quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Crónica Diária - Rádio Altitude

Nesta quarta-feira, a minha crónica no Altitude:

"A propósito dos ataques de especuladores de que Portugal tem sido alvo, por via de ataques à moeda única europeia, tenho ouvido de diversos quadrantes da vida política e económica defender a tese de que os países da União Europeia, nomeadamente França e Alemanha que são os seus motores, deveriam ser mais solidários com os países em maiores dificuldades, os chamados periféricos, ou PIGS, nos quais estamos obviamente incluídos. A tese assenta no facto de que a União Europeia, nomeadamente na sua vertente de União Monetária deve sinalizar claramente aos agentes externos que quem ataca um dos seus membros, ainda que seja o mais fraco – como parece ser o caso – ataca a todos por igual. No fundo, deve dar-se ao mundo – aos mercados – a ideia de que os países da União Monetária são os mosqueteiros do papel-moeda: Um por todos, e todos por um.
É uma tese simpática e, na posição em que nos encontramos, não temos muito espaço para discordar dela… Pessoalmente, parece-me também que uma União só faz sentido para partilhar bons e maus momentos; ou não é nos maus momentos que percebemos que são os nossos verdadeiros amigos?
Daí vermos os nossos políticos clamando por solidariedade perante os “grandes” da União Europeia.
Só que, ao ver esta atitude, da parte de quem nos governa – ou de quem deveria fazê-lo – não posso deixar de me questionar: “E cá? E as gentes de Portalegre, Castelo Branco, Guarda, Bragança, com indicadores de desenvolvimento sócio-económico que deveriam envergonhar todos os que passaram pelos Governos após a entrada de Portugal na União Europeia? Onde está a solidariedade nacional com estas zonas mais “enfraquecidas” do nosso país? Como é que apelamos à solidariedade de gente que está a 3.000 km de distância, se a não temos de outros que estão a 300?
Com a situação difícil que atravessa o País, fomos chamados a fazer sacrifícios; mas esses sacrifícios são distribuídos por forma a fomentar uma harmonização das condições de vida nas diferentes regiões? Não me parece. O único critério tem sido o rendimento e é igual para quem está em Lisboa ou na Guarda. Claro que os primeiros podem pôr os filhos num Conservatório público a estudar gratuitamente, ao passo que eu pago anualmente um valor de propinas superior ao Ordenado Mínimo Nacional.
Temos tratamento igual quando percorremos um Km de auto-estrada, mas temos tratamento diferente quando se trata de prioridades no investimento público.
Não podemos ter 2 pesos e 2 medidas, quando falamos em solidariedade; não podemos entender os nossos deveres com ligeireza e esperar que outros cumpram os deles escrupulosamente.
Na situação difícil que atravessamos, ficamos com a sensação que os do costume poderiam fazer muito mais para reduzir despesa; que há muita mordomia que cheira ao bafio do Estado-Novo, que não tem cabimento no Portugal moderno que andamos a vender em pacote com a nossa dívida externa.
Que só existe porque o silenciamento das vozes incómodas ainda é o modus operandi de alguns, que nada são fora da política."

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Provérbios

"Ninguém olhe para si, que se entorta" é um provérbio popular de que me lembrei há pouco enquanto dava uma vista de olhos pelas últimas crónicas diárias no Altitude.
Serei o único a lembrar-me dele?
Será que também sou tão cego quando me olho ao espelho, não percebendo os defeitos que tão sagazmente aponto a outros...? Acreditem que é uma pergunta perturbadora.
Para a qual gostava de uma resposta séria. Que só eu posso dar.

