quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Hotel de Turismo


Falei do tema há já algum tempo (aqui).

Embora na altura já tivesse mais ou menos a mesma opinião de hoje sobre este negócio, achei que ainda assim o assunto merecia, da minha parte, o benefício da dúvida.
Mas hoje já nem isso dou: o negócio da venda do Hotel de Turismo da Guarda ao Turismo de Portugal foi um mau negócio para a Câmara, para o Estado e para a Guarda.
Para a Câmara porque não rentabilizou um Património ao nível do seu verdadeiro potencial (à altura da venda; hoje as contas são outras, apesar de terem passado escassos meses...); e porque a falta de transparência no negócio afeta seriamente a sua credibilidade.
Para o Estado, porque assumiu um compromisso e numa altura em que não tem capacidade financeira para investir vê-se na obrigação de cumprir o acordado com a Câmara da Guarda, ficando na posse de um Património em que dificilmente investirá nos próximos tempos - como era sua intenção à altura da aquisição (pelo menos quero acreditar que sim...).
E para a Guarda, por que verá um Património, arquitetónico e afetivo, degradar-se à medida que o tempo passa, numa zona da cidade de grande nobreza dignidade.
Sejamos claros: nos dias de hoje, com a oferta de que a Guarda dispõe a nível hoteleiro, já não fazia qualquer sentido a Câmara da Guarda manter a exploração do Hotel, ainda por cima com prejuízos de exploração crónicos. Da mesma forma que não faz sentido que agora essa exploração passe para o Estado.
Há obviamente a salvaguardar um Património importante da Guarda: o edifício do hotel e aquilo que ele representa em termos de memórias para a cidade. Mas isso poderia ser salvaguardado contratualmente.
O processo de alienação deveria ter passado por um concurso público, com regras claramente definidas, onde qualquer interessado pudesse fazer a sua melhor oferta. 
Era necessária a salvaguarda da traça do edifício? Impusesse-se essa condição! Vejam, a título de exemplo, o magnífico trabalho de recuperação de um edifício histórico convertido em Hotel nos casos do Palácio da Lousã ou, num segmento mais exigente, no Palácio do Freixo!
Era estrategicamente relevante a Escola de Hotelaria? Veja-se como essa valência coexiste com a iniciativa privada neste caso.
Em todo o caso, dever-se-ia ter preferido a iniciativa privada à solução adotada, que não se sabe muito bem no que irá dar... E, ao que se sabe, candidatos até foi havendo: José Luís Almeida, com investimentos na hotelaria bem sucedidos foi o primeiro de que ouvi falar; mas também um grupo de empresários da cidade, entre os quais Pedro Tavares, se mostraram interessados no negócio sem que, ao que dizem, a Câmara tenha valorizado o seu interesse...
Agora, a meio-caminho de passar para as mãos de um proprietário sem capacidade de investimento, sem vocação para esse investimento e que é provavelmente o proprietário que pior trata o seu Património em Portugal, quase que me apetece que se cumpra o pedido de Álvaro Amaro a Pedro Passos Coelho, quando este passou pela Guarda na última campanha eleitoral: que "NÃO PAGUE!!!".
Talvez assim o negócio se desfaça e a Câmara ainda vá a tempo de emendar a mão e fazer o negócio como deve ser: impondo as condições que salvaguardem o interesse da cidade num concurso público onde quem demonstre ter mais e melhor iniciativa possa tomar conta do Hotel e devolver-lhe a dignidade que ele merece!

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