terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Crónica Diária - Rádio Altitude

No dia 8 de Dezembro, a minha crónica no Altitude foi assim:

"Durante toda a semana passada, a Guarda vestiu-se de branco! De segunda a sexta, a semana inteirinha. Apareceu, aos olhos de quem cá vive e de quem a visitou, radiante na sua alvura, transformando os dias sombrios que vínhamos vivendo sob a ameaça da vinda do FMI – que é o lobo-mau dos nossos dias – em dias luminosos, que encantaram todos aqueles que se permitiram olhar a paisagem através de uma janela, aqueles que saíram de casa para comungar com a Natureza que nos presenteou com tanta generosidade. A neve tem o condão de sempre “amaciar” a paisagem agreste desta nossa zona serrana, de arredondar as arestas dos rochedos, de disfarçar o cinzento que no inverno a domina.
Acredito que nem toda a gente a tenha admirado desta forma, mas se há coisa sobre a qual já não tenho ilusões é a capacidade de a nossa sociedade gerar consensos; mais ainda quando se trata de bens públicos.
Que a neve também traz transtornos; atrasos; nervos que vêm da nossa recorrente incapacidade em lidar com um fenómeno ele próprio recorrente na nossa cidade. Mas ainda assim, há quem, como eu, insista em dar ao lado mais belo e positivo do fenómeno a relevância que ele merece e que aqui me permito sublinhar.
Do lado negativo, temos de reflectir sobre ele para podermos mitigar os seus efeitos. Em dias como os da semana passada, tudo o que faz parte da rotina nos falha: os transportes, as escolas dos nossos filhos, a nossa mobilidade dentro da cidade, para citar os mais óbvios. Se do lado das entidades competentes em matéria de protecção civil, todo o esforço físico dispendido por muitos homens e mulheres o é por vezes em vão, essencialmente por falta de um planeamento que permita mais rapidez na detecção e actuação de casos previsíveis, o mesmo se pode dizer de cada um de nós, cidadãos. A maior parte das pessoas que conheço, eu próprio incluído, sente-se por vezes perdido nas decisões que tem de tomar em dias como os que vivemos na semana passada.
Mas da minha experiência, posso assegurar que um mínimo de planeamento faz toda a diferença; se terça-feira o início do dia foi complicado pela falta de planeamento a que me referi, tendo passado os 2 dias seguintes a pensar qual a melhor solução para dar resposta aos cenários que se adivinhavam para quinta e sexta feira, estes correram muito melhor por culpa do planeamento antecipado. Ou seja, como eram previsíveis vários cenários, foi fácil no início de cada dia decidir em função das condições que encontrámos. E assim desapareceu boa parte das dificuldades que costumo ter em dias de nevão e, mais importante, as angústias que com elas vêm! Transformando esses 2 dias em dias quase-normais; permitindo-nos melhor aproveitar a beleza que nos rodeou! E tudo porque em casa eu e a minha mulher dedicámos pouco mais de meia hora a traçar cenários previsíveis e respectivas formas de actuação! Estou pois convencido que este é o caminho para enfrentarmos com crescente normalidade os nevões com que a natureza nos vai presenteando. E, já agora, o caminho para cada vez mais os podermos apreciar na sua beleza e tirarmos deles o máximo partido.
A neve não é uma novidade para a Guarda; há que saber enfrentá-la tranquilamente, naturalmente. Das entidades oficiais, espero uma actuação cada vez mais atempada, profissional e fiável, na medida em que me permita antecipar quais os recursos de que vou dispor em dias de neve. Os transportes públicos são um deles; a interdição da circulação a veículos pesados sem equipamento adequado para circular com neve é outra. Mas neste campo, a fazer fé nas últimas notícias conhecidas, as coisas vão melhorar.
A seguir, é connosco. É a nossa atitude que tem de ser diferente e essa passa por cada um de nós individualmente.
Porque no dia em que, estando sob nevão, a Guarda seja notícia porque as pessoas tiram partido da neve, da sua beleza, com um mínimo de perturbação das suas vidas, passaremos a dispor de um Activo importantíssimo: uma capacidade de atracção cujos frutos a Guarda merece. Um activo que em vez de ser um mero “Cidade Neve” oco e sem qualquer aderência à realidade possa ser um “Cidade com Neve” que projecte a imagem de bela Cidade de Montanha que sempre fomos."


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