segunda-feira, 28 de maio de 2012

Crónica Diária - Rádio Altitude

Crónica em 4 de Abril:

"Em Portugal vivem-se dias de angústias e incertezas. Incertezas quanto ao futuro do emprego, do “wellfair state” que era um dos desígnios do 25 de Abril que dentro de 3 semanas comemoraremos, quanto àquilo que os próximos tempos nos trarão. Já poucos arriscam prever como será a nossa vida daqui a 2 ou 3 anos, quanto mais daqui a 10… Mas a agenda mediática de alguns grupos de pressão consegue tirar desta incerteza proveitos que, mesmo para os mais liberais, são no mínimo indecorosos. Dou como exemplo as declarações de ontem do Presidente da CIP – Confederação Empresarial de Portugal. Como alguns terão ouvido, foi sugerido durante a apresentação do relatório da 3ª revisão do Programa de Assistência Financeira a Portugal que os cortes nos 13º e 14º meses a funcionários do Estado e pensionistas poderão passar a ter de ser permanentes. No mesmo dia, esse responsável da CIP admitiu à imprensa que esses cortes podem ter de se estender aos privados, cito “em função de uma correta política salarial assente na produtividade” (fim de citação). A tese do senhor assenta na ideia de que os salários devem refletir os desajustamentos existentes – ou sejam, devem ser desvalorizados em função da produtividade das empresas – e os aumentos devem ser feitos em função não de índices de inflação, mas de ganhos de produtividade. Num primeiro momento, indignei-me seriamente. Sou trabalhador por conta de outrem e, na minha organização, a maior ou menor produtividade decorre de quem tem competências para definir os processos de produção, não de quem os executa. Ou seja, poderia no limite verificar-se que estaria nas mãos – ou, se quisermos ser mais exatos, na competência – de 5 ou 6 pessoas o facto de 300 serem ou não mais produtivas, independentemente dos seus esforços individuais. Cabe aqui lembrar que diversas multinacionais que atuam em Portugal pagam salários bem acima da média e, que se saiba, não se queixam de falta de produtividade; queixam-se bem mais da dificuldade de relacionamento com as instituições do Estado – a burocracia – com especial destaque para a justiça. Mas alterações neste pilar fundamental da Democracia, não conhecemos nenhuma… Um exemplo disto que falo é a Autoeuropa, que todos conhecem, cuja fábrica é uma das mais produtivas do Grupo VW. Mas depois de refletir algum tempo, confesso que me precipitei. E que até concordo com o senhor. Se pensarmos que mais de 90% das empresas em Portugal são Pequenas Empresas, a maior parte destas com menos de 9 trabalhadores, podemos perceber que será fácil aos empresários aumentar a produtividade das suas empresas. Perguntar-me-ão: mas como? Considerando a produtividade, em termos simplistas, como aquilo que se produz (trabalho) em função dos recursos empregues (salários pagos), temos pelo menos 2 caminhos possíveis: aumentar a produção pagando o mesmo, ou manter a produção pagando menos. E é aqui que reside a facilidade da coisa: quantas empresas conhecem em que o administrador ganha 3, 4 ou 5 vezes mais que os trabalhadores produtivos? Dir-me-ão que é ele que corre os riscos inerentes ao facto de ser empresário. Mas isso deve ser compensado em remunerações do capital, não em remunerações do trabalho como sucede entre nós. Quantas empresas conhecem que têm nos seus quadros de pessoal a mulher ou filhos do empresário, sem nunca ninguém os ter visto passar uma hora na empresa? Basta cortar nestas “gorduras”, como agora se chama ao desperdício, para aumentar, nalguns casos significativamente, a produtividade de muitas empresas. E assim pode ser feito o caminho para todos poderem ganhar significativamente melhor! É verdade que não percebo muito bem como se propõe a CIP convencer os empresários de que este é o caminho a seguir, mas eu acredito que pode ser por aí… Ou então estou apenas a armar-me em cínico, porque sei muito bem que o que o senhor da CIP queria era uma coisa completamente diferente…"

