A minha crónica de 30 de Abril:
"De entre a catadupa de más notícias que ultimamente temos recebido, foi quase sem surpresa que soubemos na semana passada que o chefe de Governo apresentou ao Presidente da República a demissão. Em qualquer país democraticamente evoluído, isto criaria nos cidadãos apreensão e preocupação, levando-os a envolverem-se. Como já nos tinha sido anunciada tantas vezes e há tanto tempo, a notícias chegou-nos sem grande surpresa. Como o fim de uma longa espera, que percebemos com alívio. O cenário mais provável é o de eleições antecipadas; e neste, atrevo-me a antecipar – ou pelo menos desejar – que as pessoas se mobilizem para votar em massa, para fazer uma opção clara, contrariando os elevados níveis de abstenção que se têm verificado em eleições anteriores. Mesmo sabendo que as eleições legislativas são das que mais mobilizam os eleitores… Mesmo não tendo sido divulgadas ainda propostas concretas, é importante que elas sejam conhecidas, discutidas, clarificadas. Porque há escolhas importantes para fazer. A situação das nossas finanças públicas é, como se sabe, muito delicada; exige que se tomem medidas musculadas, quanto mais depressa melhor. Sabemos que Portugal tem vivido acima das suas possibilidades e isso não era dramático num cenário de crescimento da economia mundial, porque existiam recursos financeiros abundantes e baratos que podíamos ir utilizando para sustentar os nossos vícios. Sabemos também que muitos desses recursos financeiros baratos que fomos utilizando eram, afinal, enormes bolhas especulativas. Que quando rebentaram percebemos terem afinal muito menos substância que aquela que o seu invólucro permitia adivinhar… E foi quando se percebeu que os tais recursos financeiros não eram assim tão abundantes que eles deixaram de ser baratos, como sempre acontece na economia real. E ao deixarem de ser baratos, demo-nos finalmente conta que os nossos vícios nos estão a sair demasiado caros e que teremos de passar sem eles; ou, pelo menos, sem alguns… Claro que falo aqui em vícios em sentido figurado, pois muitos deles são indispensáveis para as nossas vidas, como sejam a saúde, o direito à reforma, à educação, etc. O facto de lhes chamar vícios tem mais a ver com a forma como estão organizados do que com a substância em si, que nenhum de nós hesitaria em considerar importante. Assim, as escolhas a fazer serão quanto à forma de moderarmos o nosso apetite – e digo nosso enquanto nação – pelos nossos vícios. Não basta dizermos que temos de gastar menos e melhor; que temos de ser mais criteriosos a aplicar o nosso dinheiro. É preciso perceber exactamente como tornar esses desígnios em realidade, porque será com esta que teremos de passar a conviver no nosso dia-a-dia. Temos de exigir que tudo isto nos seja devidamente explicado, para podermos fazer as nossas opções de forma esclarecida, de acordo com aquilo que achamos que será o melhor caminho para o nosso país. Costuma dizer-se que os momentos de crise acabam por se revelar boas oportunidades de mudança, para quem vê as oportunidades que surgem com as dificuldades. E eu espero que este seja o momento em que de alguma forma os cidadãos se possam reconciliar com a política e se voltem a envolver nela, a participar. Não basta ficarmos à espera que a moralizem, que a elevem, que façam o que quer que seja. Tudo isso está nas nossas mãos; basta chegarmo-nos à frente, envolvermo-nos e darmos a cara pelas nossas opções. Isso sim será o melhor contributo para a moralização e a elevação da política. Deitemos-lhe as mãos!"
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