Esta foi a crónica que passou na rádio a 29 de Abril; dada a data, o tema era praticamente incontornável e tem a minha visão muito particular sobre as celebrações que, ano após ano, nos é dado assistir. Foi assim:
No fim-de-semana passado celebrou-se mais um aniversário sobre a data em que uma coluna militar saiu das Caldas da Rainha em direcção a Lisboa, acção que culminou com a rendição de Marcelo Caetano – à data Presidente do Conselho de Ministros – e a entrega do poder aos Militares. Nesse dia 25 de Abril de 1974 terminou o Estado Novo, o período mais negro e degradante da nossa história recente enquanto Nação.
Nos últimos anos, a celebração desta data tem sido mais ou menos repetitiva, com as cerimónias solenes na Assembleia da República a darem azo, uns dias antes, a todo tipo de especulações sobre o que os vários intervenientes dirão, e nos dias que se seguem, às análises do que se disse, o seu significado, o que se queria dizer e o que se deveria ter dito. E com isto, um cada vez maior número de cidadãos vai-se alheando destas comemorações, ao ponto de parecer uma reunião de amigos, os do costume - em Belém e não uma data em que todos devemos lembrar o significado daquele dia que tanto contribuiu para mudar Portugal e o seu impacto nas nossas vidas, mesmo hoje passados que são 35 anos.
O Portugal de então – magnificamente retratado por António Barreto numa série de programas produzidos para a RTP – está hoje distante e certamente não deixou saudades a ninguém, excepto talvez a meia-dúzia de medíocres…
Mas ainda hoje subsiste a ideia de que, com o 25 de Abril e a instauração do regime democrático que se lhe seguiu, todos ganhámos muitos direitos e nenhuns deveres. E esta é uma ideia perigosa, que está a afastar cada vez mais as pessoas da própria Democracia.
Porque em Democracia, o poder é das pessoas, no pressuposto de que estas cumpram com as suas obrigações de cidadania. E que manifestem as suas opiniões, anseios, mas também as suas críticas nos locais próprios. E não é isso que se verifica. O que se verifica é que é crescente o nível de abstenção nas diversas eleições a que somos convocados para votar; é que num Universo de mais de 800 Pais apenas apareçam na Assembleia Geral da respectiva Associação 20 ou 30; ou que Assembleias Gerais de Associações sem fins lucrativos estejam sistematicamente desertas – à excepção de uns quantos que, por carolice, lá vão mantendo a coisa em funcionamento. Claro que tudo isto acontece quando tudo está bem; porque quando há problemas, lá estão os envolvidos a clamar por que o Governo os ajude, a Associação defenda os seus direitos e que os eleitos cumpram com a sua obrigação e trabalhem em prol de todos os associados. Como se pertencer a uma Sociedade ou Associação apenas confira direitos e não deveres; como se só alguns tenham obrigações, enquanto os restantes apenas gozam de direitos; como se pertencer a uma Associação seja uma espécie de seguro que accionamos quando temos um sinistro…
Como muito bem referiu Ramalho Eanes na semana passada, a verdade é que temos o País que merecemos; aquele para que contribuímos. Não vale a pena culpar apenas os outros; a culpa é de todos. Só quando todos nos dispusermos a dar alguma do nosso tempo a favor do bem comum, a cumprirmos com a nossa parte na vivência de um regime democrático, teremos a legitimidade moral de exigir dos outros. Até lá, somos uma espécie de parasitas da Democracia, que em nada contribuem para a tornar mais forte.
Nos últimos anos, a celebração desta data tem sido mais ou menos repetitiva, com as cerimónias solenes na Assembleia da República a darem azo, uns dias antes, a todo tipo de especulações sobre o que os vários intervenientes dirão, e nos dias que se seguem, às análises do que se disse, o seu significado, o que se queria dizer e o que se deveria ter dito. E com isto, um cada vez maior número de cidadãos vai-se alheando destas comemorações, ao ponto de parecer uma reunião de amigos, os do costume - em Belém e não uma data em que todos devemos lembrar o significado daquele dia que tanto contribuiu para mudar Portugal e o seu impacto nas nossas vidas, mesmo hoje passados que são 35 anos.
O Portugal de então – magnificamente retratado por António Barreto numa série de programas produzidos para a RTP – está hoje distante e certamente não deixou saudades a ninguém, excepto talvez a meia-dúzia de medíocres…
Mas ainda hoje subsiste a ideia de que, com o 25 de Abril e a instauração do regime democrático que se lhe seguiu, todos ganhámos muitos direitos e nenhuns deveres. E esta é uma ideia perigosa, que está a afastar cada vez mais as pessoas da própria Democracia.
Porque em Democracia, o poder é das pessoas, no pressuposto de que estas cumpram com as suas obrigações de cidadania. E que manifestem as suas opiniões, anseios, mas também as suas críticas nos locais próprios. E não é isso que se verifica. O que se verifica é que é crescente o nível de abstenção nas diversas eleições a que somos convocados para votar; é que num Universo de mais de 800 Pais apenas apareçam na Assembleia Geral da respectiva Associação 20 ou 30; ou que Assembleias Gerais de Associações sem fins lucrativos estejam sistematicamente desertas – à excepção de uns quantos que, por carolice, lá vão mantendo a coisa em funcionamento. Claro que tudo isto acontece quando tudo está bem; porque quando há problemas, lá estão os envolvidos a clamar por que o Governo os ajude, a Associação defenda os seus direitos e que os eleitos cumpram com a sua obrigação e trabalhem em prol de todos os associados. Como se pertencer a uma Sociedade ou Associação apenas confira direitos e não deveres; como se só alguns tenham obrigações, enquanto os restantes apenas gozam de direitos; como se pertencer a uma Associação seja uma espécie de seguro que accionamos quando temos um sinistro…
Como muito bem referiu Ramalho Eanes na semana passada, a verdade é que temos o País que merecemos; aquele para que contribuímos. Não vale a pena culpar apenas os outros; a culpa é de todos. Só quando todos nos dispusermos a dar alguma do nosso tempo a favor do bem comum, a cumprirmos com a nossa parte na vivência de um regime democrático, teremos a legitimidade moral de exigir dos outros. Até lá, somos uma espécie de parasitas da Democracia, que em nada contribuem para a tornar mais forte.
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