"É recorrente começar por dizer que vivemos tempos em que a informação circula muito rapidamente. Todos o sabemos. Quer seja pelas tecnologias de informação e comunicação, que colocam ao dispor de qualquer um de nós um conjunto de ferramentas que nos permitem rapidamente passar a ser fonte de informação, a ser um cidadão-repórter, quer seja pelo facto de quanto mais informação temos mais necessidade dela daí advém, num ciclo vicioso que muitas vezes resulta num excesso impossível de processar, que deixa de ser informação para passar a ser ruído.
Neste sistema, de múltiplas fontes de informação, das centrais de comunicação e da necessidade de rentabilizar projectos editoriais, surge por vezes uma perversão a que costumamos chamar boato.
O boato é uma notícia que corre publicamente, não confirmada, um rumor. Geralmente, a sua fonte não é divulgada. Fica assim aberta uma autêntica “Caixa de Pandora”, que tudo permite, sem nunca ter de responder perante nada, nem ninguém.
Nos últimos anos, em diversos sectores da sociedade – política, justiça, para citar os casos que assumem maior gravidade – o recurso a esta cobarde perversão tem sido uma constante, sem que a sociedade em geral e o sistema de justiça em particular tenham podido de alguma forma impedir ou sequer travar o fenómeno.
Cai-se assim na situação em que eu ouvi dizer, tu ouviste dizer, portanto como já somos dois deve ser verdade… As provas nunca chegam a aparecer, as evidências são poucas ou nenhumas, a base do boato fica assim pela aparência umas vezes, pela simples existência de oportunidade noutras.
O boato tornou-se assim uma arma de arremesso para a qual poucas ou nenhumas defesas existem. Que afecta, de forma mais ou menos permanente, e com mais ou menos gravidade, a vida daqueles que visa. Estes são, na maioria dos casos que conheço, pessoas que pela sua atitude ou pela sua forma de estar na sociedade têm alguma exposição pública. Já por diversas vezes ouvi dizer que este tipo de coisa acontece a “quem se põe a jeito”. Não posso deixar de discordar veementemente com esta forma de encarar a exposição pública de todos quantos querem ser uma voz na sociedade. A exposição não pode ser pretexto nem desculpa para ataques cobardes, soezes, movidos por interesses pessoais de poder ou contra-poder, ou não raras vezes por pura inveja.
É bom que tomemos consciência de que aquele que lança o boato conta sempre com a nossa cumplicidade; um boato lançado mas que não circula, extingue-se em pouco tempo, como um fósforo. Por outro lado, quando lhe damos eco, quando de alguma forma contribuímos para manter o boato a circular, estamos, por acção ou omissão, a servir os interesses daquele que o lançou mas nunca dará a cara por ele. Ou seja, estamos a tornarmo-nos, nós próprios, reféns de uma estratégia de terrorismo social que mais cedo ou mais tarde se há-de virar contra nós.
Portanto, é bom que cada um de nós pense, quando repetimos algo que não sabemos ou já não nos lembramos muito bem onde e a quem ouvimos, se podemos realmente responder pelo que estamos a dizer; e também que todos aqueles que trabalham com informação, dos quais a face mais visível são os jornalistas, não percam de vista as obrigações de seriedade e rigor a que estão obrigados no âmbito da sua actividade, embora sobre estes recaia um maior escrutínio público; mas que é fácil por vezes “resvalar”, isso é…
A má-língua é instituição nacional desde há muito; mas a irresponsabilidade no seu uso pode e deve ser combatida. Nós podemos!"
Neste sistema, de múltiplas fontes de informação, das centrais de comunicação e da necessidade de rentabilizar projectos editoriais, surge por vezes uma perversão a que costumamos chamar boato.
O boato é uma notícia que corre publicamente, não confirmada, um rumor. Geralmente, a sua fonte não é divulgada. Fica assim aberta uma autêntica “Caixa de Pandora”, que tudo permite, sem nunca ter de responder perante nada, nem ninguém.
Nos últimos anos, em diversos sectores da sociedade – política, justiça, para citar os casos que assumem maior gravidade – o recurso a esta cobarde perversão tem sido uma constante, sem que a sociedade em geral e o sistema de justiça em particular tenham podido de alguma forma impedir ou sequer travar o fenómeno.
Cai-se assim na situação em que eu ouvi dizer, tu ouviste dizer, portanto como já somos dois deve ser verdade… As provas nunca chegam a aparecer, as evidências são poucas ou nenhumas, a base do boato fica assim pela aparência umas vezes, pela simples existência de oportunidade noutras.
O boato tornou-se assim uma arma de arremesso para a qual poucas ou nenhumas defesas existem. Que afecta, de forma mais ou menos permanente, e com mais ou menos gravidade, a vida daqueles que visa. Estes são, na maioria dos casos que conheço, pessoas que pela sua atitude ou pela sua forma de estar na sociedade têm alguma exposição pública. Já por diversas vezes ouvi dizer que este tipo de coisa acontece a “quem se põe a jeito”. Não posso deixar de discordar veementemente com esta forma de encarar a exposição pública de todos quantos querem ser uma voz na sociedade. A exposição não pode ser pretexto nem desculpa para ataques cobardes, soezes, movidos por interesses pessoais de poder ou contra-poder, ou não raras vezes por pura inveja.
É bom que tomemos consciência de que aquele que lança o boato conta sempre com a nossa cumplicidade; um boato lançado mas que não circula, extingue-se em pouco tempo, como um fósforo. Por outro lado, quando lhe damos eco, quando de alguma forma contribuímos para manter o boato a circular, estamos, por acção ou omissão, a servir os interesses daquele que o lançou mas nunca dará a cara por ele. Ou seja, estamos a tornarmo-nos, nós próprios, reféns de uma estratégia de terrorismo social que mais cedo ou mais tarde se há-de virar contra nós.
Portanto, é bom que cada um de nós pense, quando repetimos algo que não sabemos ou já não nos lembramos muito bem onde e a quem ouvimos, se podemos realmente responder pelo que estamos a dizer; e também que todos aqueles que trabalham com informação, dos quais a face mais visível são os jornalistas, não percam de vista as obrigações de seriedade e rigor a que estão obrigados no âmbito da sua actividade, embora sobre estes recaia um maior escrutínio público; mas que é fácil por vezes “resvalar”, isso é…
A má-língua é instituição nacional desde há muito; mas a irresponsabilidade no seu uso pode e deve ser combatida. Nós podemos!"
O podcast pode ser ouvido aqui.
Sem comentários:
Enviar um comentário