quinta-feira, 30 de julho de 2009

Associação Comercial da Guarda


Acabo de ver no "Terras da Beira" de hoje a notícia que dá conta que a Associação Comercial viu os seus bens serem penhorados por dívida a um ex-funcionário. É uma notícia que me deixa triste, porque dá uma ideia do estado a que chegou a capacidade financeira e a credibilidade de uma Instituição centenária, com um Património - não físico, mas de realizações e memórias - vasto.

A Associação Comercial (ACG) foi o meu primeiro empregador "a sério". Digo "a sério" porque os que tive anteriormente apenas serviram para saber o que não queria fazer e o que é trabalhar sem gosto naquilo que se faz. Por isso, guardo óptimas recordações do tempo que lá trabalhei.

Quando lá cheguei, em finais de 1996 encontrei uma equipa fantástica, das melhores que conheci até hoje! E quem tem a mínima noção do que é a gestão de organizações sabe bem do que falo quando digo que um dos maiores desafios actualmente é precisamente a constituição de equipas que funcionem como tal, que se possam ver como um "ente" autónomo de cada uma das pessoas que o compõem. Tive o privilégio de, por algum tempo, fazer parte dessa equipa cujo valor era reconhecido nas Instituições nacionais com quem nos relacionávamos: CCR (actualmente CCDR), Direcção-Geral do Comércio, Confederação do Comércio de Portugal, para citar as mais frequentes.

A ACG contava nessa altura com a capacidade analítica e conhecimento da realidade empresarial do Rui Vila Flor, com a competência em matéria de Formação Profissional do Fernando Marques, com a entrega na organização de eventos do Luis Salvador, com o rigor na gestão e estratégia do Dr. Pina Coelho; mas também com o apoio inestimável da Estela e do Sr. Ivar. Era esta a equipa que levava o barco para a frente e que, com o apoio das Direcções esteve na génese da Escola Profissional, da requalificação do aparelho comercial da zona histórica do PROCOM (que apenas abrangeu as empresas, já que os investimentos públicos que a Câmara Municipal se comprometeu a fazer estão até hoje à espera de serem feitos, apesar de ter tido apoios de vulto contratualizados que entretanto perdeu), de milhares de horas de formação ministrada a empregados e desempregados, de concursos de montras, animações de rua, recuperação do edifício da antiga Escola Comercial onde passou a ser a sede da associação, entre outros projectos levados a cabo.

Atrevo-me a dizer que, face à minha experiência dessa altura na representação da ACG, esta tinha muito mais crédito fora da Guarda do que por cá! Mas isso se calhar não é de estranhar...

Havia um princípio estratégico, imposto pelo Secretário-Geral e sempre secundado pelas Direcções, que estava na base de todas as decisões que se tomavam: não se avançava com a realização de qualquer projecto sem estar assegurado o seu financiamento. Desta forma, apesar de por vezes haver atraso nos recebimentos e consequente atraso em pagamentos, a situação nunca chegava a ser preocupante e era aceite pelos fornecedores.

Mas a partir de determinada altura este princípio deixou de ser aplicado: fizeram-se avultados investimentos cujo financiamento não estava garantido; usou-se para isso financiamento para outras actividades, que ficaram por sua vez "descobertas", o que acabou por gerar as enormes dificuldades de tesouraria que hoje a ACG conhece. Ao mesmo tempo, os responsáveis mostraram-se incapazes de motivar ou sequer manter em funcionamento a fantástica equipa de que dispunham. Tudo isto, como uma bola de neve, redundou num conjunto de dificuldades sucessivas até chegarmos ao ponto em que hoje a associação se encontra... É triste para a cidade, para os seus comerciantes; mas especialmente para mim e, tenho a certeza, para todos os que lá trabalharam com imenso esforço, mas um orgulho ainda maior.

Penso que, numa atitude de reflexão no mínimo responsável, caberá hoje perguntar a quem serve a ACG. Se faz sentido ainda a sua existência no contexto actual. Quais serão as saídas para a situação que vive.

Dos órgãos eleitos fazem parte cidadãos/empresários considerados na Guarda. Deles não se espera outra atitude que não seja a de esforço na busca de soluções para aquele imenso património. Mas todos os comerciantes, principalmente os associados, devem reflectir no que querem fazer da ACG, que é sua por direito.

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