sábado, 26 de maio de 2012

Centro Tecnológico

O meu post anterior refere-se a uma crónica que passou na Rádio Altitude em 21 de Março.
Passadas cerca de 2 semanas, em 6 de Maio, ouvimos o deputado Basílio Horta referir em intervenção pública na Guarda, o excelente parque tecnológico que cá temos. Obviamente ficámos todos - ou pelo menos uma grande parte de nós - sem saber a que se referia o deputado Horta. Foi então explicado pela Câmara da Guarda que o deputado se tinha referido não a um equipamento existente, mas um equipamento que iremos ter. Um centro tecnológico que faz parte da PLIE e que servirá de apoio à Incubadora de Empresas.
Obviamente, isto é uma boa notícia. Se alguém que é deputado, foi durante alguns anos presidente da AICEP e até já foi candidato a presidente da República refere publicamente o "excelente parque tecnológico" mesmo antes dele existir, imaginem só os encómios que não lhe fará depois de estar em funcionamento!!!
Eu por mim, só gostava de saber:
1. o que é um centro tecnológico;
2. quando vai estar concluído e posto a funcionar;
3. a que incubadora de empresas dará apoio.

Crónica Diária - Rádio Altitude

Crónica de 21 de Março:


"Na onde de austeridade que percorre o país, há claramente um elo mais fraco: as regiões do interior. Como sabemos, são regiões em muitos casos demograficamente deprimidas, onde o aparelho empresarial é escasso, o que as lança numa espiral de atraso relativamente às regiões do Litoral que todos temos tentado combater mas cuja receita passa mais por tentativa e erro do que por metodologias testadas e comprovadas. No caso da Guarda – aqui visto como Concelho – os fatos são conhecidos: o último Censos indica-nos um decréscimo de população (se fosse hoje, tenho para mim que o retrato seria bastante pior), uma estrutura etária com prevalência de grupos mais velhos e qualificações abaixo da média. Apesar de nos últimos anos se ter tentado reverter esta tendência com recurso nomeadamente ao investimento público, a verdade é que essa opção tarda em dar frutos. Se a Guarda é hoje um Concelho bem equipado – é atravessado por 2 autoestradas, tem um parque escolar com boas condições, um novo Hospital que esperamos possa brevemente entrar em funcionamento, uma sala de espetáculos moderna e funcional, infraestruturas desportivas razoáveis, quer em número quer em qualidade, Tribunais com boas condições, para citar os mais óbvios – é cada vez maior a dificuldade em fixar cá novas famílias, em fixar cá jovens qualificados. As ofertas de emprego são muito escassas e as oportunidades de negócio para os mais empreendedores esbarram muitas vezes num ambiente hostil ao estabelecimento de novas empresas. A verdade é que olhando objetivamente, a Guarda pode dar todas as condições aos jovens para se cá fixarem: oferece boas condições de vida para jovens casais criarem os seus filhos, existe boa mobilidade, está a 3 horas de qualquer uma das capitais ibéricas – ou seja, no centro de um mercado com 50 milhões de habitantes – e aparentemente tem espaço para crescer. E digo aparentemente porque, nalguns casos, chegam-nos queixas de empresários que sentem enormes dificuldades em fazer cá crescer as suas empresas, nuns casos, ou simplesmente iniciar a sua atividade, noutros. É certo que existe um Parque Industrial, mas não existe um Parque de Negócios para empresas mais pequenas, do comércio ou dos Serviços. De resto, se calhar só eu acho que seria necessário implementar uma solução destas, já que nunca ouvi nada sobre o assunto à Associação Comercial ou ao Núcleo de Empresários, sempre mais preocupados em apresentar uma agenda própria do que em envolver-se em projetos comuns, a julgar pelo que temos visto nos últimos anos… Há espaços onde pode ser feito; há Instituições, como o Politécnico e as escolas secundárias e profissionais que têm todo o interesse em se envolver num projeto destes. Mas não vejo qualquer vontade de desenvolver um projeto destes. Da incubadora de empresas ouço falar há anos, sem que até hoje alguém tenha conseguido levar esse projeto a bom porto. E no entanto, são estruturas que por exemplo nos países do norte da europa existem há dezenas de anos e sobre os quais ainda hoje se tentam novas abordagens e formas de atuação, não ficando a olhar para os sucessos passados para justificar a sua existência. Volto assim a um tema que periodicamente aqui trago: a falta de estratégia. É necessário defini-la para o Concelho. Faz-nos falta, na hora de distribuir os poucos recursos que ainda vamos tendo. Faz falta ao poder, para poder fazer as escolhas acertadas e faz falta aos cidadãos para avaliarem o poder e lhe reconhecerem obra. Só poderá não fazer falta aqueles para quem a falta de memória dos eleitores é o maior ativo na hora de serem avaliados…"

quarta-feira, 23 de maio de 2012

No próximo sábado, no TMG...

