sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Crónica Diária - Rádio Altitude

A crónica de 11 de Janeiro, a primeira de 2012 foi:


"Quando iniciamos um novo ano, fazemo-lo sempre com a esperança que seja melhor que o anterior. Pela parte que me toca, este ano não é assim. Encaro com preocupação o que aí vem. E como adivinho um ano difícil, decidi desde já que tudo vou fazer para que valha a pena. Para que, no fim do ano, possa olhar para trás e perceber a realização de algo importante, que um ano é muito tempo para se desperdiçar! Quando os recursos são escassos – ou pelo menos, mais escassos do que o habitual – é importante planear para os aproveitar o melhor possível, para não perdermos de vista os nossos objectivos e não nos dispersarmos com entusiasmos momentâneos. É isto que fazem as grandes organizações para responder aos momentos difíceis que têm de atravessar; e é isto que a Guarda tem de fazer: concentrar esforços, energia e recursos em objectivos verdadeiramente estratégicos. Quando falo da Guarda, falo obviamente de todos nós, que cá moramos e cá trabalhamos; que nos esforçamos todos os dias por construir uma cidade melhor. Mas obviamente cabe às instituições que gerem a cidade criar o consenso necessário para que todos possam dar o seu contributo. Na minha opinião, existem 3 vectores fundamentais de atuação para que a Guarda possa nos próximos anos desenvolver-se por forma a criar condições quer para os que cá vivem e fazem negócios, quer para aqueles que necessariamente terá de cativar a virem para cá. O primeiro é a imagem. É necessária uma política de imagem sobre a qual assente toda a comunicação. Quer passe pela neve, pelo frio, pela montanha, pelo arroz doce ou por qualquer outro atributo, é urgente uma definição e passar a trabalhar em cima dela. A comunicação de eventos que atingiram já alguma projeção nacional – o julgamento do galo, nos eventos de rua, a programação do TMG na área cultural ou a Invernal de BTT no Desporto são alguns exemplos de atrações que só terão a beneficiar de um denominador comum em termos de imagem! O segundo vetor é o ambiente para os negócios. Há falta de iniciativa privada na Guarda. O que abre as portas aos tentáculos do poder político, que a tudo chega. É necessário inverter esta lógica e a melhor forma é permitir aos empresários que façam aquilo que sabem fazer – negócios – num ambiente de transparência. Regras claras, bem definidas e prazos razoáveis para a apreciação de pedidos é tudo quanto é preciso. Não se podem esperar meses por uma licença para realizar obras; nem semanas para pedidos que são renovados anos e anos a fio. Criem-se as regras, divulguem-se e façam-se aplicar em prazos curtos e que sejam sempre, mas sempre cumpridos. Dêem-se sinais claros de que na Guarda, o cidadão ou o empresário que cá queira investir, sabe exatamente com o que conta. Porque hoje não é assim e a falta de estabilidade, a incerteza, é algo que afasta quem quer investir. Havendo investimento haverá a criação de postos de trabalho e de riqueza, que é do que todos precisamos para uma cidade melhor. O terceiro vetor é iberização da cidade; embora este possa em muito cruzar-se com o primeiro que enunciei, pela sua importância estratégica merece o devido relevo. Neste ponto devo dizer que, para fazer justiça, têm sido dados passos importantes na afirmação da Guarda como Hub ibérico ao nível económico, mas também ao nível cultural. É necessário que esse trabalho seja mais bem divulgado e explicado aos cidadãos e que se continue a apostar nele como forma de afirmação da região numa realidade cada vez mais aberta a novos conceitos territoriais. Se somos a cidade portuguesa mais central da península, é importante capitalizar esse activo. E isso faz-se transformando esse atributo em oportunidades de negócios e em ações que melhorem as condições de vida da sua população. A aposta deve pois ser em projetos com impacto nestes 3 vectores. Tudo o resto, ainda que sejam oportunidades, apenas servirá para desviar recursos daquilo que, no futuro, poderá diferenciar a Guarda das outras cidades do País. Está pois na hora de dizer, como no jogo: Cavalheiros, façam as vossas apostas!"

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Hotel de Turismo


Falei do tema há já algum tempo (aqui).

Embora na altura já tivesse mais ou menos a mesma opinião de hoje sobre este negócio, achei que ainda assim o assunto merecia, da minha parte, o benefício da dúvida.
Mas hoje já nem isso dou: o negócio da venda do Hotel de Turismo da Guarda ao Turismo de Portugal foi um mau negócio para a Câmara, para o Estado e para a Guarda.
Para a Câmara porque não rentabilizou um Património ao nível do seu verdadeiro potencial (à altura da venda; hoje as contas são outras, apesar de terem passado escassos meses...); e porque a falta de transparência no negócio afeta seriamente a sua credibilidade.
Para o Estado, porque assumiu um compromisso e numa altura em que não tem capacidade financeira para investir vê-se na obrigação de cumprir o acordado com a Câmara da Guarda, ficando na posse de um Património em que dificilmente investirá nos próximos tempos - como era sua intenção à altura da aquisição (pelo menos quero acreditar que sim...).
E para a Guarda, por que verá um Património, arquitetónico e afetivo, degradar-se à medida que o tempo passa, numa zona da cidade de grande nobreza dignidade.
Sejamos claros: nos dias de hoje, com a oferta de que a Guarda dispõe a nível hoteleiro, já não fazia qualquer sentido a Câmara da Guarda manter a exploração do Hotel, ainda por cima com prejuízos de exploração crónicos. Da mesma forma que não faz sentido que agora essa exploração passe para o Estado.
Há obviamente a salvaguardar um Património importante da Guarda: o edifício do hotel e aquilo que ele representa em termos de memórias para a cidade. Mas isso poderia ser salvaguardado contratualmente.
O processo de alienação deveria ter passado por um concurso público, com regras claramente definidas, onde qualquer interessado pudesse fazer a sua melhor oferta. 
Era necessária a salvaguarda da traça do edifício? Impusesse-se essa condição! Vejam, a título de exemplo, o magnífico trabalho de recuperação de um edifício histórico convertido em Hotel nos casos do Palácio da Lousã ou, num segmento mais exigente, no Palácio do Freixo!
Era estrategicamente relevante a Escola de Hotelaria? Veja-se como essa valência coexiste com a iniciativa privada neste caso.
Em todo o caso, dever-se-ia ter preferido a iniciativa privada à solução adotada, que não se sabe muito bem no que irá dar... E, ao que se sabe, candidatos até foi havendo: José Luís Almeida, com investimentos na hotelaria bem sucedidos foi o primeiro de que ouvi falar; mas também um grupo de empresários da cidade, entre os quais Pedro Tavares, se mostraram interessados no negócio sem que, ao que dizem, a Câmara tenha valorizado o seu interesse...
Agora, a meio-caminho de passar para as mãos de um proprietário sem capacidade de investimento, sem vocação para esse investimento e que é provavelmente o proprietário que pior trata o seu Património em Portugal, quase que me apetece que se cumpra o pedido de Álvaro Amaro a Pedro Passos Coelho, quando este passou pela Guarda na última campanha eleitoral: que "NÃO PAGUE!!!".
Talvez assim o negócio se desfaça e a Câmara ainda vá a tempo de emendar a mão e fazer o negócio como deve ser: impondo as condições que salvaguardem o interesse da cidade num concurso público onde quem demonstre ter mais e melhor iniciativa possa tomar conta do Hotel e devolver-lhe a dignidade que ele merece!