Em 7 de Março, a crónica foi:
"As recentes obras de requalificação de algumas das ruas do centro da nossa cidade têm
aspetos que devem, em minha opinião, ser revistos ou melhorados, sob pena de
virem a causar prejuízos pessoais que implicariam responsabilidades para a
Autarquia.
Esta intervenção tem vários aspetos muito positivos para a mobilidade e a preservação estética
da zona mais antiga da cidade. O fato de se estarem a suprimir os degraus nos
extremos das passagens de peões – aquilo que geralmente designamos por
passadeiras – para permitir mais facilmente o atravessamento das vias por quem empurre
um carrinho de bebé ou mesmo quem se desloque em cadeira de rodas é um claro
exemplo daquilo que as cidades podem e devem fazer para permitir aos seus
cidadãos usufruir dos espaços a pé, ao invés de quase os obrigar a andar de
carro no centro da cidade.
Também o alargamento dos passeios, como o que se
verificou por exemplo à porta da Igreja da Misericórdia vai nesse sentido e é
sem qualquer duvida uma mudança muito positiva.
Por outro lado, o uso do granito como material de eleição dá uma imagem coerente à intervenção
e reforça a nossa identidade de cidade de montanha, de região onde o granito
domina, a par com a floresta – ou pelo menos com o que dela resta – a paisagem.
Até aqui, tudo aspetos positivos, mudanças que contribuem para uma melhor imagem da cidade.
Já no que toca à supressão de passeios – como a que ocorreu por exemplo na rua dr. Lopo de
Carvalho – esta levanta-me algumas dúvidas. Não sendo à partida contra a
supressão, parece-me que ela deveria ocorrer num contexto de forte
condicionamento do tráfego automóvel, o que não acontece na rua que citei a
título de exemplo. Trata-se de uma rua com 2 sentidos de trânsito, que é para
além disso quase o único acesso ao lado ocidental da cidade, o que faz com que
tenha bastante trânsito, pelo menos durante o dia. E o que verifico nas minhas
passagens diárias por aquela rua – a pé – é que o fato de não estar claramente
delimitada a via de circulação automóvel e a via reservada aos peões, é causa
de muita insegurança. Porque a rua é relativamente estreita e os automobilistas
tendem a encostar-se mais às casas, deixando ainda menos espaço para os peões
que aquele que os exíguos passeios suprimidos reservavam. Para não falar dos
menos escrupulosos em estacionar bem encostados ás paredes das casas da rua,
obrigando os peões a passar quase pelo meio da estrada. De resto, no limite
pode mesmo aplicar-se a disposição do código da estrada que obriga os
condutores a manter-se o mais à direita possível da via de circulação,
inviabilizando a utilização da rua pelos peões – algo que me parece
completamente contrário à – pelo menos aparente – filosofia da intervenção!
O fato de não haver uma separação física entre a via de circulação automóvel e a via de circulação
dos peões propicia uma utilização da via por parte dos automóveis – neste caso
o elemento mais forte – que pode vir a ser causa de alguns acidentes. E
portanto, mesmo não havendo uma separação tão marcada como a que é feita com um
passeio elevado em relação à via, penso que deve ser estudada uma forma de
delimitar fisicamente área reservada aos peões.
Outra das questões que deve ser revista é a forma como estão a ser assinaladas as
passagens de peões. As anteriores eram constituídas por paralelepípedos
cinzentos e brancos – cores contrastantes que permitiam ao condutor uma
identificação imediata do ponto de travessia. Ainda recorrendo-me da mesma rua
como exemplo, as passadeiras que lá foram construídas são integralmente
cinzentas, em tons ligeiramente diferentes, mas cujo contraste não permite uma
identificação imediata de uma travessia para peões. Duas delas têm pelo meio
caixas de acesso às redes técnicas subterrâneas, pelo que dificilmente alguém
que não conheça a cidade interpretará aquelas áreas como zonas de
atravessamento de peões. Obviamente deverá ainda ser colocada sinalização
vertical; mas eram muito mais visíveis as “passadeiras” anteriores do que as
novas que foram instaladas. E sabendo-se que quantos mais elementos de
prevenção do erro tivermos mais seguro se torna o espaço, penso que com as
atuais passadeiras se desperdiçam recursos, pois a sua forma de construção não
permite identificar imediatamente a sua função.
Deixo pois aqui, aos microfones da rádio, um apelo à autarquia para que reveja estes aspetos e
procure uma solução que sirva os objetivos de melhorar a mobilidade no centro
da cidade sem fazer qualquer cedência à preservação da integridade física dos
peões."
1 comentário:
Ainda bem que fala sobre isto. Concordo inteiramente com o que escreveu.
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