"Em Portugal vivem-se dias de angústias e incertezas.
Incertezas quanto ao futuro do emprego, do “wellfair state” que era um dos desígnios do 25 de Abril que dentro de 3 semanas comemoraremos, quanto àquilo que os próximos tempos nos trarão. Já poucos arriscam prever como será a nossa vida daqui a 2
ou 3 anos, quanto mais daqui a 10…
Mas a agenda mediática de alguns grupos de pressão consegue tirar desta incerteza proveitos que, mesmo para os mais liberais, são no mínimo indecorosos.
Dou como exemplo as declarações de ontem do Presidente da CIP – Confederação Empresarial de Portugal. Como alguns terão ouvido, foi sugerido durante a apresentação do relatório da 3ª revisão do Programa de Assistência Financeira a Portugal que os cortes nos 13º e 14º meses a funcionários do Estado e pensionistas poderão passar a ter de ser permanentes. No mesmo dia, esse responsável da CIP admitiu
à imprensa que esses cortes podem ter de se estender aos privados, cito “em função de uma correta política salarial assente na produtividade” (fim de citação).
A tese do senhor assenta na ideia de que os salários devem refletir os desajustamentos existentes – ou sejam, devem ser desvalorizados em função da produtividade das empresas – e os aumentos devem ser feitos em função não de índices de inflação, mas de ganhos de produtividade.
Num primeiro momento, indignei-me seriamente. Sou trabalhador por conta de outrem e, na minha organização, a maior ou menor produtividade decorre de quem tem competências para definir os processos de produção, não de quem os executa. Ou seja, poderia no limite verificar-se que estaria nas mãos – ou, se quisermos ser mais exatos, na competência – de 5 ou 6 pessoas o facto de 300 serem ou não mais produtivas, independentemente dos seus esforços individuais. Cabe aqui lembrar que diversas multinacionais que atuam em Portugal pagam salários bem
acima da média e, que se saiba, não se queixam de falta de produtividade; queixam-se bem mais da dificuldade de relacionamento com as instituições do Estado – a burocracia – com especial destaque para a justiça. Mas alterações neste pilar fundamental da Democracia, não conhecemos nenhuma… Um exemplo disto que falo é a Autoeuropa, que todos conhecem, cuja fábrica é uma das mais produtivas do Grupo VW.
Mas depois de refletir algum tempo, confesso que me precipitei. E que até concordo com o senhor. Se pensarmos que mais de 90% das empresas em Portugal são Pequenas Empresas, a maior parte destas com menos de 9 trabalhadores, podemos perceber que será fácil aos empresários aumentar a produtividade das suas empresas. Perguntar-me-ão: mas como?
Considerando a produtividade, em termos simplistas, como aquilo que se produz (trabalho) em função dos recursos empregues (salários pagos), temos pelo menos 2 caminhos possíveis: aumentar a produção pagando o mesmo, ou manter a produção pagando menos.
E é aqui que reside a facilidade da coisa: quantas empresas conhecem em que o administrador ganha 3, 4 ou 5 vezes mais que os trabalhadores produtivos? Dir-me-ão que é ele que corre os riscos inerentes ao facto de ser empresário. Mas isso deve ser compensado em remunerações do capital, não em remunerações do trabalho como sucede entre nós. Quantas empresas conhecem que têm nos seus quadros de pessoal a mulher ou filhos do empresário, sem nunca ninguém os ter visto passar uma hora na empresa?
Basta cortar nestas “gorduras”, como agora se chama ao desperdício, para aumentar, nalguns casos significativamente, a produtividade de muitas empresas. E assim pode ser feito o caminho para todos poderem ganhar significativamente melhor!
É verdade que não percebo muito bem como se propõe a CIP convencer os empresários de que este é o caminho a seguir, mas eu acredito que pode ser por aí…
Ou então estou apenas a armar-me em cínico, porque sei muito bem que o que o senhor da CIP queria era uma coisa completamente diferente…"
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