segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Foguetório


Não vai ainda longe o tempo em que a vida cultural de um grande número de aldeias por todo o País consistia em 1 ou 2 festas anuais. Nestas ocasiões, quebrava-se a rotina do resto do ano - que consistia apenas em trabalho, de sol a sol, e um ou outro bailarico na tasca ao sábado à tarde - e toda a gente participava na festa. Durante os dias em que esta(s) durava(m), o povo reunia a família e amigos, cozinhavam-se iguarias, dançava-se, bebia-se. Para depois regressar á rotina.

Mas isto era há anos atrás. E, como referi, principalmente em meios mais pequenos, onde o défice de acctividades culturais dava a estas manifestações uma enorme importância para quem as vivia.

Hoje, apesar de ainda existirem festejos deste tipo um pouco por todo o país, já não têm nem a importância nem a afluência de outros tempos.

Por isso me custa um bocado perceber que se façam festejos com este figurino na Guarda: acontece no Bairro de São Domingos, na Póvoa do Mileu e no Bairro da Senhora dos Remédios (estes pelo menos são os que me lembro). Podem representar muito para quem lá vai, mas francamente acho pobre, nos dias de hoje, numa cidade com a oferta cultural como tem a Guarda, que se faça uma festa que consiste essencialmente em música, carne assada e bebidas em copos de plástico.

Porém, como só lá vai quem quer, até era suposto este ser um Post sobre um assunto que não me diz respeito! Do tipo: "Não gostas, não vais, que também não fazes lá falta nenhuma, seu pés-de-chumbo!!!". Não fora um pequeno - grande!!! - pormenor: o foguetório.

Confesso que sábado deitei-me um bocado tarde. E que gosto de me levantar lá pelas 10 ao Domingo, dormir até um pouco mais tarde. Este é de resto um prazer que invoco quando me convidam para um passeio de BTT, que geralmente são aos Domingos de manhã. E neste Domingo, acordado pelo foguetório, fui privado do meu pequeno prazer, o que me chateou um bocado. Mais ainda quando não encontro qualquer motivo para esse incómodo: era assim tão difícil fazer uma festa sem foguetes? Era assim uma mudança tão grande?

É que se nas festas das aldeias de há uns anos, como disse, eram dias em que toda a gente participava, o mesmo não acontece em nenhuma destas festas que citei: o número de pessoas da Guarda que lá vão é baixíssimo. Por que é que todos temos de levar com o barulho do foguetório logo pela manhã? E não tinha sido proibido, durante a época de fogos florestais, o uso de foguetes?

Francamente, acho muito bem que as pessoas façam as suas festas e que quem quer se vá lá divertir, se isso as satisfaz. Mas gostava que se começasse a abandonar esta coisa dos foguetes, que não tem utilidade nenhuma a não ser fazer barulho, privando alguns do descanso a que têm direito, assustando todo o tipo de animais (domésticos e selvagens) e pondo (desnecessariamente) em perigo a floresta.

Por isso, a lei que obriga a licenciar este tipo de actividade - refiro-me ao lançamento de foguetes - deve ser entendida como uma excepção à regra; e a regra deve ser respeitar as pessoas e o seu direito a usufuir do ambiente.

4 comentários:

Anónimo disse...

É no fundo uma imensa falta de respeito por quem trabalha noite fora, por doentes, crianças e todos os que precisam descansar. Ridículo, desnecessário, perigoso e enervante.

Anónimo disse...

Pois é mesmo assim,infelizmente e que eu saiba os foguetes estão proibidos por lei. Mas o mais caricato é que à tarde, pelas quinze horas quando deitavam o foguetório em Alfarazes - essa também custa a perceber: a festa é no Bairro, mas quem a promove é de Alfarazes - acendeu-se um pequeno foco de incêndio numas ervas secas facilmente apagável por duas pessoas. Havia cerca de 50 mirones a "observar" de braços cruzados, mas foi preciso ir o carro do Comando, dois camiões e o helicóptero. (Eu vi porque se me contassem diria que era piada.) Pergunto: quem paga todo o aparato? O(s) responsável(eis) vai ser obrigado a pagar as despesas do "espectáculo"? Lá irá sair do nosso bolso. Concordo consigo: será que não é possível fazer uma festa sem foguetes, especialmente em tempo de Verão?

trepadeira disse...

Ainda bem que estão aí pela Guarda e podem fazer tal comentário.Se estivessem aqui pela Vale do Mondego,em Santa Maria de Porco(agora rebaptizada Aldeia Viçosa)corriam o risco de ter a junta mais três ou quatro apaniguados aos berros e insultos,misturados com ameaças,à porta de casa.
Claro que hoje os foguetes não fazem nenhum sentido.Estamos fartos de protestar.Aqui são lançados na Pascoela,no meio do monte,perto da Capela da Srª. do Carmo,dentro do Parque Natural da Serra da Estrela e Rede Natura 2000!O sítio onde são lançados está considerado,pelo PO do PNSE como zona de conservação específica,sendo tais atitudes gravemente lesivas.
Acresce que os foguetes são lançados na época de nidificação das aves,destruindo a capacidade germinativa dos ovos e afugentando os progenitores.
Tal situação parece não conseguir sensibilizar as autoridades que tudo vão permitindo.Legal ou ilegalmente.
Vamos esperar que não piore.
mário

Rui Ribeiro disse...

Ao anónimo das 22.08: partilho consigo a indignação por acontecimentos como o que refere. Não é aceitável - nem sequer compreensível - que se brinque com o Fogo em determinadas alturas. Um incêndio na sequência do lançamento de foguetes, nestas circunstâncias, é na minha opinião um crime. E como tal, os autores deveriam ser responsabilizados, incluindo-se aqui os responsáveis máximos das entidades que o licenciaram e/ou permitiram.