sábado, 26 de maio de 2012

Crónica Diária - Rádio Altitude

Crónica de 21 de Março:


"Na onde de austeridade que percorre o país, há claramente um elo mais fraco: as regiões do interior. Como sabemos, são regiões em muitos casos demograficamente deprimidas, onde o aparelho empresarial é escasso, o que as lança numa espiral de atraso relativamente às regiões do Litoral que todos temos tentado combater mas cuja receita passa mais por tentativa e erro do que por metodologias testadas e comprovadas. No caso da Guarda – aqui visto como Concelho – os fatos são conhecidos: o último Censos indica-nos um decréscimo de população (se fosse hoje, tenho para mim que o retrato seria bastante pior), uma estrutura etária com prevalência de grupos mais velhos e qualificações abaixo da média. Apesar de nos últimos anos se ter tentado reverter esta tendência com recurso nomeadamente ao investimento público, a verdade é que essa opção tarda em dar frutos. Se a Guarda é hoje um Concelho bem equipado – é atravessado por 2 autoestradas, tem um parque escolar com boas condições, um novo Hospital que esperamos possa brevemente entrar em funcionamento, uma sala de espetáculos moderna e funcional, infraestruturas desportivas razoáveis, quer em número quer em qualidade, Tribunais com boas condições, para citar os mais óbvios – é cada vez maior a dificuldade em fixar cá novas famílias, em fixar cá jovens qualificados. As ofertas de emprego são muito escassas e as oportunidades de negócio para os mais empreendedores esbarram muitas vezes num ambiente hostil ao estabelecimento de novas empresas. A verdade é que olhando objetivamente, a Guarda pode dar todas as condições aos jovens para se cá fixarem: oferece boas condições de vida para jovens casais criarem os seus filhos, existe boa mobilidade, está a 3 horas de qualquer uma das capitais ibéricas – ou seja, no centro de um mercado com 50 milhões de habitantes – e aparentemente tem espaço para crescer. E digo aparentemente porque, nalguns casos, chegam-nos queixas de empresários que sentem enormes dificuldades em fazer cá crescer as suas empresas, nuns casos, ou simplesmente iniciar a sua atividade, noutros. É certo que existe um Parque Industrial, mas não existe um Parque de Negócios para empresas mais pequenas, do comércio ou dos Serviços. De resto, se calhar só eu acho que seria necessário implementar uma solução destas, já que nunca ouvi nada sobre o assunto à Associação Comercial ou ao Núcleo de Empresários, sempre mais preocupados em apresentar uma agenda própria do que em envolver-se em projetos comuns, a julgar pelo que temos visto nos últimos anos… Há espaços onde pode ser feito; há Instituições, como o Politécnico e as escolas secundárias e profissionais que têm todo o interesse em se envolver num projeto destes. Mas não vejo qualquer vontade de desenvolver um projeto destes. Da incubadora de empresas ouço falar há anos, sem que até hoje alguém tenha conseguido levar esse projeto a bom porto. E no entanto, são estruturas que por exemplo nos países do norte da europa existem há dezenas de anos e sobre os quais ainda hoje se tentam novas abordagens e formas de atuação, não ficando a olhar para os sucessos passados para justificar a sua existência. Volto assim a um tema que periodicamente aqui trago: a falta de estratégia. É necessário defini-la para o Concelho. Faz-nos falta, na hora de distribuir os poucos recursos que ainda vamos tendo. Faz falta ao poder, para poder fazer as escolhas acertadas e faz falta aos cidadãos para avaliarem o poder e lhe reconhecerem obra. Só poderá não fazer falta aqueles para quem a falta de memória dos eleitores é o maior ativo na hora de serem avaliados…"

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