É o último espetáculo inserido no VII Festival de Música da Beira Interior, de que já falei neste post.
Desta vez, atuarão a Escola Superior de Artes Aplicadas (do Instituto Politécnico de Castelo Branco) e o Conservatório da Covilhã.
A mim, parece-me um bom programa para uma noite de fim de semana. Ide se puderdes!

terça-feira, 22 de maio de 2012

Crónica Diária - Rádio Altitude

Em 7 de Março, a crónica foi:

"As recentes obras de requalificação de algumas das ruas do centro da nossa cidade têm aspetos que devem, em minha opinião, ser revistos ou melhorados, sob pena de virem a causar prejuízos pessoais que implicariam responsabilidades para a Autarquia. 
Esta intervenção tem vários aspetos muito positivos para a mobilidade e a preservação estética da zona mais antiga da cidade. O fato de se estarem a suprimir os degraus nos extremos das passagens de peões – aquilo que geralmente designamos por passadeiras – para permitir mais facilmente o atravessamento das vias por quem empurre um carrinho de bebé ou mesmo quem se desloque em cadeira de rodas é um claro exemplo daquilo que as cidades podem e devem fazer para permitir aos seus cidadãos usufruir dos espaços a pé, ao invés de quase os obrigar a andar de carro no centro da cidade. 
Também o alargamento dos passeios, como o que se verificou por exemplo à porta da Igreja da Misericórdia vai nesse sentido e é sem qualquer duvida uma mudança muito positiva. 
Por outro lado, o uso do granito como material de eleição dá uma imagem coerente à intervenção e reforça a nossa identidade de cidade de montanha, de região onde o granito domina, a par com a floresta – ou pelo menos com o que dela resta – a paisagem. 
Até aqui, tudo aspetos positivos, mudanças que contribuem para uma melhor imagem da cidade. 
Já no que toca à supressão de passeios – como a que ocorreu por exemplo na rua dr. Lopo de Carvalho – esta levanta-me algumas dúvidas. Não sendo à partida contra a supressão, parece-me que ela deveria ocorrer num contexto de forte condicionamento do tráfego automóvel, o que não acontece na rua que citei a título de exemplo. Trata-se de uma rua com 2 sentidos de trânsito, que é para além disso quase o único acesso ao lado ocidental da cidade, o que faz com que tenha bastante trânsito, pelo menos durante o dia. E o que verifico nas minhas passagens diárias por aquela rua – a pé – é que o fato de não estar claramente delimitada a via de circulação automóvel e a via reservada aos peões, é causa de muita insegurança. Porque a rua é relativamente estreita e os automobilistas tendem a encostar-se mais às casas, deixando ainda menos espaço para os peões que aquele que os exíguos passeios suprimidos reservavam. Para não falar dos menos escrupulosos em estacionar bem encostados ás paredes das casas da rua, obrigando os peões a passar quase pelo meio da estrada. De resto, no limite pode mesmo aplicar-se a disposição do código da estrada que obriga os condutores a manter-se o mais à direita possível da via de circulação, inviabilizando a utilização da rua pelos peões – algo que me parece completamente contrário à – pelo menos aparente – filosofia da intervenção! 
O fato de não haver uma separação física entre a via de circulação automóvel e a via de circulação dos peões propicia uma utilização da via por parte dos automóveis – neste caso o elemento mais forte – que pode vir a ser causa de alguns acidentes. E portanto, mesmo não havendo uma separação tão marcada como a que é feita com um passeio elevado em relação à via, penso que deve ser estudada uma forma de delimitar fisicamente área reservada aos peões. 
Outra das questões que deve ser revista é a forma como estão a ser assinaladas as passagens de peões. As anteriores eram constituídas por paralelepípedos cinzentos e brancos – cores contrastantes que permitiam ao condutor uma identificação imediata do ponto de travessia. Ainda recorrendo-me da mesma rua como exemplo, as passadeiras que lá foram construídas são integralmente cinzentas, em tons ligeiramente diferentes, mas cujo contraste não permite uma identificação imediata de uma travessia para peões. Duas delas têm pelo meio caixas de acesso às redes técnicas subterrâneas, pelo que dificilmente alguém que não conheça a cidade interpretará aquelas áreas como zonas de atravessamento de peões. Obviamente deverá ainda ser colocada sinalização vertical; mas eram muito mais visíveis as “passadeiras” anteriores do que as novas que foram instaladas. E sabendo-se que quantos mais elementos de prevenção do erro tivermos mais seguro se torna o espaço, penso que com as atuais passadeiras se desperdiçam recursos, pois a sua forma de construção não permite identificar imediatamente a sua função. 
Deixo pois aqui, aos microfones da rádio, um apelo à autarquia para que reveja estes aspetos e procure uma solução que sirva os objetivos de melhorar a mobilidade no centro da cidade sem fazer qualquer cedência à preservação da integridade física dos peões."

