domingo, 27 de março de 2011

Crónica Diária - Rádio Altitude

Crónica de 16 de Março:

"Notícias recentes na imprensa regional dão conta que a reorganização da rede escolar pública deverá, já no próximo ano, fazer mais algumas vítimas entre as poucas escolas que restam nos meios mais rurais do Distrito.
Sendo o primeiro a concordar com que se dê a todos os jovens oportunidades de aprendizagem em ambiente propício, quer ao nível das condições físicas dos edifícios, quer ao nível da sã convivência entre os alunos, preocupam-me as consequências que o encerramento de escolas vai ter nas aldeias do Distrito.
Se pensarmos que só o Concelho da Guarda tem 55 freguesias, que destas certamente mais de 90% são aldeias, com uma média de 2500 pessoas, rapidamente se conclui a importância que uma simples escola adquire em comunidades tão restritas. Se a isto juntarmos o perfil demográfico dos residentes – evidenciando uma população bastante envelhecida – não é difícil antever a aceleração do processo de morte de algumas destas aldeias.
Com o fecho das escolas, a fraca atractividade das actividades agrícolas na nossa região e a escassez de emprego nas nossas aldeias, os custos de por lá ficar a viver serão brevemente incomportáveis, não restando outra solução aos activos residentes senão a de procurar melhor vida nas vilas ou cidades, num movimento migratório que ditará o fim de muitas dessas aldeias.
Apesar de tudo isto ser mais ou menos evidente, não vejo da parte das autoridades com responsabilidade no planeamento territorial grandes preocupações.
Entre amigos, costumo dizer que o último governante a preocupar-se com a ocupação de todo o nosso território foi D. Sancho I – o que lhe valeu o cognome de O Povoador – e que depois dele poucos foram os que se debruçaram e fizeram esforços nesse sentido.
Razão pela qual hoje temos quase ¾ da população concentrados junto à faixa Litoral, com os custos que daí advêm – assimetrias regionais graves, custos na qualidade de vida das pessoas, custos ambientais, para citar os mais óbvios.
Com a intensificação da migração e o desaparecimento natural dos mais velhos, em menos de 20 anos a maior parte das nossas aldeias ficarão completamente desertas. Cabe-nos pois, reflectir se é este o destino que queremos para elas. E como queremos o nosso Concelho daqui a 20 anos.
A isto chama-se planeamento estratégico e é coisa que não estamos habituados a fazer. São as Comissões de Coordenação Regional que o fazem por nós. Mas participar nas suas decisões, nas Consultas Públicas, é um acto de cidadania. E divulgar essas consultas – ou quaisquer outras forma de participação – é um acto de boa gestão política.
Voltando ao início desta minha crónica, defendo para as crianças uma escola que lhes dê conhecimento e ajude a integrá-las na sociedade. E essa escola não funciona com 10 ou 12 alunos.
Defendo que o nosso Concelho mantenha e tire partido da ruralidade que lhe é característica. E isso faz-se com gente com formação. Que aproveite as condições que o mercado global apresenta para novos modelos de exploração dessa ruralidade.
Vale a pena pensarmos se queremos ter 100 aldeias, a maior parte delas moribundas, ou 30 núcleos de aldeias com gestão conjunta e com vitalidade própria.
Tudo isto de que falo é um processo que está em marcha e há muito se iniciou. Não vai ser possível pará-lo para tomar decisões colaterais. Mas as que forem tomadas condicionarão certamente o resultado final. Por isso, deixo o desafio a agências de valorização territorial e organismos com competência na valorização da envolvente para rapidamente promoverem uma discussão que possa dar resposta a pelo menos algumas destas questões. O Concelho, a suas gentes e a desejável coesão sairão certamente beneficiados."

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