quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

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O Sr. Ministro das Finanças comunicou ontem ao País que é sua intenção congelar os aumentos dos funcionários públicos este ano e que isso mesmo vai propôr aos parceiros sociais.

Para não variar, logo o coro de protestos do costume se fez ouvir: que é inadmissível, que os funcionários públicos não são os culpados da crise e das dificuldades orçamentais actuais, etc.

Mas vamos ser sérios: só quem tenha andado muito distraído nos últimos tempos se pode admirar perante uma proposta destas. Depois de sabermos que o défice das contas públicas voltou a subir acima dos 9% - ou seja, o Estado gastou mais do que recebeu - e que a nossa dívida externa ultrapassa já 100% do PIB - ou seja, se durante um ano todos trabalhássemos exclusivamente para poder pagar essa dívida, ainda assim não o conseguiríamos fazer - não pode ser surpresa a medida agora tomada. Que além disso nem sequer é grande novidade, uma vez que vários economistas já tinham defendido publicamente esta medida como forma de re-equilibrar as contas públicas.

Por outro lado, com os valores de aumentos que se verificaram nos salários do ano passado (para quem não se lembra: ano de eleições) e os valores de inflação verificados no mesmo período (os mais baixos desde sempre), outra coisa não seria de esperar.

Só me admiro com uma coisa: aqueles que vêm defender grandes greves e manifestações contra este estado de coisas propõem o quê em alternativa? É que eu não vejo nenhuma... e sou daqueles que, não sendo funcionário público, não vai ver aumento nenhum este ano!

Todos sabemos que este tipo de reacção tem mais a ver com a manutenção do status quo dos sindicatos do que com os reais interesses do País - e portanto dos seus funcionários.

Mas não sejamos inocentes: preparemo-nos para o sacrifício, mas sejamos também exigentes na hora de exigir os resultados dos nossos sacrifícios; sejamos exigentes connosco, mas sejamo-lo também com aqueles que agora nos pedem "sangue suor e lágrimas" e façamo-los responder pelos resultados dos sacrifícios que agora nos pedem!
Actualização: alertado por um leitor atento, reparei que o post inicial continha uma imprecisão, que naturalmente corrigi. A ele, os meus agradecimentos.

3 comentários:

Unknown disse...

Lamento mas o PIB não é nada do que disse «um ano o Estado pegasse no dinheiro todo que recebe e não pagasse».

Rever definição de P.I.B. s.f.f...a situação é mais grave ainda...

Devia saber o significado de PIB?

Rui Ribeiro disse...

Tem razão o leitor; na minha ânsia de simplificar o conceito, acabei por cometer uma imprecisão: o PIB corresponde, em termos simplistas, à produção do país durante um ano. Vou portanto rectificar o texto. Agradeço ao Miguel o seu reparo, que sem dúvida torna as coisas mais exactas.
Quanto à sua pergunta final: não devíamos todos...?

Unknown disse...

Os que tiram mais do que o que dão ao país não prescisam saber os conceitos...

Obviamente, não era uma crítica ao seu texto, porque ele reflete uma verdade económica e social interessante e irresponsavél.