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Crónica Diária - Rádio Altitude

A crónica de 22 de Fevereiro:

"A Merkozylândia – outrora conhecida como Europa – vive dias conturbados. Os ténues laços de solidariedade entre os Estados têm sido esticados até ao seu limite físico e ameaçam quebrar a qualquer momento. Se é nos momentos difíceis que vemos quem são os nossos amigos, temos agora uma boa oportunidade de os identificar. Se conseguirmos encontrar algum…

A Europa foi uma das mais extraordinárias construções do sec. XX, tendo trazido paz e prosperidade a uma região do globo que ao longo dos últimos séculos tinha sido palco constante de guerras e todo o tipo de manobras hegemónicas. A evolução do seu conceito representou passos de gigante na forma como encaramos a geopolítica nos últimos 20 anos do sec. XX, mas eis-nos agora chegados a um novo desafio: saber até que ponto estamos dispostos a integrar essa construção política. 
Considero indispensável que, a muito curto prazo, logo que passe a borrasca da crise financeira que a Europa atravessa, os governos dos países da UE discutam interna e externamente até onde estão dispostos a ir neste projeto. Porque se há coisa que percebemos nos tempos recentes, é que estamos numa situação que nos tem deixado vulneráveis face à força que os “mercados” – algo que apesar de difícil de perceber e identificar, está hoje omnipresente na forma como se faz geopolítica – têm vindo a ganhar num mundo orientado para o consumo como forma de realização de objetivos coletivos e individuais. 
Já todos percebemos que não podemos estar dentro quando tudo corre bem e pormo-nos de fora quando as coisas correm mal; e que não podemos um dia querer manter intacta a nossa soberania e no dia seguinte querer interferir na soberania do país ao lado. Se o caminho passa por uma federação de Estados ou por qualquer outra forma de Governo, francamente não estou certo. Mas sei que como estamos não resistiremos muito tempo. 
Se por um lado, o nosso futuro passa inequivocamente pelas nossas relações com os demais países europeus, tal não significa que tenhamos forçosamente de pertencer à União Europeia: temos exemplos de outros pequenos Estados europeus que, mesmo fora da EU souberam conquistar um lugar de relevo no panorama internacional e asseguram aos seus povos padrões de vida e civilização de referência. 
A nossa saída da EU exigiria um amplo consenso nacional e coragem por parte das lideranças políticas – 2 desideratos que atualmente vejo muito difíceis de alcançar. Mas quando se discute um tema desta natureza e com a importância que este tem, todas as hipóteses devem ser colocadas sobre a mesa e debatidas sem qualquer tipo de preconceito. 
A participação dos cidadãos é fundamental e se for por um objetivo que as mobilize, elas responderão certamente. Veja-se o que tem acontecido desde Novembro com os debates promovidos pela Rádio Altitude e o TMG: tratando-se de temas que preocupam os cidadãos e que eles identificam como importantes para as suas vidas, têm respondido aos apelos à participação. Quem tem assistido aos debates sabe bem do que falo: gente interessada e interessante, com coisas importantes para dizer, que quer participar ativamente na construção da sociedade onde vive e que não se limita a ficar a ver os outros fazer ou decidir sobre assuntos que são de todos. 
E mesmo quem ocupa lugares de relevo na política regional – ou pelo menos aqueles que se interessam pelo que pensam os munícipes – reconhece a importância e vitalidade destes encontros. Os outros, terão na colheita os frutos do que semearam. Pelo menos, assim espero… "