quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Crónica Diária - Rádio Altitude

Hoje pela manhã, a minha crónica foi:

"No fim-de-semana passado, 2 notícias respeitantes a outros tantos eventos locais mereceram a minha atenção.
A primeira – a de que o Governador Civil convidou uma série de personalidades de reconhecido mérito, com raízes na Guarda, para falar sobre o futuro do Distrito – foi, na minha perspectiva, notícia por um bom motivo. Podemos ter todas as reservas a respeito dos resultados que poderão advir da realização do encontro. Até porque, por ser a primeira vez que se faz algo deste género, se poderão criar expectativas irrealisticamente elevadas, que depois são goradas, na medida em que não saíram daquele fórum, dos dados que se conhecem, ideias que venham revolucionar completamente a região da Guarda ou a forma como os locais ou os visitantes se relacionam com ela. Por muito que fosse esse o nosso desejo... Mas há pistas importantes a seguir. Orientações estratégicas que podem servir de farol para a governação da região, que tenho visto tão desnorteada nos últimos anos. Mas há um aspecto que me parece fundamental na realização desta reunião: a imagem que se passou da Guarda. É natural, tratando-se de gente de reconhecidos créditos, que uma reunião destas atraia a comunicação social, nomeadamente as televisões. As imagens que vi associadas ao evento, num Hotel da Guarda no primeiro dia e no Museu de Foz Côa no segundo, são imagens de modernidade, de equipamentos actuais, de uma região com capacidade de organizar eventos mediáticos, de receber condignamente mesmo os mais ilustres. Embora tenha havido quem não tenha conseguido resistir a pespegar a estas imagens outras de uma região feita de gente com mais de 80 anos, bengala e roupa coçada, penso que a mensagem, no todo, foi positiva para o Distrito.
O segundo evento a que me referi no início desta minha crónica foi a tentativa de suplantar o mítico record mundial da confecção do maior tacho de arroz doce do mundo, um desiderato que todos os países do mundo civilizado têm perseguido, havendo mesmo quem afiance à boca pequena que a interrupção do programa de defesa norte-americano “Guerra nas Estrelas” foi decidida para poder concentrar esforços na confecção de um tacho de arroz doce que convencesse o mundo da supremacia clara dos Estados Unidos. Passando a um registo mais sério, apesar de a ideia ser mobilizadora e demonstrativa do espírito comunitário que ainda existe nas nossas aldeias – que é um Activo importante a preservar e divulgar – parece-me que neste caso a imagem projectada foi em tudo antagónica à do encontro promovido pelo Governo Civil. Digo isto, mais uma vez, com base nas imagens televisivas que vi do evento: um salão feio, sem mesas, o arroz passado para alguidares plásticos antes de ser servido em taças também plásticas, a equipa de cozinheiros sem trajos adequados, tudo numa imagem de uma enorme falta de gosto. Não quero cometer a injustiça de não reconhecer mérito a quem se esforça por fazer qualquer coisa pela sua terra, às pessoas que trabalharam toda a manhã para que fosse possível alcançar o objectivo que se propuseram; mostraram que, quando motivadas, as pessoas de Aldeia Viçosa são capazes de verdadeiras maratonas de empenho.
Mas não posso deixar de lamentar que a imagem que se passou do evento não seja atractiva para quem a vê por esse país fora. Será de crer que alguém tenha ficado motivado para vir a Aldeia Viçosa depois de ter visto as imagens do evento? Não creio…
Para terminar, atrevo-me a sugerir: não seria mais proveitoso para Aldeia Viçosa e para as suas gentes que, ao invés de ter o maior tacho de arroz doce do mundo, tivesse o melhor arroz doce do mundo…?"

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