ao ponto de ser "deselegante" (veja-se aqui uma figura de estilo) com os vereadores em questão, que ali estão eleitos pelos Guardenses.
Portanto, sucedeu neste caso aquilo que sucede quase sempre: o subsídio, de tão repetido, já não é uma contribuição de ajuda ao clube, é uma obrigação por parte da Câmara.

E o que sabemos sobre o clube? Sobre as suas contas? Alguns dirão que não temos nada com isso. Pois, só temos de continuar a ver lá ser aplicado o nosso dinheiro.
Quantos sócios tem o clube? Vivo na Guarda há 37 anos e não me lembro nunca de uma campanha para angariação de sócios... Quanto do seu orçamento anual é coberto pela quotização dos sócios?
Interessam-me as respostas a estas perguntas, na medida em que, na gestão de dinheiro público, é bom que exista transparência. Nada mais...

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Trânsito


Ouvi ontem pela manhã que na Operação de Natal e Ano Novo a GNR contabilizou mais acidentes que igual período do ano passado. O responsável que falou à rádio dizia-se mesmo muito preocupado com os indicadores referidos.

Já hoje, à hora do almoço, vi o Ministro da Administração Interna apresentar as estatísticas referentes à sinistralidade na estrada no ano 2009, evidenciando o facto de se terem registado menos mortes que no ano anterior.

Ouvindo estas 2 notícias, constato que em Portugal, a sinistralidade rodoviária é ainda uma área onde as autoridades nos tratam como se fôssemos atrasados mentais. Se não vejamos: como é possível, em 2 dias consecutivos, serem as próprias autoridades a apresentar resultados evidenciando uma coisa e o seu contrário? A resposta é simples: num dos casos, a conclusão é irrelevante porque não se comparam 2 realidades iguais. Basta consultar os registos meteorológicos para os períodos em que decorreu a operação de Natal e Ano Novo nos anos 2008 e 2009 para, facilmente, se concluir que as condições não são sequer parecidas, o que enviesa os resultados da comparação, tornando-a INÚTIL. E o que conduz a isto? O período de tempo em análise ser demasiado curto para lhe permitir relevância estatística. Tentem lá comparar o nº de mortes na estrada, digamos, no dia 6 de Janeiro de 2010 e no mesmo dia de 2009 e tirem as vossas conclusões...

Assim, continuo à espera do dia em que veja aparecer alguém com coragem para fazer algo que inverta a lógica actual de "fonte de receitas" para uma lógica de verdadeira prevenção de acidentes. Ou querem convencer-me que 2 agentes sentados num carro escondido numa recta (de preferência a descer) ao invés de estarem na berma da estrada, fora do carro, bem visíveis nessa mesma recta previne os acidentes de aí acontecerem? Mas conseguem, sem sombra de dúvidas, levantar muitos mais autos de contra-ordenação! É bom para os cofres do Estado. E se tiver um acidente, olhe... fosse mais devagar.