No passado dia 5 de Maio a crónica foi:
"Fará no próximo dia 20 precisamente um ano que a minha crónica diária aqui no Altitude versou a crise. Estava-se nessa altura ainda no meio do turbilhão, mas os avisos já ecoavam, vindos de diversos quadrantes.
Cabe aqui recordar que nessa altura referi que apesar de muito se falar e escrever sobre a crise, me preocupava especialmente o período que se lhe sucederia, a ressaca – como então lhe chamei. Era expectável que a conta das medidas anti-crise fosse alta, que aliada a uma previsível subida das taxas de juro – sim porque até as medidas anti-crise serão pagas a crédito - conduziria a 2 ou 3 anos difíceis para todos nós. Não estava a ser pessimista; apenas, da leitura que fazia da situação e dos avisos dos especialistas, realista.
Pois bem, tenho uma confissão a fazer aos ouvintes: estava enganado! Muito enganado. Afinal, dou-me hoje conta, vai ser muito pior do que aquilo que esperava.
Daí que a minha preocupação seja que se comece o quanto antes a dar a volta à situação. Não se pode adiar por um ano; tem de se começar o quanto antes. É necessário que Orçamento de Estado seja revisto e que as medidas difíceis comecem o quanto antes a ser tomadas. Sabemos que, quando se cai nas malhas do crédito, adiar complica sempre, sempre, a situação.
É normal que todos queiramos mais do Estado, que achemos que chegou a nossa vez, que já esperámos demais. As notícias, porém, não podiam ser piores: não dá mais. O Estado está financeiramente asfixiado por anos e anos de concessões a corporações, a interesses mais ou menos claros e legítimos, a aspirações de todos quantos vêm nele uma forma de conseguirem aquilo que sozinhos não conseguem. É preciso parar o quanto antes e reduzir a despesa com tudo o que não é indispensável: um aeroporto que tem como pressuposto um aumento muito significativo no tráfego aéreo no qual não acredito; um comboio de alta velocidade que terá uma exploração deficitária por muitos anos, pelo que aos custos de construção temos de somar os custos com essa exploração para termos uma ideia do buraco que vamos estar a cavar; mais auto-estradas, no país da EU que mais km deste tipo de vias tem por habitante, algumas praticamente sem trânsito (veja-se o exemplo da auto-estrada Lisboa-Évora…); mais pontes que despejarão mais automóveis em cidades já congestionadas; os médicos, enfermeiros, professores, pilotos, etc., por muita razão que tenham nas suas reinvindicações, têm de mostrar o bom-senso de negociar um adiamento daquelas que implicarão mais despesa para o Estado. Mas também ao nível das autarquias, tem de haver um claro esforço de contenção nos custos. No caso da Guarda, se os custos com uma estrutura como o TMG podem ser considerados custos sociais – porque a iniciativa privada não dá resposta às necessidades que aquele equipamento veio colmatar – já no caso, por exemplo, do Hotel de Turismo, não se pode pedir aos cidadãos que encarem os sucessivos prejuízos como um custo social, sabendo-se que o alojamento turístico está hoje perfeitamente assegurado na cidade; e se mais necessidade se vier a revelar – e oxalá que assim seja – tenho a certeza que rapidamente surgirão novas unidades.
Termino com o desejo de que todos os sacrifícios que nos vão ser pedidos sejam antes de mais partilhados por aqueles que no-los vão pedir: gostava que os políticos, num gesto de humildade, abandonassem – pelo menos alguns – a pose de pessoa a quem todos devem e baixassem também os seus vencimentos e vissem as suas regalias reduzidas. Sei muito bem que essa poupança seria inexpressiva nas contas do Estado, mas daria um sinal a todos nós – que vamos passar a pagar mais impostos e ver os nossos rendimentos reais diminuir, talvez mesmo significativamente – nos próximos anos, de que desta vez vai doer a todos… "
"Fará no próximo dia 20 precisamente um ano que a minha crónica diária aqui no Altitude versou a crise. Estava-se nessa altura ainda no meio do turbilhão, mas os avisos já ecoavam, vindos de diversos quadrantes.
Cabe aqui recordar que nessa altura referi que apesar de muito se falar e escrever sobre a crise, me preocupava especialmente o período que se lhe sucederia, a ressaca – como então lhe chamei. Era expectável que a conta das medidas anti-crise fosse alta, que aliada a uma previsível subida das taxas de juro – sim porque até as medidas anti-crise serão pagas a crédito - conduziria a 2 ou 3 anos difíceis para todos nós. Não estava a ser pessimista; apenas, da leitura que fazia da situação e dos avisos dos especialistas, realista.
