Comemorámos esta semana 37 anos sobra a data que mais profundamente marcou Portugal nos últimos anos. Na mesma altura em que pela terceira vez na nossa história recente temos em casa os técnicos do FMI auditando as nossas contas com vista a um resgate financeiro.
As televisões brindaram-nos com as habituais entrevistas, ao cidadão comum e a um conjunto de homens que estiveram mais directamente ligados ao movimento que iniciou a revolução – o MFA - dando-nos uma imagem que vai da indiferença de alguns, à crispação de poucos, com o rumo que as coisas tomaram. Acabando, invariavelmente, pela pergunta que há anos ouço ser feita neste dia: “Será que valeu a pena?” Ora, para mim, o facto de a pergunta poder sequer ser feita é, por si só, a melhor resposta. Não são precisas mais palavras.
Tendo passado 37 anos, acho de certa forma natural que as comemorações não assumam hoje a importância que assumiram no passado. Parece-me óbvio, que aqueles que viveram os acontecimentos tenham ficado de tal forma marcados por eles que será sempre um momento central das suas vidas. Para os restantes, dando-se-lhes mais ou menos relevância, faz parte da história. Apenas isso. Com a ressalva de que é o acontecimento histórico que mais reconhecimento tem entre a população.
O momento que vivemos é doloroso: o nosso orgulho, a nossa soberania, os nossos ideais – tudo tem sido posto em causa pela maldita crise. Mas mesmo na situação difícil em que estamos, acho que vale a pena arregaçar as mangas e ir à luta pelo nosso País. Mesmo não sendo tudo aquilo que gostaríamos, ainda assim vale a pena.
Porque, apesar das injustiças, não perdemos a capacidade de nos indignarmos com elas. Porque apesar da pobreza, somos um povo solidário. Porque apesar dos problemas no ensino, continuamos a preocupar-nos em ser melhores, em fazer mais com menos.
O nosso País tem paisagens deslumbrantes, com montanhas que nos esmagam na nossa pequenez, com um mar imenso que nos abre todos os horizontes, com um céu limpo que nos deixa sonhar com dias melhores.
Temos uma planície imensa, que a qualquer hora e em qualquer dia, nos permite escutar o silêncio e encontrarmos a nossa paz; temos montanhas cheias de vida, que a cada ciclo nos lembram que o tempo tudo renova e que o futuro é um símbolo da renovação.
Temos um património gastronómico diversificado, de grandes contrastes, que faz jus à nossa fama de povo engenhoso na hora de enganar as dificuldades. Talvez porque há muito tivemos de ganhar essa capacidade…
Somos um país de gente educada, que em todo o mundo é bem recebida e em quem se pode confiar para os trabalhos mais delicados.
Também em termos económicos, temos do que nos orgulhar: diversas empresas portuguesas são líderes mundiais no seu sector de actividade e a I&D portugueses são cada vez mais considerados pela comunidade científica.
Somos um país em que na generalidade dos lugares, podemos sair de casa a qualquer hora do dia e passearmos por onde quisermos sem que ninguém nos incomode, sem grandes preocupações com a nossa segurança. Onde os amigos aparecem em casa uns dos outros, mesmo sem avisar, e são sempre bem recebidos!
Por tudo isto, eu gosto de Portugal. Gosto de cá viver, embora também gostasse que fosse melhor na justiça, na sáude, na educação.
Ainda assim, acho que vale a pena lutar por ele; para que continue a ser o nosso país, feito à nossa imagem. Tudo isso, pesados todos os aspectos negativos e positivos, vale alguns sacrifícios que de certeza teremos de fazer nos próximos anos.
Mas faz com que o sacrifício seja mais ligeiro. Sinto que no final, vai valer a pena!
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