Crónica Diária - Rádio Altitude

Retomo a transcrição das crónicas quinzenais no Altitude; no passado dia 5, foi assim:

"Por esta altura, a praxe dita que comece esta minha crónica desejando a todos os ouvintes um Bom Ano. Pelo que sabemos, o velho lugar-comum de desejar amor, saúde e dinheiro este ano não vai ter aplicação, pelo menos no que ao dinheiro diz respeito. Pode ser que possamos passar a valorizar mais o amor e a saúde, cujas cotações têm andado um bocado em baixa, como agora ouvimos por aí…
É também nestas alturas que fazemos Balanços das realizações dos anos anteriores e formulamos objectivos para o ano que agora se inicia. E assim aproveito para partilhar com todos os meus desejos para a Guarda, apesar das limitações orçamentais que todos conhecemos.
A regeneração do Centro Histórico é algo que nos devem há muito; têm sido feitas algumas intervenções no domínio público, mas no domínio privado está muito por fazer. É preciso procurar, criar ou exigir que quem de direito crie mecanismos que permitam uma intervenção mais profunda, uma verdadeira regeneração. Mesmo sem condições para realizar obra, é necessário que se planeiem intervenções, dando também um sinal aos investidores privados de que o Centro Histórico mudará, para que o abandono a que actualmente se encontra votado possa num futuro próximo ser apenas uma má memória. Nesta regeneração, a Praça Velha tem de ter um papel central; por isso é importante que o ar de abandono e desprezo que hoje se lhe conhece seja radicalmente alterado; e que se assuma que a pavimentação de que recentemente foi alvo foi um erro colossal que urge ser corrigido.
Outro trabalho de reflexão e planeamento que deve ser feito é encontrar um destino a dar ao espaço que ficou livre com o fecho da Delphi. Admito que estejam em cima da mesa várias soluções para aquele espaço; sei que se trata de um imóvel privado. Mas deve ser prioritário evitar a todo o custo a degradação daquele conjunto de edifícios e os contágios que daí advirão. Porque em urbanismo, a degradação física evolui muitas vezes para outros vectores da sociedade, como uma doença infecciosa… Considero pois importante que se encontre um destino digno para aquele espaço, que de igual forma dignifique aquela zona da cidade.
Numa perspectiva mais económica, faço votos para que as empresas e empresários da Guarda estejam bem preparados para o ano difícil que aí vem. Estou perfeitamente convencido que aqueles que apostaram na internacionalização dos seus negócios são os que menos vão sofrer, porque têm uma base de clientes mais alargada e o impacto da contracção da economia será menor para estas empresas. É certo que não há modelos de gestão milagrosos, mas é em momentos difíceis que mais torço para que os audazes sejam bem sucedidos. Porque a audácia em tempos difíceis requer mais valor!
Para terminar, desejo que os guardenses olhemos mais para os aspectos positivos da nossa cidade e nos orgulhemos deles. Devemos ser exigentes, mas não ao ponto de perdermos de vista tudo o que de bom a cidade nos oferece: tempo, proximidade com a Natureza, qualidade do ar e, não esqueçamos, neve. Porque contrariamente ao que às vezes alguns querem fazer crer, a Guarda é a única cidade da região Centro onde neva a sério. E desse reconhecimento, não podemos abdicar. Quanto à Natureza, gostaria de ver as pessoas mobilizadas em torno da resolução dos problemas de poluição do rio Noéme. O que se lá passa é um atentado à Natureza, à cidade que tem aquele rio a correr aos seus pés, a todos nós. Algo que devia encher de vergonha as entidades competentes, que têm repetidamente assobiado para o lado em face de um crime. Existe uma petição pública na Internet, blogues sobre o assunto, discussões nas redes sociais, etc. Participe se puder."

Mais um ano...

Tenho andado arredado.
Daqui, e de outros fóruns. Apesar do optimismo com que sempre encaro as dificuldades, da atitude positiva que me caracteriza, passei o final de ano num estado quase-depressivo. Dir-me-ão "Ó Rui!!! Também não é caso para tanto, pá. Até nos temos aguentado bem, não achas?"
Pois, o problema é que não acho. E isso preocupa-me. Angustia-me. Por mim. E também pelos meus filhos. Que voltas darei para lhes explicar o sucedido, se a coisa correr mal?
Temos aguentado bem? A troco de quê? Que analgésicos são estes que andamos a tomar e que efeitos secundários terão? Eu não sei; ninguém me explica. Duvido mesmo que alguém saiba com precisão.
Portanto, sendo assim, o que não tem remédio, remediado está.
Já chega de angústia. Está uma noite bonita, vista da janela da sala onde escrevo, com um nevoeiro a pairar baixinho no vale aqui em frente, a fazer lembrar o mar. Pelo menos isso ninguém leva. Dos males, o menos!