"Os constrangimentos a que as medidas de austeridade em curso no nosso país nos obrigam podem e devem servir para aprendermos a viver de forma diferente, alterando alguns hábitos por forma a gastarmos mais criteriosamente os recursos de que – ainda – dispomos.
Um dos hábitos a
que me refiro é o de passarmos a preocupar-nos mais com a origem dos bens que
consumimos. E a privilegiar nas nossas compras tudo o que seja local.
Estamos
obviamente limitados a grupos de produtos muito restritos, mas ainda assim penso
francamente que este princípio aplicado por grande número de consumidores pode
fazer alguma diferença. Nos restantes produtos, cuja origem tem de ser
forçosamente exterior à nossa região, também devemos privilegiar a compra
local, ou seja, adquiri-los a comerciantes da nossa região. Numa altura de
recessão como a que atravessamos, atitudes como estas podem fazer a diferença
num mercado de reduzida dimensão e cujas fragilidades são bem conhecidas de
todos.
Sabendo que
previsivelmente em 2013 a Balança Comercial portuguesa será, pela primeira vez
em muitos anos, favorável a Portugal, é hora de nos preocuparmos com a nossa
região e pensarmos nela, em termos de mercado, da mesma forma que temos pensado
em Portugal. Existem por cá bastantes produtos com potencial de mercado; alguns
serviços transacionáveis que poderemos aproveitar e que, no conjunto, podem
contribuir fortemente para a consolidação do nosso mercado regional.
Bem sei que uma
campanha como esta deveria ser feita, em primeiro lugar, pelos empresários ou,
pelo menos, pelas estruturas que os representam. Mas essas, aparentemente,
estão mais preocupadas em gerir as suas atividades subsidiadas pelo Estado; ou
então, acham mesmo que este não é um tema que mereça grande atenção, ao
contrário de mim, obviamente.
Uma segunda nota
para comentar a mais recente boutade de Cavaco Silva, quando se lamentou quanto
aos seus rendimentos não serem suficientes para as despesas que tem. É certo
que veio já esclarecer que não queria com as suas palavras pôr-se de fora daqueles
que terão de fazer sacrifícios. E com este esclarecimento, demonstrou
claramente uma de duas coisas: ou não percebeu que o que indignou as pessoas
foi alguém que recebe mais do que a larga maioria dos portugueses vir a público
queixar-se dos seus rendimentos; ou percebeu isso claramente mas resolveu
ignorar o coro de protestos que se tem feito ouvir na imprensa e nas redes
sociais, porque a sua pretensa superioridade moral deve ser ser, no seu
entendimento, suficiente para afastar qualquer pessoa que ouse criticá-lo.
O que é triste é
que Portugal tem um Presidente da República tão cheio de si que, numa altura
difícil, se acha um exemplo para os seus concidadãos. Logo ele, que toda a vida
foi funcionário do Estado, por via direta ou indireta. E que, independentemente
dos seus méritos, viveu nos últimos 20 anos rodeados de privilégios a que
poucos podem ter acesso! Não perceber isto, é não perceber o país em que vive:
um país em que o salário mínimo não chega a 500 Euros e em que mais do que um
em cada dez trabalhadores não encontra emprego!
Voltando ao
início da minha crónica, deixo aqui um apelo aos ouvintes: comprem local. Vamos
tornar a nossa economia mais resistente às dificuldades; e para este desígnio,
todos não seremos muitos. E devemos perceber que não podemos contar com os de
fora para nos desenvolvermos; temos de ser nós a valer-nos uns aos outros,
estimulando o sentido de comunidade e mostrando que se cá continuamos, não é
por mera teimosia. É porque acreditamos em nós!"
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