quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

A cerca

O espaço a que chamamos "Cerca do Sanatório" é um dos mais belos recantos da cidade. Além de representar um enorme privilégio termos uma mancha com aquelas características praticamente no centro da cidade. Só que a cerca tem um grave problema: o seu dono!
Só o Estado, esse ente sem rosto que tudo tem e tudo pode, seria capaz de tratar tão mal um Património (com maísculas, notem) com aquela riqueza. Em termos florestais, porque representa um verdadeiro "pulmão" para a cidade aquela mancha de arvoredo; em termos de biótopo, porque se trata do único parque de sequóias da Europa, com 54 árvores plantadas, com menos de cem anos. Se pensarmos que não atingiram ainda metade da altura com que vão ficar e vivieram menos de um décimo daquilo que é norma entre estas coníferas, temos necessariamente de as encarar com enorme respeito! Nós, cidadãos da Guarda, já que o dono não parece muito preocupado em fazê-lo... Já para não falar dos pavilhões que por lá tem a cair de podres há tantos anos, sem que ninguém se preocupe em os requalificar, pelo menos ao nível de consolidação da estrutura e arranjo de fachadas.
Temos de reconhecer a visão inspiradora de todos os que contribuíram para a cerca seja aquilo que hoje conhecemos.
A semana passada dei conta de alguns funcionários municipais (pelo menos foi o que me pareceu) andarem "de volta" de uma árvore na Av. Rainha D. Amélia. Cortando ramos e vedando o trânsito à volta do local onde estava plantada. No final, restou pouco mais que as raizes, uma vez que foi cortada pela base do tronco. E não me pareceu, pelo que vi dos restos do tronco, que a árvore estivesse podre ao ponto de representar uma ameaça para os transeuntes.
Esta semana, ao ouvir na Rádio Altitude a crónica de Adelaide Campos, fiquei a pensar: "ó Rui, terás ouvido bem? Aquela árvore já lá estava quando construiram o muro da cerca?" E voltei então ao local do crime, para confirmar a ideia. O que acabou por acontecer. Aquele é de facto o único "nicho" existente no muro para albergar uma árvore. Em toda a sua extensão, não existe mais nenhum, o que é um forte indício que o nicho não foi planeado antes para depois ali ser plantada uma árvore, foi antes um artifício usado pelos construtores para poderem manter a árvore que já lá devia estar. Isto demonstra o enorme respeito que existia, em tempos idos, pela Natureza. Hoje, não tenho dúvida que a opção seria arrancar a árvore, construir o muro e, na melhor das hipóteses, plantar outra árvore... Sem respeito nenhum pelo património que uma árvore adulta representa!
E agora: alguém vai voltar a plantar uma árvore naquele local? É que é o mínimo que o respeito impõe...

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