quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Alguém anda a meter água...


O Jornal Correio da Manhã trazia hoje a notícia de que a empresa Águas de Portugal trocou este ano 34 dos seus mais de 400 carros; dizia o jornal que se tratava de "veículos de alta cilindrada" afectos aos administradores.
Confesso que o formato tablóide do jornal e a forma como referiram os tais "veículos de alta cilindrada" me fez desconfiar um pouco do conteúdo hipotética notícia; muitas vezes se fazem títulos que depois pouco têm a ver com a realidade.
De qualquer forma, do pouco que ouvi, achei um bocado desajustado trocar viaturas caras num momento como o que vivemos; achei que administradores de empresas públicas não deveriam ter o despudor de gastar assim o dinheiro dos contribuintes - que é injectado aos milhões naquela e noutras empresas altamente deficitárias. Já os 400 carros referidos como pertença da empresa, apesar de significativo, dei o benefício da dúvida: atendendo ao nº de participadas e extensão do território, se calhar não são assim tantos...
Mas à hora de almoço ouvi mais notícias sobre este assunto e fui procurar mais dados. E o que descobri deixou-me indignado:
- a empresa (holding) Águas de Portugal trocou neste ano, efectivamente, 34 viaturas afectas a administradores;
- o parque de 400 carros não inclui os carros de serviço (!!!); neste número estão apenas incluídos os carros atribuídos para serviço e uso pessoal de administradores, directores e alguns quadros técnicos;
- a empresa tem sido referida nos últimos anos pelo Tribunal de Contas como descapitalizada e altamente deficitária;
- uma das políticas para redução de despesas adoptada recentemente pela administração da empresa foi o congelamento dos salários.
Ora, estes dados todos juntos fazem todo o sentido e deixaram-me completamente indignado.
Como é que alguém pode ter o despudor de congelar salários - a medida mais estúpida e brutal que pode ser tomada em matéria de política salarial - e gastar mais de 700.000 Euros anuais em viaturas para a administração? As pessoas, que são quem produz, quem diariamente contribui para os resultados, ficam em prioridade atrás dos carros dos administradores? Quem é esta gente que governa as nossas empresas públicas...?
Depois, que gente é esta que não ganha o suficiente para comprar um carro?
Que empresa é esta que tem 400 carros para administradores e directores, num país com as dificuldades que se conhecem?
Com este estado de coisas, não admira que periodicamente ouçamos dizer que a empresa é deficitária e que as tarifas têm de ser revistas... Pudera!

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