Ouço dizer cobras e lagartos do Facebook. Mesmo aqui, aos microfones da rádio, tenho ouvido algumas opiniões muito críticas acerca do fenómeno, que obviamente respeito. Parece-me até natural que tal aconteça, tal é a mudança de paradigma de relacionamento que as ditas redes sociais – das quais o facebook é a mais popular, pelo menos no nosso País – vêm trazer.
Pela minha parte, confesso que gosto imenso das possibilidades que as redes sociais me dão de comunicar. De re-encontrar amigos, de reatar elos quebrados, de enviar facilmente uma palavra – um sinal – de que uma pessoa, uma frase, um pensamento chegam a mim, ainda que esse sinal seja um “Like”. Há todavia um princípio básico que uso desde sempre: estou no Facebook como na vida. Dou a cara pelas minhas opiniões, respeito as opiniões diversas, esforço-me por cumprir o que prometo.
Tudo isto vem a propósito da manifestação contra a introdução de portagens realizada na passada segunda-feira na sessão da Assembleia Municipal.
Já aqui havia referido, logo na minha primeira crónica da actual temporada, que considero a introdução de portagens na A23 e na A25 uma traição feita à Guarda. Não concebo como é que responsáveis do Partido Socialista disseram na Guarda que não haveria introdução de portagens nestas 2 vias, foram eleitos com os votos dos cidadãos da Guarda, e agora, perante a anunciada introdução dessas mesmas portagens, assobiam para o lado como se não fosse nada com eles. Como se fosse algo que não lhes diz respeito. Do seu silêncio, apenas posso concluir que este caso passará sem consequências…
Assim sendo, não poderia deixar de me associar ao protesto. O convite surgiu via Facebook. Não sei se devido à facilidade de disseminação da mensagem pelo efeito de networking, se por questão de moda. Não respondi logo, porque tratando-se de uma segunda-feira de manhã, não poderia assumir o compromisso de estar presente sem antes avaliar se no meu local de trabalho teria condições de me ausentarr. Reunidas essas condições, lá me dispus a juntar-me ao protesto logo que me foi possível. Ouvi no caminho, pela rádio, o seu principal dinamizador referir que tinha mais de 200 confirmações no facebook, pelo que previa uma afluência razoável.
Depois de entrar na sala da Assembleia Municipal com ligeiro atraso – embora não tanto como certamente mais de metade dos deputados municipais – apercebi-me de quão poucos eram os manifestantes. Muito longe dos tais 200 esperados. E lembrei-me que de facto é mais fácil clicar em “Vou estar presente” no conforto da sala de estar numa noite de fim de semana e pôr o assunto para trás das costas, do que passar a manhã de segunda feira a correr, para poder dispor de algum tempo para me juntar ao protesto, tempo que no final do dia tive de compensar, que o controlo biométrico de presenças não perdoa.
Uns diziam que, por ser dia de trabalho, muita gente não tinha podido ir; outros falavam na falta de divulgação; entre outros motivos apontados para a baixa afluência. Por mim, só encontro uma explicação: desinteresse. Falta de cultura cívica. A mesma que justifica a elevada abstenção nas útlimas eleições. Ou que estejam presentes 5 ou 6 sócios em assembleias gerais de associações ou clubes com centenas, às vezes milhares, de sócios. Sócios esses que têm sempre uma opinião pronta sobre o que deveria ser feito e ninguém faz.
Não compreendo como numa cidade como a Guarda não se encheu completamente a Galeria pública da sala da assembleia; abro aqui um parêntesis para confessar que, ingenuamente, era esse o meu receio ao chegar atrasado: já não caber na sala. Não percebo porque não foram essas 200 pessoas protestar; ou 100, que fosse… Porque continuo convencido que a maior parte das pessoas é contra as portagens. Não estão é para se maçar por isso!
O séc. XX foi um século de grandes conquistas civilizacionais; que custaram muita energia, às vezes vidas. E hoje, que o mais difícil está feito, parece que já nada consegue mobilizar as pessoas.
A geração dos meus pais, filhos da beira, passou por muitas privações: de educação, cultura, até de alimento; a minha, foi criada com muito mais abundância, embora ainda com a preocupação em gerir com olhos postos no futuro. A dos meus filhos, francamente, não sei que futuro terá. Duma coisa tenho a certeza: colherão aquilo que nós lhes deixarmos semeado. E isso preocupa-me imenso…
Sem comentários:
Enviar um comentário