domingo, 10 de junho de 2012

Crónica Diária - Rádio Altitude

Crónica de 18 de Abril:


"Na semana passada, a Câmara da Guarda resolveu reunir o Conselho Municipal de Educação. Trata-se de um órgão relativamente desconhecido, que ninguém parece saber quando foi reunido a última vez, variando as opiniões entre 2005 e 2006 – isto num órgão cujo regimento em vigor determina que reúna ordinariamente no início e fim do ano escolar! É órgão presidido pela Câmara da Guarda na figura do seu presidente, tratando-se de um órgão consultivo da Câmara em matéria de educação, cujas resoluções não são vinculativas e onde estão representados os diversos tipos de instituições envolvidos em matérias de educação – desde professores a assistentes operacionais, IPSSs, forças de segurança, Pais, etc. 
Os motivos principais da reunião foram 2: o encerramento de mais escolas do 1º ciclo na Concelho e a reorganização dos agrupamentos de escolas do Concelho. No que toca às escolas do 1º ciclo, de novo nos surgem algumas cujo nº de alunos é inferior a 22 (para a soma dos 4 anos), razão de se equacionar o seu encerramento. Embora ele vá, nalguns casos, sendo adiado, é muitas vezes quase inevitável. É difícil defender-se uma escola na plena aceção da palavra com um nº de alunos tão baixo; e com tendência a baixar ainda mais. E se é difícil de explicar por aqui, mais difícil ainda é perceber esta realidade num gabinete em Lisboa, rodeado de milhões de pessoas num raio de 10 ou 15 km. Ouvi há tempos, da boca de um Presidente de Junta do Concelho da Guarda, algo que define plenamente a tragédia que assola as nossas aldeias: dizia este Presidente de Junta que ele e outros colegas se defrontam com o encerramento das escolas das suas aldeias, ao mesmo tempo que com a necessidade de alargar os cemitérios. Dando uma imagem perfeita de para onde caminha o interior. Primeiro as localidades mais pequenas, a que se irão seguindo outras um pouco maior, até restar apenas um aglomerado macrocéfalo que poderá um dia ser a capital de um país completamente deserto, que a sua força centrífuga criou, de tanto puxar as energias – e os cidadãos – para o seu centro. Felizmente vão, aqui e ali, surgindo alguns movimentos que contrariam esta tendência predadora relativamente ao interior. 
O segundo assunto tratou da intenção do Governo de agrupar ou reagrupar escolas, criando escolas maiores. Para dar um exemplo, na Guarda poderão agrupar-se escolas de cerca de 1400 e 800 alunos, ficando no seu lugar uma nova escola com 2200 alunos. Pessoalmente, tenho as maiores reticências face a estes agrupamentos. Percebo bem a necessidade de mais eficiência na gestão de recursos e na logística, da existência de uma plataforma partilhada de equipamentos e procedimentos; mas parece-me que faria sentido equacionar soluções de unificação de back-office das escolas em detrimento da mera fusão de escolas. 
Um dos motivos pelos quais pretendo continuar a viver por cá é a educação e formação dos meus filhos. E nesta, um dos aspetos que tenho valorizado é o facto de conhecer as pessoas que os apoiam nas escolas, professores e pessoal auxiliar; de saber os seus nomes. E de me sentir reconhecido por eles. E este é um aspecto que vejo seriamente ameaçado com os agrupamentos que agora se anunciam. 
Na minha opinião, ambas as questões enfermam da visão de um conjunto de pessoas que não conhece outra realidade que não seja a das grandes estruturas: grandes escolas, em grandes aglomerados de população, com grande nº de recursos envolvidos. Porém, completamente descaracterizados, despersonalizados. E esquecendo que não é essa a nossa vivência, a das gentes das regiões mais afastadas das grandes cidades. 
Na Guarda, os ritmos são diferentes. Porque não moramos todos num bairro – apesar de cabermos num bairro de Lisboa, e precisamos de espaço e tempo para vivermos. Mas essa parece ser uma lógica que escapa a quem decide nestas matérias, admito que por ignorância, que terá como efeito que, mais dia menos dia, tenhamos mais alguns dos inconvenientes das cidades de maior dimensão, sem as respetivas vantagens. E na hora de equacionarmos se vale a pena cá continuar a viver, a nossa decisão poderá levar ao fecho de mais escolas, e ao alargamento dos cemitérios…"

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