terça-feira, 12 de maio de 2009

Títulos...


Portugal é, a muitos títulos, um País singular.

Uma dessas singularidades reside no uso intensivo (e ostensivo) dos títulos, nalguns casos académicos, noutros meramente reverenciais, mas sempre caindo no "Doutor" ou "Engenheiro".

E quantos de nós não conhecem pelo menos meia-dúzia de "doutores" que nunca concluíram qualquer curso superior? Alguns até que nunca puseram os pés numa Universidade?

Lembrei-me desta questão a propósito de umas breves palavras de Guadalupe Simões, do Sindicato de Enfermeiros, que ouvi hoje na TSF a propósito da greve que hoje decorreu. A páginas tantas, a Sra. enumerou os motivos pelos quais os Enfermeiros estão em luta, um dos quais é qualquer coisa como "ser reconhecido na remuneração que os enfermeiros são hoje licenciados e não bacharéis".

Esta (para mim) surpreendente declaração caiu como pedrada num charco. Bem sei que ainda há por aí muito quem tenha este tipo de mentalidade; mas não esperava que uma dirigente nacional desse eco a este tipo de argumento.

A profissão de enfermeiro - como muitas outras, mesmo no sector da saúde - evoluiu imenso ao longo dos últimos anos. Qualquer um de nós reconhecerá que temos hoje na enfermagem pessoal muito mais competente e especializado que há 20 ou 30 anos; mas isso é o caminho natural, de maior exigência e capacidade de formação que um pouco por todo o País e num grande número de profissões tem vindo a ser feito!

Agora no essencial, parece-me que um enfermeiro hoje tem funções semelhantes - e não digo iguais porque todas as profissões evoluem - às do enfermeiro de há alguns anos atrás; o que tem é formação para as desempenhar de forma mais eficiente, informada e consciente. O que é bom para os utentes, mas é bom também para os próprios profissionais. Achar que o facto de o nível médio de formação destes profissionais ter subido nos últimos anos é por si só motivo suficiente para progressão na carreira ou aumento de retribuição deita por terra todo o conceito de meritocracia. Além do que, tratando-se de uma classe profissional maioritariamente ao serviço do Estado, abriria um grave precedente noutras carreiras técnicas, onde o grau de qualificação também subiu. E este subiu em quase todas as profissões; basta pensarmos que ainda não há muitos anos, a escolaridade obrigatória era até ao 6º ano, actualmente é até ao 9º e já se fala de a aumentar até ao 12º...

Já pensaram o que sucederá no sector imobiliário quando os pedreiros fizerem grave reinvindicando aumento de retribuição porque são hoje mais qualificados do que os seus pares de há 10 ou 15 anos atrás? É que o facto de dominarem o teorema de Pitágoras facilita-lhes imenso os cálculos das esquadrias...

1 comentário:

Anónimo disse...

O problema é exactamente esse que descreve. O precedente foi aberto, pelo que apenas se exige equidade e o cumprimento de promessas antigas.