No dia 24 de Fevereiro, assim falou...
Uma das características que tenho desenvolvido ao longo dos anos é o respeito pela Natureza. Obviamente, este é um tema a que sempre fui sensível, mas o meu estádio de consciência do peso que fazemos - todos - sobre o meio ambiente tem vindo a evoluir. Por isso me preocupo, nas minhas acções diárias, com este aspecto da nossa existência.
Por outro lado, uma característica que aprecio nas cidades, enquanto sistema de organização e partilha do espaço para viver em sociedade, é a atenção dada pelo gestores dos espaços públicos à integração de elementos naturais no espaço urbano: parques, jardins, ou simples árvores. Não há como não ficar impressionado com o cuidado que estas merecem e com o destaque que lhes é dado em cidades como Paris ou Barcelona, para citar algumas das minhas favoritas nesta matéria.
Por isso me custa tomar conhecimento sempre que uma árvore é cortada na Guarda, a minha cidade. Sei muito bem que a gestão do espaço urbano obriga a cuidados com a segurança que nem sempres são compatíveis com a manutenção destes elementos; mas não compreendo a atitude de quem corta uma árvore e não a substitui por outra! Que é o que aconteceu quando se cortou uma enorme árvore localizada junto à cerca do sanatório; e foi o que aconteceu, mais recentemente, com uma árvore localizada junto à rotunda que existe entre a entrada para o bairro dos Castelos Velhos e o Colégio de São José, nas traseiras de um quiosque.
Li na imprensa local que o Sr. Vice-Presidente referiu ter-se tratado de uma questão de segurança, uma vez que a árvore em causa era já muito velha e apresentava perigo para os edifícios vizinhos. E que nada tinha a ver com as obras que o quiosque localizado ao lado dessa árvore está actualmente a realizar.
A ter sido assim, porque não foi feito o abate da árvore e sua remoção por forma a poder substituir essa árvore por outra? Claro que o facto de passados poucos dias de a árvore ter sido abatida ter sido iniciada uma obra de requalificação (como lhe chamou o Sr. Vice-Presidente) do tal quiosque, requalificação essa que passa pelo alargamento, passando a ficar coberta a área onde outrora estava implantada a árvore é coincidência! De resto isso só prova a celeridade da Câmara na aprovação de projectos de obras, senão vejamos: o promotor vê que o espaço passou a estar disponível porque a árvore que lá estava foi retirada, apresenta um projecto que prevê a ocupação dessa área e passada nem uma semana tem o projecto aprovado e inicia a obra!
É minha opinião que este tipo de edificações devem ser progressivamente eliminadas: ocupa-se espaço público, com edificações, na maior parte das vezes sem qualquer valor arquitectónico, num tempo em que o aparelho comercial e de serviços dá já resposta às necessidades dos cidadãos sem ser necessário o recurso a estas estruturas, que têm como princípio serem precárias, mas que como todos sabemos, de precário nada têm. Concordo que existem direitos que têm de ser acautelados: o daqueles que actualmente exploram esses espaços e que lá realizaram investimentos; mas daí a permitir que não só se mantenham como se alarguem, vai um passo... em direcção ao desastre! Como o que aconteceu com um famoso restaurante da Guarda, cuja sala de refeições se alargou para o passeio público, no qual não é hoje possível passar com um carrinho de bebé ou com uma cadeira de rodas... e isto numa das principais artérias da cidade! Antes lá tivessem plantado uma árvore: mereceriam sem dúvida muito mais respeito daqueles que, como eu, preferem o verde da vida ao cinzento do betão; e que entendem que uma cidade viva não é, com toda a certeza, um amontoado de tijolo, ferro e vidro...
A Câmara Municipal não é dona dos espaços públicos da cidade; é tão só sua guardiã. E isso faz com que seja da sua responsabilidade deixar, no final do mandato, uma cidade melhor que a que encontrou; se no geral, podemos considerar que é assim, neste particular já não se pode dizer o mesmo...
2 comentários:
Eu era cliente desse quiosque...é lógico que vou deixar de ser. Não percebo como se pode querer alargar um negócio à custa de árvores num espaço urbano onde tanta falta fazem.
Excelente crónica! É bom que haja quem dê voz ás nossas árvores. Faltou falar das "podas camarárias" que mais não são do que mutilações levadas a cabo por quem não tem qualquer noção do que é podar uma árvore ornamental.
Essas árvores que mataram e de que fala, também eram minhas... e fazem-me falta todos os dias...
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