"A Merkozylândia – outrora conhecida como Europa – vive dias conturbados. Os ténues laços de solidariedade entre os Estados têm sido esticados até ao seu limite físico e ameaçam quebrar a qualquer momento. Se é nos momentos difíceis que vemos quem são os nossos amigos, temos agora uma boa oportunidade de os identificar. Se conseguirmos encontrar algum…
A Europa foi uma das mais extraordinárias construções do sec. XX, tendo trazido paz e prosperidade a uma região do globo que ao longo dos últimos séculos tinha sido palco constante de guerras e todo o tipo de manobras hegemónicas. A evolução do seu conceito representou passos de gigante na forma como encaramos a geopolítica nos últimos 20 anos do sec. XX, mas eis-nos agora chegados a um novo desafio: saber até que ponto estamos dispostos a integrar essa construção política.
Considero indispensável que, a muito curto prazo, logo que passe a borrasca da crise financeira que a Europa atravessa, os governos dos países da UE discutam interna e externamente até onde estão dispostos a ir neste projeto. Porque se há coisa que percebemos nos tempos recentes, é que estamos numa situação que nos tem deixado vulneráveis face à força que os “mercados” – algo que apesar de difícil de perceber e identificar, está hoje omnipresente na forma como se faz geopolítica – têm vindo a ganhar num mundo orientado para o consumo como forma de realização de objetivos coletivos e individuais.
Já todos percebemos que não podemos estar dentro quando tudo corre bem e pormo-nos de fora quando as coisas correm mal; e que não podemos um dia querer manter intacta a nossa soberania e no dia seguinte querer interferir na soberania do país ao lado. Se o caminho passa por uma federação de Estados ou por qualquer outra forma de Governo, francamente não estou certo. Mas sei que como estamos não resistiremos muito tempo.
Se por um lado, o nosso futuro passa inequivocamente pelas nossas relações com os demais países europeus, tal não significa que tenhamos forçosamente de pertencer à União Europeia: temos exemplos de outros pequenos Estados europeus que, mesmo fora da EU souberam conquistar um lugar de relevo no panorama internacional e asseguram aos seus povos padrões de vida e civilização de referência.
A nossa saída da EU exigiria um amplo consenso nacional e coragem por parte das lideranças políticas – 2 desideratos que atualmente vejo muito difíceis de alcançar. Mas quando se discute um tema desta natureza e com a importância que este tem, todas as hipóteses devem ser colocadas sobre a mesa e debatidas sem qualquer tipo de preconceito.
A participação dos cidadãos é fundamental e se for por um objetivo que as mobilize, elas responderão certamente. Veja-se o que tem acontecido desde Novembro com os debates promovidos pela Rádio Altitude e o TMG: tratando-se de temas que preocupam os cidadãos e que eles identificam como importantes para as suas vidas, têm respondido aos apelos à participação. Quem tem assistido aos debates sabe bem do que falo: gente interessada e interessante, com coisas importantes para dizer, que quer participar ativamente na construção da sociedade onde vive e que não se limita a ficar a ver os outros fazer ou decidir sobre assuntos que são de todos.
E mesmo quem ocupa lugares de relevo na política regional – ou pelo menos aqueles que se interessam pelo que pensam os munícipes – reconhece a importância e vitalidade destes encontros. Os outros, terão na colheita os frutos do que semearam. Pelo menos, assim espero… "
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