Pois bem, tenho uma confissão a fazer aos ouvintes: estava enganado! Muito enganado. Afinal, dou-me hoje conta, vai ser muito pior do que aquilo que esperava.
Daí que a minha preocupação seja que se comece o quanto antes a dar a volta à situação. Não se pode adiar por um ano; tem de se começar o quanto antes. É necessário que Orçamento de Estado seja revisto e que as medidas difíceis comecem o quanto antes a ser tomadas. Sabemos que, quando se cai nas malhas do crédito, adiar complica sempre, sempre, a situação.
É normal que todos queiramos mais do Estado, que achemos que chegou a nossa vez, que já esperámos demais. As notícias, porém, não podiam ser piores: não dá mais. O Estado está financeiramente asfixiado por anos e anos de concessões a corporações, a interesses mais ou menos claros e legítimos, a aspirações de todos quantos vêm nele uma forma de conseguirem aquilo que sozinhos não conseguem. É preciso parar o quanto antes e reduzir a despesa com tudo o que não é indispensável: um aeroporto que tem como pressuposto um aumento muito significativo no tráfego aéreo no qual não acredito; um comboio de alta velocidade que terá uma exploração deficitária por muitos anos, pelo que aos custos de construção temos de somar os custos com essa exploração para termos uma ideia do buraco que vamos estar a cavar; mais auto-estradas, no país da EU que mais km deste tipo de vias tem por habitante, algumas praticamente sem trânsito (veja-se o exemplo da auto-estrada Lisboa-Évora…); mais pontes que despejarão mais automóveis em cidades já congestionadas; os médicos, enfermeiros, professores, pilotos, etc., por muita razão que tenham nas suas reinvindicações, têm de mostrar o bom-senso de negociar um adiamento daquelas que implicarão mais despesa para o Estado. Mas também ao nível das autarquias, tem de haver um claro esforço de contenção nos custos. No caso da Guarda, se os custos com uma estrutura como o TMG podem ser considerados custos sociais – porque a iniciativa privada não dá resposta às necessidades que aquele equipamento veio colmatar – já no caso, por exemplo, do Hotel de Turismo, não se pode pedir aos cidadãos que encarem os sucessivos prejuízos como um custo social, sabendo-se que o alojamento turístico está hoje perfeitamente assegurado na cidade; e se mais necessidade se vier a revelar – e oxalá que assim seja – tenho a certeza que rapidamente surgirão novas unidades.
Termino com o desejo de que todos os sacrifícios que nos vão ser pedidos sejam antes de mais partilhados por aqueles que no-los vão pedir: gostava que os políticos, num gesto de humildade, abandonassem – pelo menos alguns – a pose de pessoa a quem todos devem e baixassem também os seus vencimentos e vissem as suas regalias reduzidas. Sei muito bem que essa poupança seria inexpressiva nas contas do Estado, mas daria um sinal a todos nós – que vamos passar a pagar mais impostos e ver os nossos rendimentos reais diminuir, talvez mesmo significativamente – nos próximos anos, de que desta vez vai doer a todos… "
2 comentários:
A propósito...
http://www.youtube.com/watch_popup?v=m2B7RWJY--A
Os sacrifícios não são partilhados. Isso é uma grande mentira. Só seriam partilhados se:
- se cobrasse integralmente o imposto sobre todas mais-valias bolsistas e sobre os fundos de investimento especulativo (na Dinamarca, por exemplo, cobrasse 45% de imposto sobre todos os movimentos bolsistas);
- se cobrasse imposto sobre as mais-valias das SGPS (estão isentas);
- se cobrasse taxa tributária sobre as saídas de capital para off-shores (só em 2008 e 2009 foram 19 mil milhões de euros, o que cobrado a taxa de IRC de qualquer empresa, renderia ao estado mais de 4000 milhões de euros, ou seja, 5% do défice seria de imediato anulado);
- se, já agora, se cobrasse imposto sobre o total de 115 mil milhões de euros de dinheiro português em off-shores (um total que é quase igual ao PIB português!): desta forma não teríamos défice, teríamos super-avit!;
- se os bancos pagassem tanto IRC como todas as outras empresas (ao contrário do 25% normais, pagam apenas cerca de 10% reais), por forma a permitir que as PMEs pudessem ver a sua taxa de IRC baixar um pouco (para 20%, por exemplo);
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